Capítulo 21

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Minhas pernas ficam bambas e meu queixo despenca. Não é possível. Luke se diverte com meu espanto, deixando um meio sorriso se formar em seu rosto. Acho que ele não consegue ser mais expressivo do que isso, mas já é suficiente.

É um lago congelado, com píer e tudo. Tem um aspecto abandonado, como se ninguém viesse aqui há anos. Céus, é enorme! Rodeado por árvores altas, com as bordas cobertas de neve. A Lua é refletida na superfície lisa e cristalina, criando uma visão tão maravilhosa que parece ter saído de um sonho ou de um conto de fadas.

—Sabe patinar? —ele pergunta.

—Mais ou menos. E você?

—Mais ou menos —olha para o lago. —Quer tentar?

Sem esperar por minha resposta, vai até ponta do píer e desce com cuidado. Se desequilibra um pouco no início, mas logo consegue ficar firme de pé.

—Você vem ou não?

Sorrio e vou até a ponta do píer. Sento-me e o encaro, receosa.

—Será que não vai ceder? —indago, referindo-me à superfície congelada.

Ele não responde, apenas me oferece a mão. Hesito um pouco, mas acabo aceitando a ajuda. Assim que minhas sapatilhas tocam o gelo, perco o equilíbrio e quase caio. Luke segura meus braços firmemente, ajudando-me a me estabilizar. É possível sentir o frio de seus dedos através de meu pijama, mas isso já não me surpreende tanto.

Nessa posição, um apoiado no outro, vamos nos movendo. À princípio, sou a mais atrapalhada, mas ele também acaba dando algumas vaciladas. Enquanto nossos sapatos deslizam sobre a camada de água sólida, peixes luminosos e coloridos nadam sob a superfície. O lago inteiro se ilumina com a presença dos bichinhos, que rodopiam de um lado para o outro, cercando-nos e passando entre nós como se quisessem socializar.

Nossos movimentos acabam lembrando a uma dança. Atrapalhada, claro, mas ainda uma dança. Eu rodopio para lá, ele desliza para cá, nós nos encontramos e nos seguramos um no outro para não cairmos. Acho que nunca tínhamos feito tanto contato assim antes.

Acabamos rindo de nossa falta de equilíbrio e coordenação. Sim, rindo. Até gargalhando, em certos momentos. Luke sorri. Com dentes, lábios, bochechas e olhos. Ouço uma risada de verdade saindo pela sua boca. Pura e genuína. Tão agradável e sincera que acaba me contagiando.

Entre giros, risadas e sorrisos, permito-me dedicar um pouco de minha atenção às algas brilhantes embaixo d'água. Não tinha reparado nelas. As tiras se enrolam e contorcem, parecendo animais compridos e divertidos. A maioria é cor de rosa, mas consigo identificar tons de laranja, vermelho e roxo lá no meio.

Exaustos, nós nos sentamos na borda grossa do lago. Apesar de não dizermos nada, está claro que essa experiência nos tornou muito mais próximos e fortaleceu a confiança que temos um no outro.

—Me surpreende que as pessoas não venham aqui... —comento, rompendo o silêncio.

—É melhor assim —diz, afastando os cachos loiros de seus olhos. —Pessoas são uma droga. A maioria não teria respeito algum por este lugar.

—Provavelmente fariam um hotel ou coisa do tipo...

—"Hotel Floresta Mágica: traga seus filhos e venha explorar o bosque encantado".

—"Não alimente os bichos luminosos".

—"Com direito a patinação no gelo e cachoeira".

Rimos da situação. É legal conhecer este outro lado de Luke.

—Acho que já está bem tarde. Não deveríamos voltar? —indago.

—Vá indo. Vou ficar mais um pouco. Talvez eu te alcance depois.

Concordo com a cabeça e me levanto. Afasto-me do lago com certa tristeza, pois, se pudesse, ficaria aqui por anos. Até para sempre, quem sabe... Antes de perdê-lo de vista, olho uma última vez para Luke, que se deitou de costas no meio da superfície de gelo. Imóvel e em silêncio, encara o céu estrelado. Gostaria muito de saber no que ele está pensando, mas acho que nunca vou descobrir...

 Gostaria muito de saber no que ele está pensando, mas acho que nunca vou descobrir

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