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Nota: Desculpem pela demora, pelo capítulo, pela situação...


Assim como o enunciado de um filme ou o título comprometedor de um filme que apresenta indícios de sua história, uma pequena sinopse sobre a obra, um índice com partes programadas, um esquema de divisões de capítulos, uma obra visionária completamente preparada para responder a qualquer interrogação antes mesmo que ela fosse pensada. Essa era a vida de Lauren antes, era a maneira que ela dirigia as coisas, perdendo e evitando todo e qualquer contato possível, aproximação ou relação.

Quando compreendeu que era tudo maior do que ela simplesmente pudera entender, Lauren resolveu canalizar todos seus questionamentos dentro da própria mente, e com a mesma dedicação que usava para estudar a parte científica do cérebro todos os dias, deixava a frieza domar a parte sensível presa em si.

Ninguém nunca prepara seu corpo para uma recepção tão grande. Por mais que sempre escrevam e falem sobre o primeiro beijo, o primeiro coração partido, a primeira bebedeira ou o dia que você finalmente se apaixona por alguém, é como se algo tão extraordinariamente novo tomasse seu corpo e sua mente te deixando como um mero espectador. Você fala e faz coisas tão idiotas que nem ao menos reconhece isso. Essa era a função de Lauren naqueles dias, principalmente quando isso relacionava Camila ou Noah.

Seu trabalho era uma parte complexa do dia, as madrugadas e plantões não tomavam de Lauren os pensamentos direcionados à Noah, pelo menos assim ela acreditava. O simples fato de se sentir tão próxima e familiar ao garoto que nunca conhecera antes, que não tinha nenhum tipo de laço sanguíneo além de um gosto comum para simples coisas e o modo encantador de agir. Lauren negava pra si mesmo todos os dias, mas era comum enxergar seus traços e indícios da sua infância em pequenas coisas feitas discretamente por Noah.

Se suas madrugadas eram sempre tomadas por horas de exames complexos, cirurgias, diagnósticos e o fluxo ao longo dos corredores do hospital, as manhãs de Lauren geralmente eram regadas por três horas de sono - muitas vezes em eu próprio consultório - e passeios ou encontros aleatórios com Noah, seja pessoalmente ou com um breve contato por telefone.

As poucas horas que passaram dançando e vivendo aquele breve momento despertou em Lauren a possibilidade de algo que ela jamais pode enxergar. Pensar ou nomear as consequências de uma simples tarde ao lado de Noah ou apenas diagnosticar o que era vivido por seu corpo ao se deparar com o sorriso gracioso de Camila era uma das lições mais intrigantes que Lauren afirmou diante de tudo. Cada pequeno vestígio dos momentos anteriores vagavam em sua mente, mas afinal, o que seria isso? O que significava aquilo agindo dessa forma tão intensa. Lauren não sabia.

Eventualmente, o desgaste físico de ambos ficou evidente com o passar dos minutos. Noah foi o primeiro a desabar, o garoto simplesmente deixou-se cair no tapete recém colocado na sala. A cabeça estava apoiada na parte acolchoada do sofá, enquanto os braços descansavam no próprio colo. Como se tivesse esquecido por completo da presença de Camila ainda imperceptível na sala, Lauren caminhou de volta pelo corredor estreito da casa simples. Não haviam quadros, nem riscos pela parede ou qualquer vestígio de uma criança em casa. Não tinham brinquedos espalhados ou desenhos ao longo do chão, era tudo tão vazio e oculto quanto uma casa pronta para ser alugada. Lauren deu mais dois passos antes de parar na frente da porta do quarto de Camila. Toda decoração anterior agora dava lugar a um espaço completamente vazio, com exceção da cama e um pequeno e simples armário, tudo que lembrava desenhos ou a antiga áurea do quarto era um quadro negro pequeno pendurado na parede central completamente limpo e alguns pequenos pedaços de giz ao chão.

Lauren se aproximou ainda mais sorrindo ao confirmar a familiaridade daquele objeto em sua época de escola, imaginou quem usaria aquilo, quem poderia passar horas desenhando algo para em seguida apagar como algo completamente temporal. Tudo para Lauren era científico, estudado, guardado e armazenado. Era o correto a se fazer sobre tudo, afinal ela mais do que ninguém sabia a proporção de erros cerebrais que estamos submetidos ao longo da vida. Devaneios, doenças, distúrbios, deficiências e esquecimentos fazem parte da proporção possível ao longo do ciclo de vida humana... Mesmo amando com vigor o cérebro humano, Lauren o classificava como aparelho perfeito de modelagem e imperfeito para eventuais falhas.

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