trigésimo sexto

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ROSY CHEEKS

TRIGÉSIMO SEXTO





Os meus lábios estavam ressecados e minha garganta estava extremamente inflamada, impossibilitando a minha fala. O meu corpo estava encolhido, e meus membros doíam pela pouca mudança de posição. Eu não havia saído daquele lugar desde que havíamos entrado nesta cela. Como eles não nos davam comida, ou ao menos água, nós não precisávamos fazer nossas necessidades básicas com urgência, então permanecíamos quietas para que a fome e a sede fossem camufladas pela dor em nossos ossos e o barulho da vibração sonora aguda que ecoava em nossas cabeças, perturbando-nos ao ponto de querermos implorar por algum barulho externo.

Meredith forçava as barras da cela com suas duas mãos, puxando-a em uma tentativa completamente idiota e falha de nos libertar do terrível lugar. Revirei os meus olhos para a sua inutilidade e incapacidade de pensar com clareza em situações extremas. Ela só estava gastando sua energia e perdendo a sua lucidez, ao invés de permanecer calma e confiante de que o moreno encontrará alguma maneira de ver através do seu cego ódio, ver que ainda temos alguma utilidade para seus negócios. Eu não ficaria tão surpresa se ele vendesse-me para alguém que não irá suportar com a mesma paciência fingida as minhas tentativas inúteis de fugir e de tornar seus pensamentos incoerentes o suficiente para escapar de suas garras.

Enquanto a mesma gritava e se debatia como um animal raivoso contra as grades, limitei-me a fechar os meus olhos marejados e encontrar-me imersa em meus pensamentos. A ardência quase enlouqueceu-me, por saber que eu já estava começando a entrar em um estado pequeno de desnutrição. Eu não podia chorar, por exemplo, pois não havia água o suficiente em meu corpo para manter meus órgãos funcionando e ainda me permitir ao luxo de desperdiçar algumas gotas para liberar a frustração em minha alma.

Eu estava tão exausta e desgastada, que assim que senti como se todo o meu mundo tivesse se desmoronado abaixo dos meus pés, a minha visão se tornou um clarão, e senti o meu corpo tornar-se mole. Eu havia finalmente desmaiado.

Observei os flashes de luz darem lugar à pequenos flocos de neve caindo em meu campo de visão. Senti-me firme no solo em que me encontrava, como se as roupas impressionantemente ajustadas ao meu corpo, que magicamente haviam encontrado o seu caminho até o mesmo, ajudassem-me a me sentir mais confiante sobre como encontrava-me no espaço, por mais que  meu estado de espírito se encontrasse vazio. Meus olhos estavam vidrados em algo que eu não podia enxergar, e meus ouvidos se preocupavam em escutar as batidas lentas e estáveis do meu coração, enquanto as minhas unhas se encontravam cravadas nas palmas das mãos. Qualquer um poderia pensar que eu estivesse tranquila, pelo modo como a expressão em meu rosto se encontrava dura e sem emoção, como uma estátua em um museu. Mas minha mente se encontrava conflituosa, gritando para que eu acordasse da realidade superficial e terrivelmente unânime em que me encontrava,  em relação à idéia de que eu iria morrer em uma cela suja e escura, ao lado da garota que eu odiava, sem ver minha família por uma última vez, sem ao menos ter a chance de me redimir dos vários pecados que eu havia cometido desde a minha chegada.

Enquanto a minha mente implorava por ajuda, meu corpo se moveu inconscientemente, e meus ossos estralaram como se não houvessem sido utilizados por muito tempo. Pisquei para a sombra esguia e maligna de algo se movimentando no final do plano em que me encontrava, sendo a única forma de vida além da minha alma confusa em um mar escuro e sem ondas. Prendi a respiração quando vi a criatura paralisar completamente seus movimentos anteriores para observar-me, finalmente se dando conta de que eu já me encontrava ali há alguns minutos. Engolindo em seco, empurrei-me para trás com leve delicadeza, preocupando-me em não fazer movimentos bruscos que denunciassem o meu pavor. O suor dos meus esforços escorria pelo pescoço, e o líquido gelado deixou-me tão arrepiada quanto a presença de algo que representava a morte no fim do quarto escuro. O tempo levado para a criatura ficar à distancia de um centímetro do meu rosto fora somente de uma respiração entrecortada que saíra dos meus lábios, e meus olhos se arregalaram tanto que pensei que poderiam saltar para fora de suas órbitas.

Rosy Cheeks | zayn malikOnde histórias criam vida. Descubra agora