Quando estamos com pressa ou desatentas o suficiente para não notar um grão de areia diante de nossos olhos, ou quando a nosso corpo está tão desesperado que as mãos começam a agir por vontade própria e você sente todos os estímulos do corpo adotando posições pra te deixar ainda mais descompactada, esse era o estado popularmente conhecido ao qual Lauren vivenciava no momento, mas o que sua mente vinculava era a quantidade e variedade de estímulos que estava recebendo, interpretando e respondendo desde suas ações até a tensão dos músculos do seu corpo, sua respiração e os batimentos cardíacos... Tudo em conjunto.
O desenho corporal de Lauren se modificou por completo, não apenas por imaginar Camila mais uma vez, mas por relacionar os acontecimentos recentes e as tentativas que seu cérebro criava para essa situação. Não era apenas uma paciente, não era apenas um caso comum, era Camila... Era mais um episódio para ela, e consequentemente, poucos passos dela estava o rosto curioso e amedrontado de Noah.
— Noah... nós precisamos ir ao hospital, tudo bem? — comunicou a médica ainda com o mínimo de controle sobre seus passos, mantendo o braço esquerdo apoiado sobre a mesa e o celular entre os dedos da mão. — Eu... eu preciso apenas pegar minha bolsa e nós vamos, tudo bem? — Noah assentiu e correu na direção contraria imaginando que passaria um dia divertido ao lado de Lauren no hospital. Ele não gostava de hospitais antes, mas Lauren o deixava feliz e Camila bem, então ele passou a idolatrar aquele local e especialmente Lauren.
Os passos rápidos e escorregadios ganhavam a sala de estar enquanto ele rumava até o tapete no canto superior e se apoiava na parede para calçar novamente os sapatos, mantendo um bico de resmungo por não ter um controle de sua posição e escorregar no chão batendo a bunda.
Partindo do extremo, Lauren ouvia uma voz ecoar do seu telefone, ainda ligado e conectado aquela ligação, mas era difícil certificar exatamente o que estava acontecendo, tudo era mesclado com as batidas de seu coração, e as inúmeras palavras vagando sobre sua cabeça.
— Lauren, você precisa aparecer... eles querem fazer uma tomografia completa antes de qualquer medicamento, e precisamos da sua autorização e da sua assinatura no laudo inicial. Dinah está aqui, mas foi medicada, ela não tinha condições de nada por aqui quando chegou, eu creio que o Noah esteja na escola ainda e... — Prevendo que deveria responder ao menos um daqueles questionamentos e afirmações, Lauren pigarrou com certa dificuldade, já que a sua garganta mal conseguia processar o movimento natural pela dificuldade na passagem do ar.
— E-eu estou com ele. — sussurrou mais pra si, do que para Ally que continuava a falar sem nenhuma brecha.
—. .. E eu suponho que seja melhor passar por lá e apanhar ele na escola e levar até a minha casa, ou a sua mesmo pra que ele não se assuste ou fique sozinho...
— Ele está comigo. — Lauren falou agora um pouco mais alto, deixando seu olhar vagar até encontrar Noah com as pernas cruzadas terminando de colocar as meias.
— Como?
— O Noah está aqui, comigo. — Ela garantiu, agora com mais ênfase.
— Como isso....? Ok, Lauren, nós não temos tempo pra isso realmente. Preciso que você venha ao hospital, tudo bem? — Ally sussurrava cada palavra com certa pausa e calma que deixava até mesmo Lauren acreditando que tudo acabaria bem, com uma pequena faísca de esperança.
— Eu só preciso viabilizar as vias motoras e as coordenações para ativarem os sensores cerebrais de comando pro resto do meu corpo, e que meus batimentos cardíacos voltem a sua função rítmica normal, e eu consiga verbalizar corretamente, e de compreensão suficiente para ajudar o Noah a me seguir sem que ele perceba nitidamente o quão perdidamente desesperada eu estou.— Deixando sua garganta fisgar um pouco do nervosismo num estalo de soluço, Lauren voltou a colocar o telefone sobre o rosto.
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Silver Linings Playbook ♣
FanfictionLauren é uma mulher que aprende sobre sentir e amar ao encontrar um doce menino, Noah, que precisou crescer cedo e que mesmo transbordando bondade, não recebe atenção da sua mãe. As coisas se tornam proporcionalmente intensas quando a vida de Laure...