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Aviso: A imagem acima representará o momento que estiver sublinhado ao longo do capitulo.  


Não sabemos a complexidade da vinda de outra pessoa na rotina costumeira e simples de sua vida, até que percebemos que sem ela tudo fica vazio, e é como se você tivesse perdido uma parte essencial de seu corpo, uma necessária pro seu bem, por sua felicidade. 

Todas as saídas inesperadas e noites acordadas ao longo das próximas duas semanas transformaram Lauren, a atual diretora geral do Presbyterian — além de neurocirurgiã chefe do departamento hospitalar — numa pesquisadora nata sobre o caso de Camila. Ela não sabia como classificar a situação, os conceitos na medicina são de suma importância para o início de um tratamento, ou a formulação de um diagnóstico.

Lauren estava, dessa vez na área de pesquisas do Hospital, o apoio universitário transformava o Presbyterian numa sala de aula prática para alunos residentes e de áreas específicas todas as quartas. Lauren, como uma das representantes, finalizava os debates e respondia perguntas dos alunos, enquanto eles acompanhavam quadros característicos ao longo da ala hospitalar.

Mesmo com a progressiva disponibilização de informação sobre saúde junto do grande público, era claro, até mesmo para Lauren, que todos nós temos automatizado o conhecimento de que em qualquer outra condição médica existem áreas de funcionamento do organismo que nos afastam de processos de saúde e exigem intervenção ou recuperação para serem corrigidas ou geridas, num processo de reequilíbrio interno. Do mesmo jeito que entendia que esse avanço e essa abertura das condições sociais para um público maior não abarcava todas as áreas, principalmente em relação aos estudos neurocientíficos. 

Mesmo temendo todas as atuações e as certeiras palavras que teria que ouvir, Lauren finalizou seu plantão mais cedo e dirigiu até Columbia, mais precisamente ao Department of Neurology, no auditório oito, onde acontecia uma das aulas mais importantes para os alunos com especialização em Neurologia, MED7021 - NEUROLOGIA E NEUROCIRURGIA. 

Ao fim da aula, Lauren assistiu os alunos caminharem para a porta de saída. Eram cerca de sessenta ao total. Eles pareciam felizes e ao mesmo tempo amedrontados pela aula que acabaram de assistir, e sempre era assim. Ao final, o homem robusto virou-se na direção da plateia onde conseguiu reconhecer o rosto de Lauren, ela levantou o olhar, ainda com o rosto rígido e uma certa apreensão, mas o homem acenou para que ela se aproximasse, enquanto guardava os materiais numa pasta amarronzada. 

— Eu espero que tenha acontecido algo muito grave e ponderoso no hospital para que você tenha saído de plantão e se predisposto a vir até aqui.– A voz grave e direta de Michael não surpreendia Lauren, não mais.

— O meu plantão acabou há duas horas.– Lauren respondeu ainda sem encarar o olhar do homem.

— Você é a única cirurgiã em tempo integral, deveria saber que um médico não escolhe seus horários ou tem períodos vagos para perder um precioso tempo que devera ser usado para salvar vidas.

— Eu estive de plantão por...

— Se essa conversa se prolongar ainda mais, não saberemos se você queria realmente uma informação impreterível ou apenas uma perda de tempo.

Lauren sorriu ironicamente antes de se caminhar para sair do auditório, mas o homem relutou de modo rápido. Era ele, seu pai sempre fora um completo robô que vivia total e integramente para as coisas que ele achava que era certo, sem o mínimo de consideração por nada.

— Não acredito que tenha abdicado um tempo considerável para usar ironias Michelle. Seja objetiva. – Era aquele mesmo tom de sempre, severo, rápido, incompreensivo, inflexível e rígido. Sempre fora assim desde sempre, por que mudaria agora? Justamente quando existiam ainda mais questões a serem julgadas e questionadas por ele?

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