XLVII - A Jornada - Anima

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Anima estava sentada atrás de um nimás em uma das dezenas de carroças que se movimentavam sozinhas. Pareciam com cavalos com rodas no lugar das patas. O barulho extremamente alto já a incomodava havia horas, mesmo usando os tampões de ouvido que lhe deram. Ainda bem que deveriam ser discretos...

Já fazia muito tempo que haviam saído de Rarqueval. Suas pernas e costas doíam. Ela tinha sido treinada a vida inteira e portanto aguentava bastante em muitas atividades. Poderia andar por dias — como fazia com Groleo e Sirius quando precisavam de algo em algum vilarejo. Poderia ficar horas ouvindo o silêncio da mata, com seus pequenos sons individuais, até encontrar o som de algum animal para caçar. Porém, tanto tempo naquela mesma posição desconfortável ouvindo aquele barulho ensurdecedor? Não, isso não conseguiria.

Quando deixaram o contorno de árvores mortas para trás e começaram a percorrer os campos de plantações, teve certeza que seriam pegos. Já podiam ser ouvidos de muito longe, agora poderiam ser vistos também.

No entanto, talvez pela velocidade em que se locomoviam, puderam fazer o percurso rumo à costa sem encontros inesperados. Subiram e desceram as montanhas do litoral, até que finalmente chegaram à praia.

Na pequena margem de areia, os nimases pararam seus cavalos de metal para, segundo eles, fazer ajustes que os permitiriam andar por cima d'água. Anima teria duvidado daquela expectativa se já não estivesse extremamente impressionada. Sendo assim, se afastou ficando um pouco separada dos outros, que trabalhavam alucinadamente.

Por mais diversos que fossem os barulhos dos nimases, com marteladas e serras, a guardiã teria reconhecido aquele som em qualquer lugar. Foi discreto e, considerando que eram um grupo de quase duzentas pessoas, poderia ser qualquer um. Mas confiava naquilo que aprendera desde pequena, ao menos naquilo.

Gare! — Gritou Anima pedindo que os nimases a sua volta parassem. Por mais concentrados que estivessem, se interromperam para olhar a mata na mesma direção que a guardiã encarava.

Repentinamente, um grupo de pessoas com o símbolo nakoushinider pintado nas armaduras saiu do meio da folhagem em direção aos nimases. Instintivamente, Anima pegou o machado preso em suas costas e com um único movimento, derrubou os dois soldados mais próximos dela fazendo com que os outros quatro se afastassem. Porém, a hesitação deles durou pouco tempo, logo vindo todos eles para cima dela.

Ela olhou rapidamente para o machado em suas mãos. Não tinha um grande domínio da própria magia, mas era muito boa com armas. Talvez seja uma boa hora...

Anima concentrou sua atenção no objeto. Sem ter certeza do que estava fazendo, girou o machado no ar com a mesma intenção de quando lançava fogo pelas mãos. Em segundos, como se as chamas consumissem a madeira branca e a lâmina preta, a arma se transformou: seu cabo se tornou vermelho escuro e o metal laranja conforme o fogo percorria o material. Quando voltou a posicionar o machado em frente ao corpo, a guardiã notou o pequeno entalhe entre as duas lâminas, que dizia fogo em Abanhen, e que os nakoushiniders haviam se afastado novamente, com ainda mais medo.

Atrás dela, vários nimases se escondiam nos equipamentos de transporte. Muitos deles eram guerreiros, mas como todos haviam deixado Rarqueval, boa parte eram de pessoas que não sabiam se defender e estariam completamente vulneráveis se Anima não detivesse aqueles soldados.

Não posso deixar que os machuquem. Pensou consigo enquanto apertava o cabo do machado. Eu os convenci que seria mais seguro abandonarem sua casa, se algo acontecer...

A guardiã passou o olhar em cada nakoushinider planejando sua ação. Quando eles investiram pela terceira vez, Anima defendeu a espada de um deles, arremessando a arma em outro, que caiu. Bateu com o cabo do machado neste primeiro, que começou a gritar com a queimadura no olho, que se espalhava para o resto do corpo, dando tempo para ela brandir a arma contra outro que se aproximava pelas suas costas, o fazendo cair também. Por fim, quando a última tentou lhe atirar uma flecha, a guardiã arremessou seu machado em chamas, carbonizando o dardo instantemente e atingindo o peito da arqueira.

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