XXIX - Humanos - Silena

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Silena andava ao lado de Borotraz. Estavam sem comer já fazia um tempo, sem roupas preparadas para o frio do voo e o dragão não era acostumado a permanecer tanto tempo assim no ar, principalmente sem ingerir ao menos água. Portanto, era mais seguro andar.

Eu posso lançar uma magia para fazer passar sua fome. Sugeriu ele.

Já fizemos isso... Rebateu a garota. Vamos ficar ainda mais fracos do que pela falta de comida.

O companheiro abaixou a cabeça mirando a terra. Estavam passando por uma grande plantação sem nada ao redor além de trigo. Por um lado, podiam ver qualquer coisa que se aproximasse bem antes de ser uma ameaça perigosa demais. Por outro, também estavam visíveis, ainda mais por um deles se tratar de um dragão suficientemente grande para chamar bastante atenção, apesar de suas escamas serem de cor próxima à do cereal.

Não fazia nem dois meses que prometera aceitar o ritmo rápido de envelhecimento do pai. Depois disso, estava se esforçando para se agarrar com toda força a figura do tio, o qual não teria o problema de idade. Porém, ficara chateada com ele e agora nem poderia mais discutir, já que fora levado pelos nakoushiniders insanos e estava sozinha com Borotraz com o único objetivo de chegar até a Floresta de Vingüeval.

Suspirou desapontada. Se tivesse nascido normal, estaria em sua cidade com idade suficiente para estar casada e ter filhos. Se até a vigésima quinta contagem, cada uma correspondia a quatro anos, então como estava com vinte e duas contagens, já estaria com oitenta e oito anos... Quase o suficiente para já ser suficiente...

Não. Pensou consigo mesma. Tenebrisen sempre me disse que devia ter orgulho e acreditar no que sou... Suspirou. E olha o que isso resultou para ele...

Não. Não. Se forçou a pensar em outra coisa. Por sorte, ou não, uma pequena vila apareceu na visão deles. Era um sinal ruim, pois aquilo significava pessoas, o que potencialmente também significava nakoushiniders. Entretanto, era tão pequena, tão no meio do nada, que parecia valer o risco de se aproximar para tentar encontrar algo para comer.

Olhou para Borotraz que entendeu o que ela planejava e os dois caminharam sorrateiramente até a casa mais afastada das outras.

Havia um pequeno cercado com alguns porcos. Mas apesar da fome, Silena ainda não tinha coragem para matar o animal. O dragão discordou, então a menina sugeriu que se ele quisesse algo, que fizesse por ele mesmo, já que ela iria tentar entrar na casa e pegar ao menos um pão, que deveria existir considerando a quantidade de trigo ao redor.

Sendo assim, os dois se separaram. Silena caminhou até a porta da casa sem um plano em mente. Afinal, se algo desse errado, tinha seus poderes para lhe ajudar.

Abriu e fechou a porta da pequena cabana de madeira, rapidamente entrando no local. Contudo, para sua surpresa — ou nem tanto — encontrou um homem que a encarava confusa.

Antes que ele pudesse reagir, juntou o polegar e o mindinho e passou verticalmente pelo ar de cima para baixo. Instantaneamente, o dono da casa perdeu a consciência e Silena correu para segurá-lo para que não se machucasse ao cair no chão.

Olhou em volta procurando por algo que pudesse comer. Abriu e fechou armários e encontrou meio pão que colocou dentro da parte de cima da blusa que usava. Tentou encontrar mais alguma coisa, porém, temeu que estivesse lá tempo demais, o que foi confirmado com batidas na porta e um grito chamando por "Rendal" — que Silena concluiu ser o homem que fizera desmaiar há pouco.

A guardiã tremeu ao pensar nas possibilidades do que aconteceria em seguida. Contudo, simplesmente não conseguiu reagir quando abriram a porta duas mulheres e um homem que logo se afastaram para inquirir:

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