Camila

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Aviso: Este é um capítulo único e exclusivamente narrado pela Camila. Essa é como a Camila se parece na fanfic.

Está claro novamente, e tudo é uma vastidão, um imenso e complexo amontoado de coisas sobre coisas, de pessoas, barulhos. Mas não significa que me incomoda nada realmente me importunava, as coisas passavam por mim como se eu fosse um corpo de outra dimensão vivendo em um mundo extenso, diferente do que fora programado pra mim. Então em meio ao barulho em contraste ao silêncio, o despertador toca, mas eu não me mexo, continuo ali na minha cama, fecho os olhos novamente, não como se fosse realmente um gesto premeditado, não é intencional... Ou melhor, isso sequer é um gesto, e sim uma ausência de gesto que não vem que não faço. Que eu evito fazer.

Do que me lembrar? O que fiz? Fui para a cama cedo, coloquei o despertador, dormi pacificamente - eu o ouvi tocar - e esperei por vários minutos até que ele tocasse, mas eu já estava desperta devido ao calor, talvez pela claridade, talvez pela expectativa... Não me movo, eu não me moverei. Alguém, alguma outra coisa - minha consciência dupla talvez - me faz levantar por movimento, os gestos que eu não faço.

Acordar, tomar banho, olhar para o espelho, vestir uma roupa... Sair.

Abrir a porta do quarto, sair porta a fora, olhar a rua. Levanto-me tarde demais, é impossível descrever o que sei o que penso, nem um milhão de folhas seriam suficientes, nem mesmo todas as heterogeneidades linguísticas. O que sei é que é inevitável não pensar: pensar na claridade, nas pessoas, na passagem, na dor, em meu lugar. Meu lugar agora está vazio.

Não terminarei minha graduação, não terei meu diploma, não estudarei mais, apenas preparo o chá. Um pouco menos de duas colheres de açúcar.

Não tomo banho, não me preocupo em vestir uma roupa vejo as perdidas dentro de gavetas. Não tenho colegas de classe, não tenho uma classe, nem professores para cobrarem de mim atividades, para me parabenizarem. Não vou ao mercado como antes, não me encontro com amigos... Cinco deles me procuraram em algum momento, caminharam e bateram na porta, mas eu deixei que batessem e esperei então os cinco amigos tornaram-se quatro, bateram novamente, um pouco mais forte dessa vez, esperei um pouco mais. Chamaram-me gentilmente, os passos diminuíram, assim como as vozes, as batidas. Quatro, três, me restou a Dinah.

Fico deitada em meu quarto na cama estreita, braços para trás da nuca e joelhos para cima, não quero ver ninguém, ou falar, ou pensar, ou sair, ou mesmo me mexer. Então mais cedo ou mais tarde, eu percebo que algo está errado, que não sei viver, que não estou vivendo.

Por mais que o inverno esteja vigoroso, a janela permanece aberta passando junto com as estações e chegando até o verão. Eu permaneço sentada entre a cama e o armário. Papeis enfeitam o chão e desfilam esquecidos pelo quarto assim como me sinto sobre o resto da janela a fora. A prateleira de madeira toma metade do quarto, poucos lápis estão desprezados ao longo do tapete. E perto da cabeceira da cama desenhos se espalham pela parede marcada por minúsculas rachaduras.

Ele está ali, ele traz vida, eu o vejo, mas não o alcanço. Então em pouco tempo consigo sentir esvair a sensação de existir, a impressão de pertencer ou de estar no mundo começa a faltar dentro de mim. Não consigo distinguir meu passado, meu presente e meu futuro. Não me reconheço, não conheço ninguém. Tudo se torna um peso em meus ombros.

A ardência da temperatura do chá não queima mais minha boca. Ele permanece ali, ele nunca realmente saiu. Consigo acompanhar os dias passando através dele, a vida. Em mim tudo para e se torna convertido como esse quarto, um cubículo de três metros e noventa, talvez com oitenta de largura. Eu estou ali, por mais que eu saia permaneço presa naquele espaço há dias. Por mais que seja tentador, eu não consigo deitar, impossível para que eu apenas deite sem me preocupar, então o vejo passar. Ele sempre sorri, sempre vem até mim, sempre deita comigo, sempre acorda comigo, sempre me quer.

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