Capítulo 20

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Assim que vejo Luke passar perto da minha casa, saio rapidamente do quarto e desço as escadas. Quando abro a porta, dou de cara com ele. Assumo que tenha notado a expressão aterrorizada em meu rosto, pois franze um pouco as sobrancelhas.

—Está tudo bem? —indaga, mantendo o tom de voz indiferente e calmo de sempre.

—Não —gaguejo. —Quer dizer, eu não sei...

—Por que você não respira fundo e tenta formular sua frase?

Fecho os olhos e engulo em seco, organizando as palavras dentro de minha cabeça.

—As consequências... —suspiro. —Eu acho que estou sofrendo os "efeitos colaterais"...

Ele desvia o olhar, pensando que algo que não consigo adivinhar graças à sua falta de expressão. Por longos segundos, observo, em silêncio, suas íris acinzentadas moverem-se de um lado para o outro, acompanhando seu misterioso raciocínio.

—O que te faz assumir isso? —é tudo o que diz.

—Eu... —respiro fundo. —Eu tive uma espécie de apagão ontem. Estava com Elly no parque, então senti uma forte dor de cabeça. Quando a dor passou, eu estava dentro de uma poça de lama, perto da floresta. Passou-se quase uma hora até eu aparecer lá e eu não me lembro de nada do que aconteceu nesse intervalo.

Estranho... —ele toca o próprio queixo com a ponta dos dedos pálidos. —Foi a primeira vez que teve um apagão desse tipo?

—Não —admito. —Eu tinha alguns quando era pequena, mas eles foram parando com o tempo.

—Sua mãe sabe?

—Até onde sei, eu estava sempre sozinha durante os apagões —passo a mão pela nuca. —Fui uma criança meio solitária...

Luke volta a desviar o olhar.

—Não acha que pode ser só coincidência? —questiona.

—Eu não tinha esse tipo de apagão há anos —explico. —O fato de eles terem voltado logo agora não pode ser puro acaso...

O silêncio reina novamente.

—Você quer parar de ir à floresta?

A pergunta me atinge como um soco no estômago. Há muita coisa em jogo aqui. Eu posso perder minha saúde, minha sanidade... E se for irreversível? E se voltar à floresta agravar os sintomas? Mas... aquele lugar é o que vem dando sentido à minha vida. Não possuo amigos na escola, nunca beijei, não tenho namorado, provavelmente sou tímida demais para passar em entrevistas de emprego... O que seria de mim se eu perdesse essa válvula de escape? Livros não seriam mais suficientes para eu poder fugir da realidade.

—Não posso te obrigar a voltar... —diz, neutro. —Mas não acho que você deva desistir.

Encaro a Lua sobre nossas cabeças. Está tão grande e carregada de brilho... Quase começo a chorar.

—Além do mais... —ele continua. —Eu pretendia te levar para um lugar novo hoje. Provavelmente é o último que você precisa ver para conhecer o mínimo necessário da floresta.

Respiro fundo, sentindo lágrimas se acumularem nos cantos de meus olhos.

—Vamos lá... —dou um sorriso triste.

***

A caminhada acaba sendo um pouco assustadora. A cada vez que uma borboleta brilhante some atrás de um tronco ou uma flor se apaga depois de passarmos por ela, imagino minha saúde mental indo embora. Aos poucos e discretamente, ela iria me abandonar, sendo sugada por alguma força desconhecida que dá vida a esta floresta.

Noto também o gelo sob os sapatos de Luke. Como demorei tanto para notá-lo? Talvez estivesse encantada demais para perceber os sinais evidentes que que havia algo de errado com ele. Ou comigo.

Passamos pela cachoeira. Olho para dentro de suas águas cristalinas, onde peixes coloridos nadam de forma agitada, balançando suas caudas enquanto desviam das algas.

—Estamos chegando —ele avisa. —Estaremos lá dentro de alguns minutos.

Lá... Onde será que ele está me levando? O que poderia ser mais marcante do que todas as coisas maravilhosas e impossíveis que vimos até agora?

 Onde será que ele está me levando? O que poderia ser mais marcante do que todas as coisas maravilhosas e impossíveis que vimos até agora?

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Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora