Leveza...
A contemplação de viver todos os dias e não entender sua posição real diante daquilo, como sentir completamente a essência disso, sentir as pessoas e as coisas ao seu redor, mas nada realmente se encaixar como deve.
Acordar depois de um tempo sem reconhecer seu corpo como uma parte de um todo, um encaixe necessário pra manter o equilíbrio, poder trabalhar sua mente e acertar a última peça no encaixe perfeito. Esse era o desejo de Camila com o passar dos dias.
Noah estivera no hospital todas as vezes que fosse possível, e até quando o tempo era malvado e passava correndo diante de ponteiros, olhadas e desenhos. Ele e Camila mantinham-se ocupados sempre, ora desenhando, ou até mesmo opinando sobre lugares que achavam incríveis. A pluralidade de opiniões divertia os enfermeiros que sempre estavam por ali pra manter os picos de avaliação da Camila atualizados, já que pra Camila prédios e casas eram sempre locais favoritos e perfeitos, e Noah preferia árvores e lagos.
Quando não conseguia um tempo maior com sua mãe, ele tentava deixar algo seu com ela, mas desde o primeiro dia de internamento da Camila para sua recuperação, o garoto trouxera seu boneco Batman, deixando sobre a pequena mesa ao lado da cama, e confiando ao seu amigo o poder de proteger sua mãe de tudo.
Na manhã seguinte, quase uma semana após o ocorrido, Normani apareceu no quarto de Camila. A mulher estava sozinha, seu olhar direcionado completamente para a janela, onde era possível ver o céu e os rastros de cidade: sons, vozes, luzes, calor eminente... Vida.
Camila migrou o rosto para Normani que tinha o corpo coberto por tinta, uma blusa desbotada com mais tons espalhados, alguns traços em vermelho pelo rosto. Na cabeça, ela usava um gorro vermelho e óculos escuros no rosto, mesmo a temperatura estando completamente normal na sala.
A mulher caminhava com dificuldade, pois segurava um cavalete no braço esquerdo e a paleta de tintas numa enorme mochila com frascos de tinta visíveis, já que a mochila nem mesmo fechava.
— Olá Camila, feliz dia vermelho. — Ela colocou o cavalete nos pés da cama e a mochila no chão. Retirou a tinta vermelha, mergulhou o indicador direito e se aproximou de Camila, fazendo um risco na horizontal em sua bochecha esquerda. — Estamos prontas para o dia, devidamente posicionadas para começar a curtir apropriadamente.
Camila que nada entendia levantou da cama e seguiu na direção de Normani, onde estava o cavalete. Normani posicionou melhor o gorro vermelho e virou-se para Camila sorrindo.
— Te trouxe um quadro completamente pronto pra ser pintado, eu já fiz minha parte e ele está secando enquanto o dia corre. Ainda é cedo, então teremos tempo pra o seu também.
Camila virou-se completamente para o cavalete e notou que o quadro na verdade não estava branco, estava pintado de vermelho, total e completamente. Ela arqueou a sobrancelha na direção de Normani que cantarolava enquanto retirava os pincéis da mochila. — E-eu acho que não dá pra pintar esse quadro. — Camila sussurrou, mas foi suficiente pra Normani parar sua atividade e virar pra garota.
— Claro que dá. Você não pode julgar um quadro pela cor dele, e temos motivos plausíveis para ele estar vermelho. — Normani puxou a tinta branca do fundo da mochila e tirou a tampa com cuidado. — Primeiro, hoje é o dia vermelho, então nada mais justo. — Ela colocou sete pincéis posicionados entre a tinta branca. — Segundo, você não precisa enxergar o mundo ou sua tela apenas de uma cor, pode misturar tudo e acrescentar algo que seja mais visível ali. — Normani olhou novamente para o quadro e sorriu. — E é legal ver as coisas de outro modo, desse jeito, vai parecer que o vermelho está mergulhado sobre seus traços, experimente com a tinta branca.
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Silver Linings Playbook ♣
أدب الهواةLauren é uma mulher que aprende sobre sentir e amar ao encontrar um doce menino, Noah, que precisou crescer cedo e que mesmo transbordando bondade, não recebe atenção da sua mãe. As coisas se tornam proporcionalmente intensas quando a vida de Laure...