Capítulo 1

210 20 7
                                    

Uma pancada na cabeça me faz acordar. Abro os olhos de forma preguiçosa e percebo que mamãe estacionou o carro do lado de fora de uma casa branca relativamente grande para três mulheres —considerando que uma delas, eu no caso, tem dezesseis anos e outra, sete. Elly praticamente salta para fora do carro, animada para ver seu novo lar. Não importa a situação, ela sempre está cheia de energia e positividade. Eu, por outro lado, não estou com muita vontade de sair do carro. A única coisa que vai mudar é que minha mãe vai estar ganhando mais aqui do que lá em Denver. Eu ainda vou morar em um lugar frio, ainda vou ter que frequentar uma porcaria de escola, ainda vou passar minhas tardes lendo sozinha ou levando Elly ao parque... Tudo igual.

Apesar de tudo isso, ainda me proporciona certo alívio pensar que minha cama está aí dentro. Já cansei de ter que dividir um saco de de dormir com minha irmã na sala. Ela pode ser bem pequena, mas chuta demais enquanto dorme. Não vejo a hora de rever minhas coisas e ter novamente um quarto só meu.

Abro o porta-malas e pego minha única caixa. Nela, estão as poucas coisas que eu me recusei a colocar no caminhão de mudanças. Meu livros de Shakespeare, algumas fotos minhas com minha família, mais livros, alguns DVDs... Ah, e mais livros. É, bem, eu leio bastante...

Observo o espaço à minha volta. Todas as casas do condomínio são extremamente parecidas. Estão todas enfileiradas do lado direito da rua, enquanto, do outro, extende-se uma florestinha. Consigo avistar um parquinho não muito longe daqui. Elly, pelo visto, também percebeu.

—Um parquinho! Um parquinho! —diz, eufórica.

—Certo, Elizabeth —minha mãe afaga sua cabeça com pouca paciência. —Depois Skyler pode te levar lá para dar uma volta. Certo, Sky?

—Hum... Claro —concordo, mas a verdade é que não tenho lá muita escolha.

Nós entramos em nossa nova casa. A primeira coisa que percebo é o cheiro agradável de pinheiro espalhado por toda sala. Esta possui caixas por todo lado. Acho que a única coisa que não está encaixotada é o sofá, que está logo abaixo de uma grande janela. Eu adoro janelas grandes. Não só pela luz natural que entra por causa delas, mas também pela própria estética.

—Meninas, vão para os seus quartos —mamãe pede. —Comecem a desencaixotar, certo? Elly, você está no segundo quarto do corredor. Sky, o seu é o último.

Concordamos, então subimos as escadas e cada uma vai para sei respectivo quarto. Elizabeth entra sem hesitar, mas eu fico parada por alguns segundos na frente da porta, meus dedos envolvendo a maçaneta gelada. Não sou boa com surpresas. Respiro fundo e entro.

Assim que a porta se abre, um esboço de sorriso surge em meu rosto. Devo confessar, é maior que meu antigo.

A cama foi posicionada bem à esquerda de uma janela retangular que dá para a lateral do terreno. Através dela, consigo ver a rua e a residência de meu vizinho, além daquela florestinha no lado esquerdo. Deve ser bonito à noite.

Quando recuo, esbarro em uma das caixas e caio de costas no chão. Ai. Levanto-me com certa dificuldade e decido que é melhor parar de enrolação e arrumar meu quarto antes que ocorra outro acidente. Abro a caixa que me fez tropeçar e sorrio ao ver meus globos de neve. Faço coleção deles desde que me entendo por gente. Resolvo posicioná-los sobre uma prateleira perto de onde pretendo colocar minha escrivaninha. Deixo meu despertador ao lado de alguns de meus livros no criado mudo, então ponho os outros na parte de cima da cômoda.

Penduro minhas roupas que, segundo Elly, são "as mais sem graça do mundo". De fato, meu estilo é um pouco incomum para alguém da minha idade. Gosto de saias rodadas, casacos largos, cachecóis, gorros... Além disso, quando não estou calçando botas, estou com uma daquelas sapatilhas estilo boneca. Quando mais nova, eu gostava de usar peças mais vibrantes, mas com o passar do tempo, fui ficando mais "entediante".

***

Demorou um pouco para eu conseguir deixar o meu quarto habitável, mas finalmente consegui me livrar de todas aquelas caixas. Resolvi deixá-lo um pouco diferente do original, colocando a escrivaninha longe da janela e a cômoda longe da cama. Não criou tanto impacto quanto eu imaginava, mas já é algo.

Deixo eu corpo exausto desabar sobre a cama. Eu realmente preciso ficar mais em forma. Posso não ter problemas com relação ao meu peso, mas minha resistência não poderia ser pior. Solto um suspiro demorado e encaro o teto. Por algum motivo, meu pai me vem à cabeça. Ele saberia nos encontrar agora? Quando eu tinha dez anos, ele e mamãe brigaram feio, então papai saiu de casa e nunca mais voltou. Sei que é idiota, mas eu sempre achei que algum dia ele iria simplesmente aparecer, pedir desculpas e voltar para nossa vida. Agora, ele não vai mais saber onde nos achar. Eu ia deixar um bilhete, mas esqueci...

Reviro os olhos e esfrego a testa. O que eu estava pensando? Bilhete? Sou muito iludida...

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora