XLI - Destinos - Sirius

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Sirius virou a página do livro para Balírion, que havia sido curado por Silena e Borotraz, e voltou a folhear rapidamente o que trazia em mãos. Como dragões sabiam ler o que seus companheiros lhe passavam, os quatro chegaram ao acordo de que os guardiões iriam olhar e selecionar os livros que poderiam conter alguma informação útil e passariam esses para os reptilianos que leriam com mais cuidado, já que, ainda que pudessem entender, tinham dificuldade em passar as páginas.

Já era o segundo dia que estavam sentados do lado de fora da casa tentando encontrar algo que ajudasse a entender melhor sobre o Espírito da Floresta, mas até então não tinham tido o menor progresso. Ainda que aquela situação envolvesse os últimos acontecimentos, Sirius havia ficado feliz em poder se concentrar em algo objetivo, sem ter que deixar seus pensamentos soltos. Porém, a pilha de volumes já estava quase no fim e o melhor que tinham conseguido era um livro sobre a história da floresta em alguma língua humana que, segundo os da cura, não tinha nenhuma informação que pudesse ajudá-los.

Há alguns metros do garoto, Silena fechou mais um exemplar e colocou no monte daqueles que não ajudavam soltando um longo suspiro de decepção.

— Não vai dar em nada essa pesquisa, vai? — Questionou a garota desiludida.

O guardião da floresta suspirou também e coçou o olho cansado.

— Talvez... — Começou. — Talvez a gente não tenha olhado direito...

A da cura lhe olhou por cima dos olhos e não teve que dizer "é sério isso?" para ele entender.

— Não acha que se tivesse realmente algo aqui ele teria nos dito? — Perguntou ela com gentileza repentina.

Sirius não respondeu, olhando em volta o monte de livros espalhados pela grama seca que pinicava a pele. Do outro lado, a garota se levantou encarando os outros três um por um.

— Anda... — Disse com o tom de quem fala aquilo que todos já sabiam, mas não queriam admitir. — Está na hora de irmos...

Ela tinha razão, sabia disso, mesmo que por dentro ainda quisesse evitar um pouco mais. Se levantou também e começou a recolher os livros em silêncio atípico. Em pouco tempo, todos os exemplares estavam de volta nas prateleiras no mesmo lugar de antes, o que fora facilitado pela mania do garoto de organização. Sirius prendeu o cinto com as bainhas da espada e da adaga, prendendo nele também a aljava com as flechas especiais e passou o arco pelo seu ombro. Já Silena pegou uma bolsa de couro onde colocou o livro com a localização dos yenkwen e antes do meio dia estavam os quatro do lado de fora da casa encarando a figura de Skinhago entalhada na madeira.

Calma, esse lugar não vai sair daqui... Disse Balírion em sua mente. Qualquer coisa a gente dá um jeito de voltar...

O guardião agradeceu a fala do companheiro pensando que havia dito isso a si mesmo quando saíra da cabana. E até hoje...

Adentraram a mata de árvores grandes e secas em direção ao leste, deixando para trás a clareira que surgiu no lugar da planta que fora engolida pelo solo. Conforme a vegetação ficava mais densa, formaram uma fila para facilitar a locomoção, com Balírion na frente, seguido de Sirius, Silena e, por último, Borotraz. Assim que partiram, o guardião da floresta começou a conversar mentalmente com seu companheiro sobre qualquer coisa que viesse na cabeça de um deles, aliviando a ansiedade que sentia.

Porém, por outro lado, tinha dentro de si a necessidade de falar alguma coisa para a outra guardiã, já que o silêncio sempre lhe remetia a uma situação constrangedora. Sendo assim, quando expôs esse pensamento ao amigo, perguntando também sobre o que poderia dizer, esse respondeu: Oras, faça alguma pergunta sobre ela, sabemos que é sobrinha de Tenebrisen, mas mais nada... Talvez seja um bom assunto.

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