Magia

Amigos e Solidão

Continuo ali pensando um pouco na vida, Harry, Hilton e Geovana me dava uma sensação de nostalgia,  era mais ou menos tudo que não tive quando criança.

A maioria delas crescem brincando na rua, jogando bola, empinando pipa, rodando pião e essas coisas, enquanto eu passava as minhas tardes lendo, lia bastante em minha solidão.

No orfanato eu costumava a ir escondido na biblioteca e ficava ali por horas em silêncio, lendo, me imaginando no lugar dos personagens. Sempre gostei das histórias de detetives,  Sherlock Holmes por exemplo, sempre me encantou sua astúcia e seu modo prático de pensar, li vários de seus contos e costumava a me imaginar como ele e tentar desvendar o caso antes de ler a conclusão, por fim acabava mais sendo um doutor Watson e me maravilhava com a brilhante dedução de Holmes e as resoluções dos casos.

Além da literatura do Sir Arthur Conan Doyle, eu adorava gibis, turma da Mônica,  particularmente penso que Maurício de Sousa é um gênio da atualidade, como aborda temas sobre preconceitos e acessibilidade com humor e de modo leve. Adorava os planos malucos do Cebolinha, as invenções malucas de Franjinha, a beleza das artes de Marina, as esquisitices de Do Contra, mas adorava mesmo de verdade o Nimbus, o mágico da turma, pena que ele aparece tão pouco.

Por falar em mágico, havia um em especial que li umas quarenta e cinco mil vezes, As Grande Mágicas do Mundo, conta história sobre  mágicos que faziam coisas incríveis. Foi daí que surgiu meu interesse por mágica, afinal seria bom sumir e nunca mais aparecer naquela vida solitária que vivia.

Os livros em si, eram meus amigos,  não tinha nenhum outro além deles, falava o básico com as outras crianças do orfanato, estudava prestava atenção nas aulas, mas não me enturmava, mal falava com os professores só o excencial mesmo, eles não se incomodavam muito com isso, já que minhas notas eram ótimas, tenho orgulho em dizer que nunca tirei nenhuma nota vermelha e nunca precisei colar de ninguém, não passava cola, mas não me importava se conseguissem colar de minhas provas e trabalhos.

Saía da aula fazia as minhas obrigações no orfanato, como arrumar o quarto, às vezes lavar um dos banheiros, ou qualquer outro a fazer e depois corria para a biblioteca procurar livros novos para ler.

Nunca estava presente quando apareciam casais amorosos e cheios de carinho a oferecer para adotar uma criança, então não fui adotado também por minha culpa, não me importava de verdade já que, apesar de tudo, não queria substituir meu pai e nem minha mãe.

E era assim que seguia minha vida solitária, talvez por isso que eu insista tanto que carinho e amor é mais importante que uma boa condição financeira. Carinho e companheirismo que eu tive de Magic,  ele foi o único amigo de verdade que tive em minha adolescência,  contava pra ele sobre tudo da minha vida.

Hoje estou aqui, pensando na vida, continuo com poucos amigos, dá para contar nos dedos a quantidade exata. Tem a Lauren uma das assistente de Magic e me assistiu muito tempo depois seguiu sua carreira, perdi contatos total com ela. Tem Harry que se tornou um dos melhores amigos que alguém se pode ter, Joseph que virou um parceiro e bom, tinha Roger que resolveu mudar de lado.

Meu show tem um pouco haver com isso!

- Serviço de Quarto! - Harry grita na porta
- Oi, entra - Ele entra me olha jogado na cama olhando pro teto - eu não pedir nada
- Hahaha verdade, mas resolvi vim aqui beber um pouco com o amigo já que você não desceu hoje

Ele está com uma garrafa de Whisky e está sem uniforme, já estava na hora dele ir.

- Já que insiste hahaha - me levanto pego um copo e me sirvo - Tin tin
- E aí, por que se isolou hoje?
- Cara eu ia almoçar, mas fiquei aqui pensando na vida e só percebi o tempo passando agora
- Muita coisa pra pensar?
- Um pouco. E você como está se saindo?
- Bom, hoje contratei uma galera, mas Joseph apareceu e disse que estou de férias então só volto daqui a um mês
- Tem férias vencidas né? Tem que sair mesmo, leve o Seu Hilton e a dona Geovana para passear viu
- Hahaha tenho outros planos, vou reformar a casa pra eles, eles queriam tanto isso
- Hahaha isso também é bom, leve-os ao meu show
- Ah isso com certeza, eles a Judith e o Hevert já disseram que serei obrigado a leva-los
- Que bom, espero que seja bom pra todos
- E como esta a preparação?
- À marcha lenta, mas tudo vai dar certo!

A gente fica ali conversando e bebendo, secamos a garrafa de Jack Daniels, aliás eu praticamente sequei ela sozinho,  Harry bebeu duas ou três doses. Não bebo muito, mas adoro whisky,  e não vou sair mesmo então, por que não beber?

Umas horas depois ele tira um maço de baralho do bolso e diz que quer me mostrar uma coisa

- Estive aperfeiçoando - Ele diz embaralhando as cartas
- Ok, vamos ver
- Puxa uma carta - Puxo um 10 de ouros - Segura ela, agora vou descobrir que carta é - ele põe a mão na cabeça aperta os olhos - Naip de Ouros hum... Um J de Ouros?
- Não
- Não?  Como não? Olha de novo
Olho e vejo o J de Ouros escrito na carta "obg por tudo amigo" - Porra eu que agradeço, e esse foi realmente muito bom!
- Hahaha aprendi com o melhor - Ele tira uma caixa do bolso embrulhada - Bom J, quando eu voltar você não estará mais aqui então queria te dar um presente por tudo que fez por mim e por minha família

Pego a caixa  abro e vejo um relógio um Technomarine preto, lindo de verdade e caro muito caro!

- Cara eu não sei nem o que te dizer. Eu não te dei nada assim tão caro
- O que você nos deu vale mais que dinheiro. Diz aí J quanto dinheiro vale o sorriso das crianças na Instituição? Ou quanto vale o sorriso de meus irmãos quando ganharam os brinquedos? Ou o sorriso do meus pais quando os presentiei? Ou a prisão de Jorge Sony e a devolução de todo dinheiro para as famílias que ele lesou? Isso é pouco perto de tudo que fez por nós,
- Obrigado

Abracei meu amigo eu estava quase chorando fiquei emocionado de verdade. Ele não sabe que eu ganhei muito mais do que eu poderia dar a alguém, dinheiro não é a metade do que ele me deu, ele disse das crianças, mas o sorriso delas o carinho que recebi pra mim vale muito. Cada minuto nesse hotel me valeu de mais

- Agora eu vou indo e J foi muito bom te conhecer
- Digo o mesmo.

Ele se vai e eu caio na cama olhando pro relógio,  é lindo, mas o mais valioso foi ganhado de um amigo e eu que sempre tive tao pouco disso!