XVIII - Novos amigos? - Hiems

955 139 8
                                    

Hiems sentia pena dos outros dois jovens que tinham chego com ele, afinal mal sabiam o que estava se passando com eles. Bom, pelo menos, não tiveram que fugir a vida inteira...

— Nós temos o costume de repassar os movimentos pelo menos uma vez a cada dois dias... Para garantir. — Semepolhian continuou a explicação. — E dividimos as tarefas que a fortaleza exige... Caçar, manter tudo limpo e organizado... A agricultura nós que somos relacionados a ela cuidamos, aí a colheita também é revezada. Faz ideia de qual é seu domínio?

— Não, — respondeu o de cabelo muito curto — mas imagino que pela cor possa ser água, gelo, rio... Algo do tipo.

— Pensei isso também. — A guardiã das águas olhou para os outros dois mais afastados. — Já viu um ovo vermelho como aquele?

Hiems negou com a cabeça.

— Na verdade nunca vi outros ovos... Mas pelo que eu sei, ovos vermelhos não são de dragões de fogo?

A mulher riu fraco em tom irônico.

— Não, não, deve ser outra coisa. — E negou fortemente com a cabeça. — De qualquer forma, fico feliz que tenha chego aqui. Amanhã você receberá uma lista do que precisa fazer em cada dia. A partir de agora, pode ir aonde quiser na fortaleza. E desculpe pelo andar tão alto.

— Sem problemas. — Respondeu e brincou: — Imagino que as outras torres devem estar bem ocupadas.

Semepolhian riu fraco antes de responder:

— Mantemos todos no mesmo lugar para que, se algo acontecer, consigamos fugir por portais levando aqueles que não conseguirem mais rapidamente.

Hiems concordou com a cabeça se perguntando se tinha de alguma forma ofendido a guardiã.

— Com licença. — Disse ela e se afastou fazendo com que ele cogitasse ainda mais a ideia.

O rapaz ficou sozinho do lado da porta. Tinha finalmente conseguido, chegara em um lugar para ficar com outros iguais a ele. Teria finalmente paz e liberdade... Bom, de certo modo...

Está bem... E agora?

— Moço! — Ouviu o grito e se virou para a origem dele, de onde vinha Kalin segurando cuidadosamente uma pedra oval azul. — Seu ovo. — Completou antes de lhe entregar.

— Obrigado. — Respondeu educadamente e envergonhado com a situação.

— Por nada. — Retribuiu a mulher que no mesmo instante saiu andando sem falar mais nada.

Sem saber o que fazer, Hiems resolveu levar o ovo para seu novo quarto. Já estava descendo quando encontrou os outros dois recém chegados subindo e se perguntou o que estariam fazendo.

Ele nunca teve amigos ou conversou com muita gente. O maior contato que tivera com pessoas da mesma faixa etária — praticamente — era quando observava as crianças humanas brincarem, se divertirem e crescerem nas vilas próximas de onde morava. Para além disso, só se comunicava com sua mãe e, durante a última contagem que viveu na cidade, com os tios — momento que não fora de muito sucesso, já que apesar de conviver com as pessoas do lugar, tinha a constante sensação de que iriam lhe descobrir ou precisaria deixar o local a qualquer momento.

Talvez seja uma oportunidade...

Resolveu voltar a subir. Certo, vamos tentar interagir...

Porém, quando chegou na porta do quarto ao lado do seu, encontrou os dois guardando as poucas coisas que haviam trazido.

— Pode me dar algumas roupas, tem espaço livre na minha bolsa. — Dizia o garoto, que tinha quase certeza que se chamava Sirius.

— E você vai sair andando por aí com um dragão? — Questionou rispidamente a moça.

— Ele não vai ficar fechado ali dentro!

Hiems suspirou e se afastou antes que eles percebessem sua presença ao entender o que se passava. Tudo bem, sobrevivemos sozinhos esse tempo todo, não é agora que isso vai mudar. Voltou ao próprio quarto e mirou o ovo repousando em cima da cama se fazendo a mesma pergunta de sempre:

Não era para você nascer quando eu precisasse de muita ajuda? Onde estava então quando tudo aquilo aconteceu?

Sem motivo algum, pegou o ovo em mãos. Contudo, para sua surpresa, a superfície dele estava extremamente gelada. Hiems se assustou e se afastou um pouco.

Segundos depois, uma pequena rachadura surgiu no azul e depois mais nada.

Não. Falou desesperadamente para si mesmo. Não, não, não, não...

A única coisa que conseguia pensar era que tinha matado a ligação entre eles e que nunca mais o dragão nasceria ou iria o querer como companhia.

Vários minutos depois em que ele passou sentindo uma agonia em seu peito, uma nova rachadura apareceu, permitindo que um pequeno buraco se abrisse. Hiems se aproximou esperançoso e quase sentiu uma lágrima se formar ao ver a pequena cabeça azul aparecer por entre as paredes do ovo.

Veja bem, eu não nasci naquela hora porque você não quis. Seus pensamentos me diziam coisas como "não vamos poder nos disfarçar entre os humanos", "ainda não tenho um lugar para você" e coisas do tipo.

Sentiu a lágrima que estava presa ao lado de seu olho escorrer até o canto de seu lábio.

Obrigado. Disse mentalmente tentando expressar o máximo de felicidade que sentia.

Tanto faz. Respondeu o dragão com um tom de indiferença forçada. Agora, nascer dá bem mais trabalho do que vocês humanos se lembram... Então...

A pequena cabeça de dragão voltou para dentro do ovo e Hiems mudou de posição para poder olhar pelo buraco. Dali, pôde ver o companheiro com o corpo enrolado pronto para dormir.

Você vai... Ficar aí? Perguntou sem entender.

E você tem algum lugar melhor para ir? Rebateu o dragão.

Hiems esboçou um pequeno sorriso ladino e deixou o novo amigo descansar enquanto levantava a manga da camisa para ver o desenho simplificado de um floco de neve que havia aparecido em seu braço.

Os GuardiõesOnde histórias criam vida. Descubra agora