quadragésimo sétimo

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ROSY CHEEKS

           QUADRAGÉSIMO SÉTIMO



Há algum tempo atrás, eu não teria tido uma das melhores reações se estivesse passando por esta mesma situação. Com Zayn à minha frente, e meus pais e irmã às minhas costas, eu tinha de tomar uma grande decisão. Perder a minha família, ou perder a chance de saber quem eu realmente era.

Seus olhos dourados encaravam o azul profundo dos meus, mas eu não tinha coragem de sequer abrir a boca. O vazio que se instalou em meu peito estava consumindo rapidamente a minha consciência, e eu não sabia como estava me sentindo. Aliviada? Aterrorizada? Triste? Não, provavelmente eu não estava sentindo nada. Nada. Não foi como eu imaginei reencontrá-lo. Imaginei sentir uma dor tão grande, uma raiva avassaladora, um nojo gigantesco de sua podridão. Mas parecia que eu havia-me esquecido de como eram estes sentimentos. O único sentimento que conseguiu permanecer dentro de mim em meio a tanto vazio, foi o de sufocamento. Aquele que sentimos quando estamos prestes a chorar, os olhos ficam marejados e parecemos ter uma bola no meio da garganta, e nos tornamos desesperador para aliviar a angústia iminente. É como se eu me sentisse assim o tempo inteiro, 24 horas por dia, e ainda não foi criado algo ou alguém que pudesse me libertar deste sentimento.

Então, enquanto eu olhava para ele, e ele olhava para mim, com uma expectativa de que eu fosse desabar ou enlouquecer a qualquer momento, eu somente me aproximei mais de sua figura esguia, do homem por quem eu senti tanto medo e ao mesmo tempo tanto desejo, e tentei me expressar da melhor maneira que podia, para que não fosse mal interpretada por todos dentro da casa.

"Se a única forma de não causar mais sofrimento à minha família é me entregar novamente a você, então eu aceito, sob a condição de deixá-los viver tranquilamente, e nos fazer sumir do mapa, para sempre. Você não irá tentar se vingar do meu pai, dentro ou fora de seu trabalho, e ela nunca mais será capaz de nos encontrar." Ele engole em seco, assentindo. "Quero que diga em voz alta."

"Eu deixarei sua família em paz, Jane Eisenhauer. Contanto que você seja minha." Sei que posso confiar em suas palavras, pois vi como ele olhou em meus olhos e viu a mesma escuridão que vê em seus próprios olhos toda vez que se olha no espelho.

"Jane—." Ouço meus pais tentarem reverter a minha decisão, mas ela já está tomada, e eu não irei voltar atrás. Viro-me para olhá-los, e por mais que eu queira me sentir triste e com remorso, pois mais uma vez estou os fazendo sofrer, não consigo sentir nada além do sufocamento, uma e outra vez até que eu não saiba mais discernir se existe algo além de sentir como se estivesse morta por dentro.

"Mãe, Pai." Abraço-os apertadamente, somente para assegurá-los de que um dia já fui capaz de amá-los. De amar a família como se fosse um pedaço de mim. Mas agora, agora eu me tornei exatamente como quem eu mais temia me tornar. Um ser humano, sem humanidade. Afasto-me para olhar em seus olhos, e ouço-os a respirar fundo, pois sei que eles viram exatamente o mesmo que Zayn viu. "Eu não sou nada como a filha que vocês perderam há alguns meses atrás."

Levo o meu olhar até Christina, no topo das escadas, e aperto o meu maxilar, sabendo que havia deixado o melhor para o final. Apesar de não sentir ódio, nojo ou raiva da garota trêmula e amedrontada, também não consigo sentir compaixão. Sei que ela não hesitou em livrar-se de mim quando teve a chance.

Levo alguns segundos para subir o lance de escadas, mas quando finalmente chego lá, e ela faz menção de correr para o seu quarto como uma covarde, seguro o seu pulso com firmeza e me certifico de que uma mancha roxa se instale em sua pele pálida, e não paro até que lágrimas brotem de seus olhos.

Rosy Cheeks | zayn malikOnde histórias criam vida. Descubra agora