Capítulo 5

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Brinco com meu lápis enquanto a professora pede para que façamos duplas. O número de alunos na sala é par, então sei que não ficarei sozinha. Espero pacientemente para ver quem será o sujeito que vai ter que me aguentar pelos próximos quarenta e três minutos.

—Hey —uma voz feminina me chama. —Tem dupla?

Olho para trás e deparo-me com a garota mais baixinha que já conheci na vida. Tentando não deixar minha expressão facial revelar o que acabei de pensar sobre sua estatura, faço que não com a cabeça.

—Ótimo —diz, sentando-se perto de mim. Não parece muito feliz por ter sobrado...

Abrimos nossos livros na página indicada no quadro negro. Adoro do som de páginas se virando em conjunto pela sala. Provavelmente é a única coisa da qual eu gosto aqui na escola...

Começo a ler, mas logo paro. Não consigo me concentrar. Observo a garota ao meu lado por alguns instantes, analisando demoradamente os mais sutis detalhes de seu rosto. Algo dentro de mim quer puxar assunto com ela, nem que seja apenas para me apresentar. Conversar... Acho que é isso que as outras pessoas fazem quando querem novos amigos.

—Meu nome é Skyler —forço um sorriso.

—Mandy —responde sem desviar os olhos do papel. Simpática...

—Você... Você sempre estudou aqui? —finjo interesse.

—Não —responde secamente.

Fico quieta por alguns segundos. Será que devo falar mais alguma coisa?

—Aqui é bem frio, não é?

—Estou tentando ler —ela grunhe, impaciente.

—Ah, claro. Ler... É, eu... Eu também deveria ler. Deveria, não? —balbucio. —Bem, eu... Eu vou ler.

Ela apenas me encara com o cenho franzido. Neste momento, tudo o que quero é cavar um buraco no chão e me esconder nele. O que tem de errado comigo? Por que estou agindo assim? Reviro os olhos e volto a focar no meu livro. Ficar quieta parece ser a única coisa que faço direito...

Consigo ler pouco mais de um parágrafo antes de me distrair de novo, mas dessa vez, não tem nada a ver com Mandy. Aquele garoto estranho me vem à mente mais uma vez. Céus, por que eu penso tanto nele? Um misto de medo e curiosidade me invade sempre que repasso a cena de ontem na cabeça. "Vá para casa, Skyler". Será que era uma ameaça ou um aviso?

Tento deixar esse assunto para lá e voltar a ler, mas é quase impossível. Minha cabeça, como sempre, está em outro lugar...

***

Não que o dia tenha sido maravilhoso, mas foi bem melhor do que ontem. Elly aconchega sua pequena cabeça sobre minhas pernas enquanto tenta pegar no sono. Ela raramente dorme no carro, mas hoje está extremamente cansada. Teve um pesadelo durante a madrugada e não conseguiu voltar a pegar no sono...

—Skyler —mamãe chama minha atenção quando estacionamos . —Hoje passei na frente de uma vitrine e vi algo que me lembrou imediatamente a você. Está em cima da sua cama. Acho que você vai gostar...

Dou-lhe um beijo breve na bochecha e entro animada em casa. Enquanto subo as escadas, tento adivinhar o que seria. Sei que mamãe conhece meu gosto muito bem, o que me deixa ainda mais ansiosa. Abro a porta do meu quarto apressadamente e deparo-me com uma caixinha vermelha sobre minhas cobertas. Puxo delicadamente uma das pontas do lacinho cor de rosa que a envolve e removo a tampa.

—Não acredito... —sussurro enquanto levo as pontas dos dedos aos meus lábios sorridentes.

Retiro o pequeno globo de neve da superfície de papel de seda branco e o chacoalho. Observo, então, os flocos falsos caírem sobre uma miniatura da cidade de Nova Iorque. É tão delicado, tão bem feito...

—Eu achei que você ia gostar —diz mamãe, entrando no quarto.

—É lindo —suspiro enquanto ela se senta ao meu lado, afundando um pouco o colchão. —Obrigada.

—De nada —diz, dando-me um beijo no topo da cabeça. —Sky... Eu sei que a mudança está sendo difícil para você, mas quero que saiba que eu estou aqui ao seu lado, não importa o que aconteça. Logo tudo vai se ajeitar.

—Eu sei —minto. As coisas já estavam "difíceis" antes da mudança.

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora