XXIII - Trariden - Sirius

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A sensação de voar nas costas de um dragão foi definitivamente a melhor experiência que havia tido em toda sua vida. O vento batendo em seu corpo e fazendo seu cabelo na altura dos ombros ficar embaraçado. O perigo de acidentalmente se soltar e cair por centenas de metros. A segurança de que seu companheiro o iria pegar. A vista de nuvens para todas as direções e seu lado direito quente com o calor do sol nascendo. Tudo era perfeito... Menos seu destino.

— Quando chegarmos, devemos primeiro investigar a situação do local para saber o tamanho da influência nakoushinider lá e só então revelarmos nossa identidade. — Dissera Semepolhian no dia que escalaram ele e Hiems para aquela missão. — A cidade está sofrendo com o calor e a falta de abrigo contra as altas temperaturas. Então nós iremos trabalhar com esses dois pontos...

Sirius repassou o plano em sua mente: deveria, junto com Revande — um mago da areia — construir casas subterrâneas para amenizar o aquecimento, um fazendo os buracos e o outro a estrutura. Tinha treinado aquela magia a semana toda, não iria falhar. Não podia falhar.

Olhou para o lado, onde o dragão azul claro voava pacificamente apesar da tensão de seu guardião. O da floresta relembrou o dia em que ele e Hiems tentaram voar pela primeira vez junto com seus respectivos companheiros; enquanto Sirius e Balírion tiveram êxito rapidamente, a outra dupla não teve tanta sorte. Agora, nenhum dos dois dragões carregavam ninguém além de seus companheiros, diferente dos outros que levavam, além de Semepolhian e Emmethorion, Revende e Kalin.

Está tudo bem? Perguntou para o amigo que respondeu alegre como quase sempre:

Com certeza! Não estamos mais voando só naquele micro espaço! Está tudo ótimo!

Sirius riu lhe fazendo um carinho com uma das mãos.

Não está muito pesado?

Essas caixinhas aqui? E riu em tom de zombaria. Não pesam nada comparadas ao peso dessa sua chatice imensa.

O garoto revirou os olhos.

Muito engraçado... Só estou preocupado.

E só estou falando gentilmente que pode ficar tranquilo. Rebateu o dragão.

Gentilmente é?

Claro. Eu podia muito bem fazer isso. Disse logo antes de passar no meio de uma nuvem, deixando a roupa de Sirius molhada e o frio penetrando seus ossos. Mas não fiz.

Até agora...

Balírion não respondeu, apenas riu e voltou para a posição entre o dragão do gelo e o das águas.

Depois de algumas horas, passaram um amontoado de nuvens deixando para trás Vingüeval e a Cordilheira da Floresta. Não demorou para em seguida a vegetação sumir, dando lugar a uma imensidão amarelada do Deserto do Trariden. Ainda tiveram que voar até o sol alcançar seu pico para poderem avistar ao longe a grande cidade que dava nome à região.

Pousaram bem distantes das muralhas e pegaram as caixas de alimentos menores, já que a caminhada ainda seria longa.

— Lembrem-se, não queremos piorar a situação. — Disse Semepolhian gerando água para refrescar os dragões. — Se algo começar a parecer que vai dar errado, não ataquem, apenas se defendam ao máximo para voltarem aqui e nós fugirmos, certo?

Os outros cinco concordaram e começaram a caminhada até os portões da cidade. Antes mesmo de chegarem, Sirius já sentia a boca seca e os cabelos suados. Contudo, logo esqueceu a sede quando pararam na entrada da muralha para serem revistados. Era algo comum pelo relato dos outros grupos de missões, mas não fez com que Sirius se sentisse menos desconfortável em dizer que as armas eram para caso encontrassem algum não humano nojento. Além disso, haviam trocado de roupas para blusas de mangas que cobriam o desenho que os guardiões traziam no braço e ainda coberto a pele da região com uma pasta que Emmethorion preparou do tom de cada um, para garantir.

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