Louis

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Aquele sorriso caiu em cima da minha cabeça como uma bigorna. Minha respiração ficou acelerada enquanto eu conseguia ver toda a minha história com Ed desde agora. Ele me perseguiu de todas as formas possíveis.
Eu tirei forças de onde não havia e consegui sair do lugar. Sem olhar para trás, sai da casa de Harry sem dizer adeus. A chuva lá fora não me incomodou. Niall gritou pelo meu nome, mas eu o ignorei e entrei no meu carro, pisando forte no pedal. Consegui ver Harry pelo espelho do carro, parado na calçada, sem entender o que estava acontecendo.
Eu estava molhado, mas não era pela chuva, quem estava molhando meu rosto eram minhas lágrimas. Eu não conseguia conter meus soluços insuportáveis. As imagens que voavam pela minha visão era de Ed sorrindo, quando ele sorriu pra mim pela primeira vez, quando eu passei o inverno inteiro esperando uma ligação, quando eu fiquei de frente pra janela, esperando ele aparecer no portão. Limpei os olhos e nesse momento, um clarão cegou meus olhos. Era um caminhão vindo minha direção. Minhas mãos mexeram-se rápido, me tirando de lá. Acabei saindo da estrada e afundando o pneu na lama.

—Merda, merda, merda!– bati no volante

Meu celular tocava sem parar. E era Harry. Eu não queria atender, não queria falar com ninguém.
Então era Ed que batia em Harry. Que gritava com ele. Isso só me fazia ficar com mais raiva. Eu estava tão descontrolado por dentro que podia quebrar meu carro inteiro com os meus punhos.
Deitei meu banco e tentei dormir.

Acabei voltando para a casa de Harry. Toquei a campainha, mas ninguém atendeu. Fiquei esperando por um tempo, até a vizinha aparecer na janela.

—A família Styles saiu.
—Todos juntos?
—Sim. Pareciam muito tristes. Acho que alguém morreu. Eles estavam indo pro cemitério aqui perto.

Meu coração parou de bater por um tempo e isso me tirou a fala. Entrei no carro e dirigi o mais rápido que pude até o cemitério que a mulher me disse. Era o mesmo em que o meu pai foi enterrado. Desci do carro e vi um aglomerado de pessoas perto de uma lápide, com os guarda-chuvas erguidos e com roupas pretas.
Me aproximei e empurrei algumas pessoas. Mordi o lábio com tanta força que senti sangue. Lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto. Escrito na lápide, tinha: Harold Edward Styles. Me ajoelhei e comecei a chorar mais. Havia pernas na minha frente. Ergui minha cabeça, e era Ed. Sorrindo.

—Agora não há ninguém, Louis.

Olhei em volta e todos tinham sumido. Só havia eu e a lápide de Harry. E ao lado, a de meu pai.

Acordei gritando. Pus minha mão no meu peito, verificando se o meu coração continuava ali. Bufei e coloquei os cabelos para trás.
Depois de muito esforço, meu carro saiu da lama. Eu não sabia pra onde ir. Até uma ideia vir até a minha cabeça. O único lugar onde eu podia ser eu mesmo.

Já fazia muito tempo que eu não ia lá. Muitos flashbacks começaram a surgir na minha cabeça.

*FLASHBACK ON*

Eu estava pintando a parede do meu quarto quando o meu pai apareceu. Ele me olhou.

—Eu estava pensando... Por que não vamos pescar? Conversar de homem pra homem?
—Eu ainda tenho 14 anos.
—E dai? Vamos.

Eu e meu pai descemos a ladeira e fomos até o enorme lago que tinha abaixo da montanha. Eu gostava de pescar com o meu pai. Era divertido e eu sentia que podia conversar com ele o que precisava. Estávamos de costas, com as varas erguidas, procurando um peixe.

—Então... Você já tem alguma namoradinha?– ele perguntou
—Não.
—Ah... Namoradinho?

Virei meu corpo para olhá-lo e ele me olhava também.

—Não.– me virei
—Louis. Não minta para mim.

Eu não era assumido pro meu pai naquela época, e tinha medo do que ele podia pensar de mim, se ele deixaria de me amar, se ele me tratasse diferente.

—Talvez.

Meu pai tinha um monte de coisas para dizer ali, mas ele escolheu a mais torturante pra mim: nada. Eu não sabia o que ele estava pensando.
Puxei a minha vara e vi um peixe preso ao anzol.

—Peguei um.– sorri para ele

Ele sorriu e afastou o balde para mim. Meu pai estava agindo estranho comigo, e era a coisa que eu mais tinha medo no mundo.

Eu estava carregando o balde de pesca, e fingindo não estar chorando enquanto meu pai andava na minha frente, carregando as varas. Ele olhou para trás e me viu chorar.

—Louis? O que foi?

Meu pai deixou as varas no chão e foi me acudir. Coloquei o balde no chão e chorei como uma criança. E eu era. Meu pai me abraçou, se ajoelhando no chão. Meu pai nunca foi desses que se abriam completamente, ele escondia o que pensava às vezes.

—Não era isso o que eu esperava, Lou... Mas isso não vai mudar o tamanho do meu amor por você.– ele me olhou e passou o polegar no meu rosto, limpando minhas lágrimas– Você sempre será o meu bebê, o meu filho. E não importa se você gostar mais... De meninos do que meninas. Não vai mudar. Nunca.

Eu consegui sorrir e o abracei.

*FLASHBACK OFF*

Eu estava olhando o lago de cima. Ele nunca mudou. O sol brilhando no horizonte, o vento forte, que fazia os meus olhos se estreitarem. Estava tudo do jeito como deixei da última vez que vim ali.

*FLASHBACK ON*

Minha mãe estava penteando meus cabelos na frente do espelho, ignorando o fato de eu ser já velho o suficiente para fazer isso sozinho.
A casa estava vazia, silenciosa e escura. Aquele era a primeira semana sem o papai. A primeira semana sem conversas, sem os sorrisos, sem aqueles olhos tão lindos.
Eu conseguia ver minha mãe chorando pelo espelho.

—Louis.
—Sim?
—Prometa que nunca... Nunca vai desistir de ser feliz.
—Por que está dizendo isso?

Eu não queria chorar na frente dela. Ela já estava abalada o suficiente. Ela limpou as lágrimas com as mãos.

*FLASHBACK OFF*

Aquele foi o dia mais assustador da minha vida. Eu estava com medo de perder minha mãe ali. Naquele momento.
Mas ela não fez isso. Ela conheceu Jordan meses depois, e admito, mesmo odiando ele, naquela época, ele fez muito bem à ela, algo que eu não pude proporcionar.

Tirei minha blusa e deixei o vento bater no meu peito. A ponta do penhasco sempre foi o meu lugar preferido. Não era muito alto, mas dava para ver uma grande parte do local. Um cartão postal ficaria lindo com aquela paisagem.
Até que eu me empurrei para o lago lá de cima.

Strong >> l.sOnde histórias criam vida. Descubra agora