quadragésimo

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ROSY CHEEKS

                     QUADRAGÉSIMO 


Eu era uma criança peculiar. Com uma franja reta, corte de cabelo curto, chanfrado na altura do queixo e olhos azuis enormes e assustados, usava uma fantasia vermelha sangue da chapeuzinho vermelho, costumava sair para pedir doces em época de Halloween. Obviamente, meus pais não aprovavam o comportamento sombrio de uma simples criança que mal havia saído das fraldas, mas eu nunca me importei muito com o que as pessoas costumavam pensar de mim, até precisar entender que eu tinha de crescer, e para tornar-me parte de uma sociedade mentalmente estável, desfazer-me da fantasia desgastada.

Minha mãe costumava me dizer que cada pessoa tinha um propósito muito importante nesta terra, seja ele para contribuir com a ascendência ou a degradação do mundo, ainda sim ele seria de suma importância. Eu sabia que ele tinha uma certa apreensão sobre a filha cujo a qual havia criado, pois embora a garota fosse muito nova para ter opiniões formadas sobre a sua personalidade estranha e sombria, havia algo de muito errado com ela. E apesar de não saber muito o que estava fazendo, abri um sorriso para ela. Seria gentil se fosse um sorriso comum, mas naquele momento, senti os meus próprios pelos se arrepiarem com o sorriso gélido e assombroso em meus lábios. O corpo da minha mãe se petrificou, e ela olhou-me como se eu houvesse me tornado no próprio Diabo.

Desde aquele dia, meus pais nunca mais foram os mesmos comigo, e eu sabia que havia algo dentro de mim que, por mais boa que eu tentasse ser, sempre estaria lá, espreitando sobre os muros da misericórdia e caridade, esperando o momento certo para desferir o golpe que desmoronaria tudo de bom que eu poderia construir, para corromper o anjo que não havia escolhido um lado para seguir.

Estes eram os meus pensamentos enquanto caminhava pelos corredores pouco iluminados da mansão, procurando algo no âmago da minha existência que pudesse ajudar-me a ter coragem de enfrentar alguém como Zayn. Um homem cujo havia perdido toda a esperança de erguer-se acima da escuridão em que sua alma se encontrava, tendo como única opção arrastar alguém para o mesmo inferno em que habitava, de modo em que não se sinta tão sozinho em meio ao caos de seus pensamentos mórbidos e sombrios. Temia profundamente que este alguém fosse eu.

Movi os dedos os pés que tornaram-se dormentes a partir do momento em que encontrei-me dentro o quarto do moreno. Eletricidade correu pelas minhas veias como se nitrogênio líquido estivesse sendo injetado em mim, paralisando-me no lugar em que estava. Como um caçador treinado e experiente, o homem finalmente apareceu depois de alguns minutos de espera. Seus olhos dourados brilhando em meio à escuridão da fortaleza que era o seu quarto, se é que o cômodo poderia ser chamado de algo tão íntimo e pessoal, embora um quarto devesse guardar todas as suas lembranças, sejam elas boas ou extremamente ruins.

Seu corpo se moveu lentamente e meus batimentos cárdicos aceleraram-se consideravelmente, ao mesmo tempo em que a minha respiração tornou-se ofegante. Ele tinha uma mente conturbada, memórias de um passado obscuro que moldaram a sua personalidade e caracterizaram-no como um indivíduo egocêntrico e narcisista, incapaz de pensar acima da insanidade de suas ações como uma pessoa luxuriosa e pecadora, profundamente perdida sob o domínio do mal. Esta era a minha visão da sua alma fragilizada enquanto em seu exterior, ele se mostrava ser uma pessoa inabalável, movida pelo fato de ter o seu pequeno próprio mundo, onde tudo e todos giravam ao seu redor, menos uma pessoa, aquela que ainda precisava se decidir sobre a moralidade herdada de terceiros e a descoberta de algo muito maior, embora não muito bem compreendido, como a complexidade dos pecados cometidos pelo moreno.

A luz fora acendida enquanto ainda estava imersa em meus pensamentos, o que levou-me a assustar-me com a iminente presença de luz sobre os meus olhos, como alguns segundos de oxigênio em meio a uma situação de afogamento, simbolizando o 'erguer-me acima da escuridão.' Os meus olhos seguem as ações de Zayn enquanto o mesmo se move até a mesa de jantar, disposta no centro do quarto. Ele enche dois cálices de vinho com um sorriso peculiar em seus lábios, e um dos copos é dado à mim. Relutantemente ergo o objeto até os meus lábios e provo o sabor docemente intoxicante. Afasto a bebida no mesmo segundo em que ela entra em contato com a minha língua, pois sei que a mesma deixou-me com uma extrema vontade comprar uma garrafa e tomá-la a sós. Não que eu seja fã de bebidas alcoólicas, mas contorci-me ao confirmar o meu fraco por doces.

Rosy Cheeks | zayn malikOnde histórias criam vida. Descubra agora