XXXVIII - O fogo

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Anima

Ignisian gritara na sua cabeça, a alertando da fumaça que vinha da floresta, pouco antes de aparecer para juntas tentarem apagar a chamas. Eu só aprendi a lançar fogo, não apagar! Anunciou Anima para a companheira.

Você sabe os movimentos, precisa tentar! O fogo não pode se espalhar!

Quanto a isso estavam de acordo, porém ainda tinha receio de dependerem da sua tentativa para proteger as árvores.

Quando chegaram na origem da fumaça, encontraram uma extensa linha de chamas que avançava para dentro da floresta. Era impossível aquele fogo ter começado sozinho, no meio da mata úmida, o que logo a deixou em alerta. Cuidado, falou para a dragão, pode ser uma armadilha...

É claro que é! Devem ter descoberto sobre aquele imimoya gravenar...

A guardiã franziu a testa, lembrava de uma história de Groleo sobre isso, mas não entendeu a relação com a situação atual. Contudo, não havia tempo para grandes questionamentos.

A dragão pousou no meio de árvores caídas que ainda pegavam fogo, por sorte nenhuma delas iria se ferir com isso. Anima escorregou pela lateral do corpo da companheira e, assim que firmou os pés no chão, posicionou as mãos na frente do corpo, com a de cima em punho sobre a palma da outra. Se concentrando, as separou verticalmente e abriu os braços horizontalmente.

Para sua tristeza, mas não surpresa, nada aconteceu.

Ao seu lado, Ignisian sugava as chamas, sendo pouco eficiente considerando o tamanho do incêndio, no entanto progredindo muito mais do que a garota. Tentou mais dezenas de vezes, o máximo que alcançou foi apagar as chamas de poucos metros ao seu redor.

Não era capaz de apagar aquele fogo... Não conseguia impedir a destruição... Parou de lutar fisicamente em Rarqueval e poucos segundos depois destruíra um exército sozinha... Agora que realmente deveria usar seus poderes para fazer algo sem contradições, unicamente bom, sua magia falhava...

Hiems

Colocou a caixa cheia de objetos egüeses no chão, se levantou e viu Ignisian passando voando pela fortaleza. No horizonte, havia uma mancha cinza crescente. Págon? Falou mentalmente com o companheiro que provavelmente estava em algum lugar da cidade fantasma abaixo da fortaleza. Não acha que é melhor irmos dar uma olhada naquilo? Parece fumaça...

Você acha que eu sou algum tipo de transporte seu? Rebateu seriamente o dragão.

Não, é que... O guardião não esperava por aquela resposta. Eu pensei que...

Mas repentinamente Págon pousou à sua frente lhe interrompendo. Foi uma brincadeira, esclareceu ele seriamente.

Hiems franziu o cenho e subiu no companheiro. Em alguns instantes chegaram numa grande linha de fogo que se estendia por algumas centenas de metros, possivelmente por alguns quilômetros. Eu não sei o que é isso, afirmou o dragão, mas sinto que devemos pará-lo... Vou tentar pousar entre as árvores que ainda estão de pé, está bem?

Certo... O guardião não tinha muito o que dizer. Já estava muito mais quente do que na fortaleza e temia que um dos dois saísse ferido. Ainda assim, realmente precisavam fazer algo, não via Anima ou Ignisian em lugar algum e o fogo avançava na direção leste cada vez mais.

Com dificuldade, Págon alcançou o chão por entre as árvores em um local um pouco distante do incêndio, já que era o único em que cabia por entre a vegetação e era mais seguro do que entrar direto do meio das chamas. Hiems caminhou à frente e assim que encontrou o fogo, já suando muito, bateu com o punho cerrado direito na palma da mão esquerda para lançar gelo sem uma direção específica.

Para a sua surpresa, os dois elementos colidiram quase que sem um alterar o outro. O fogo se quer se abalava, independentemente de quanto poder utilizasse. Já seu gelo atingia as árvores que carbonizavam e demorava um bom tempo para começar a derreter.

Eu não entendo... Págon soava confuso enquanto os dois tinham que se afastar pelo avanço e calor das chamas.

Hiems viu Hélinmir e Mizu passando por cima de sua cabeça. O que acha de você tentar cuspir gelo por cima? Sugeriu ao companheiro.

O dragão concordou e ambos correram para a pequena clareira onde tinham pousado. Segundos depois, os dois voavam alguns metros sobre as chamas com Págon dando seu máximo para soltar a maior quantidade de gelo que conseguia pela boca. Para Hiems parecia que aquele era o maior esforço que o companheiro havia feito desde que nascera poucos meses atrás — ainda que tivessem passado recentemente por uma batalha.

Porém, tristemente, o incêndio continuava, sem que tivessem conseguido impedi-lo de avançar um mísero metro...

Semepolhian

Depois de diversas tentativas falhas, Mizu e Hélinmir voaram de encontro parando um ao lado do outro.

— Estou tentando impedir as árvores de cederem! — Gritou Emmethorion. — Mas não dá!

— A água também não está sendo eficiente! — Relatou o dragão das águas.

— Parece até que toda magia é inútil! — Concluiu o da floresta.

Semepolhian sentiu quase como um estalar na sua cabeça antes de dizer:

— Tive uma ideia!

E perguntou mentalmente ao companheiro: Mizu, você aceita tentar fazer isso?

Não, respondeu ele com receio, mas vamos lá.

Os dois voaram para cima até chegar bem alto, perto das nuvens. Não se mexa muito, pediu ao amigo.

Claro, respondeu ele, eu só estou nos mantendo no ar a centenas de metros do chão, por que eu me mexeria?

Semepolhian riu nasalado e com muita cautela ficou de pé sobre as costas do dragão. A guardiã abriu os braços e começou a girá-los ao redor do corpo e sobre sua cabeça.

Você acha que eles são capazes de fazer um fogo que não apaga com magia? Perguntou ela sem parar de fazer o movimento.

Eles eu acho que não, mas se estiverem com ele... De qualquer forma, se você só concentrar a umidade das nuvens, a chuva não é nossa... Não é magia... Vai dar certo... Não vai?

Espero que sim...

A imimoya fechou os olhos se concentrando mais e, quando sentiu que a água ao seu redor estava quase no máximo de concentração, começou a girar no sentido horário sobre as costas de Mizu que passava a girar no antihorário. A possibilidade dela escorregar das costas estreitas do companheiro era alta, porém já estavam unidos há muito tempo e tinham sintonia suficiente para realizar aquela magia... Cujos resultados não eram mágicos, certo?

Aos poucos a chuva começou a cair até se tornar uma tempestade bem forte. Os dois pararam e a guardiã voltou a se sentar para que observassem as condições seguintes. Lentamente, as chamas iam cedendo à água e, finalmente, o fogo cessou.

No entanto, a felicidade durou poucos segundos. Mais especificamente até o dragão dizer: Sem... Se o fogo apagou, então porque a floresta toda morreu?

A imimoya olhou em volta encontrando um horizonte coberto de árvores secas e sem vida. Sim, tinham acabado com a fonte dos problemas, porém agora haveria um muito maior para resolver.

Se antes restava alguma dúvida, agora já era evidente. A única resposta que Semepolhian conseguiu dar ao companheiro foi: Não estamos mais seguros na floresta...

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