Capítulo 11

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Foi um sonho?

Essa é a primeira coisa na qual penso quando meus olhos se abrem. Skyler, sua idiota, claro que foi um sonho! É óbvio, não é? Observo o quarto silenciosamente. Tudo está tão calmo... Sinto vontade de voltar a me embrulhar nas cobertas, mas forço-me a ficar de pé e ir até o banheiro.

Olho para meu reflexo no espelho. Céus, minha imagem é lamentável. Eu não podia estar mais pálida e minhas olheiras nunca estiveram tão profundas e escuras. Lavo meu rosto em uma tentativa falha de expulsar a preguiça, então jogo minha toalha sobre o vidro do box e entro no mesmo. Permaneço parada por alguns segundos, apenas sentindo a água morna chocando-se contra o topo de minha cabeça.

Devo admitir que não estou assustada ou confusa. Estou triste. Triste porque eu queria que aquilo tivesse sido mais que um sonho. Às vezes, sinto-me presa na realidade. O mundo real parece tão... sem graça. Talvez isso seja consequência da minha paixão por livros. Eu vivo em mundos de fantasia, com dragões, fadas, magia, princesas, mistérios... E é por causa disso que a realidade parece tão dura. Em um momento estou sonhando com mundos fantásticos e, no outro, estou fazendo a lição de casa e pensando em que carreira vou seguir. Eu odeio isso.

Termino de tomar banho e seco meus cabelos, então visto-me e desço as escadas. Mamãe me aguarda no andar de baixo junto a Elly. Sobre meu prato, há uma fatia de torta de morango.

—A receita é nova —minha mãe explica enquanto sento-me e sirvo um pouco de suco de uva no meu copo.

Sorrio em agradecimento e provo a torta. Parece um pouco amarga no começo, mas então fica doce. Sinceramente, acho que nunca descobrirei como ela conseguiu deixar uma torta de morango amarga. Elly come sem reclamar, sinal de que deve estar com fome ou de que não quer magoar mamãe. Quando necessário, minha irmã é uma excelente mentirosa.

—Então, meninas, já que hoje é sábado, eu pensei que poderíamos ir ver um filme —propõe.

—Sim! Sim! —Elizabeth sorri.

Concordo com a cabeça e tomo mais um gole do meu suco. Provavelmente acabaremos assistindo a algum desenho que minha irmã escolher, o que não será lá tão divertido. Eu gosto de animações, mas não da sala lotada de crianças chutando os assentos e derrubando pipoca para todo lado...

***

Finalmente saímos do cinema. O filme era até bonitinho, mas tinha um homem do meu lado que ria de absolutamente tudo. Nem as crianças gargalharam tanto! O problema nem era o fato de ele rir, mas sim o volume com o qual ele o fazia. Era ensurdecedor e ecoava pela sala inteira! No começo era até fofo, mas depois de uma hora e quarenta ao seu lado, eu já estava enlouquecendo...

Está chovendo bastante. Nós entramos no carro o mais rápido possível, mas ainda assim acabamos ensopadas. Elly parece estar achando graça da situação, mas eu e minha mãe estamos desesperadas para voltar para casa e trocar de roupa. Não que temperaturas baixas sejam novidade nesta parte do país, mas isso não torna o frio menos desagradável.

Mamãe dirige em silêncio. Ignoro minha irmã tagarelando sobre o desenho e concentro-me na paisagem fora do carro. Há algumas pessoas correndo por aí com jornais sobre a cabeça, tentando inutilmente se manterem secos. Algumas crianças pulam sobre as poças de água, divertindo-se enquanto são repreendidas pelos pais. Todos fecham suas janelas e alguns até mesmo puxam suas cortinas. Não entendo como alguém pode não gostar de ver a chuva. Eu sempre a achei tão... bonita. Dias nublados e chuvosos costumam ser meus favoritos. O som das gotas chocando-se contra o chão, o cheiro que fica quando acaba...

Não demora muito para chegarmos em casa. Subo correndo até o meu quarto e troco minhas roupas ainda úmidas e geladas por um pijama quentinho e um par de meias grossas.

—Meninas —mamãe chama. —Vão querer jantar?

—Não, obrigada —Elly responde do seu quarto.

—Nem eu, mamãe —elevo a voz para que ela me ouça. Nós nos entupimos de pipoca e doces no cinema.

Escovo os dentes, pego um livro e vou para a cama. Tento ficar relaxada e me concentrar na leitura, mas não consigo ler mais que três frases antes dos flashbacks do sonho que tive ontem me distraírem novamente. Céus, como aquilo foi maravilhoso... As flores, a borboleta, o brilho...

Acomodo-me na posição fetal e, com algumas lágrimas ameaçando escapar dos meus olhos, tento aceitar a ideia de que nada daquilo foi real. É difícil, devo admitir. Sinto-me aprisionada na realidade. A cada dia fica mais claro que eu não me encaixo no mundo real... E isso é uma droga.

Pouco a pouco, o choro é substituído pelo sono. Estou quase adormecendo quando um barulhinho na janela me acorda. Parece que algum objeto pequeno chocou-se contra o vidro...

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora