Capítulo 10

52 7 0
                                    

Sono. Finalmente estou com sono. Tento não pensar nisso, pois meu cansaço parece ser tão frágil que a simples menção ao mesmo pode destrui-lo. Esforço-me para manter a cabeça vazia e apenas desfrutar do peso surreal que minhas pálpebras parecem ter. Devo confessar que senti falta disso...

Quando estou prestes a adormecer, um barulho na janela me traz de volta à realidade. É como se eu estivesse submersa e alguém me puxasse bruscamente de volta à superfície. Com um grunhido, pressiono o rosto contra o travesseiro, amaldiçoado mentalmente o galho ou inseto que chocou-se contra o vidro. Mas então o som se repete novamente. E de novo. E de novo...

Bufo contra as cobertas e, sem a menor disposição, sento-me na cama a tempo de ver um pequeno objeto vindo do lado de fora estalar contra a janela e cair, desaparecendo atrás da parede. Cravo as unhas nos antebraços, coisa que às vezes faço quando me assusto. Hesitante, encosto meus pés no chão gelado e me levanto.

Caminho lentamente até a janela e, ignorando o medo e o receio —ou ao menos tentando—, eu a abro. Meus olhos voltam-se para baixo, onde uma silhueta escura movimenta-se perto de alguns arbustos secos. Assustada, debruço-me um pouco a fim de enxergar melhor.

—Luke? —sussurro, surpresa. —O que você está fazendo aqui?

—Você pode descer? —indaga.

Fico quieta. Como é?

—Por que eu faria isso? —indago, confusa.

—Eu quero te mostrar algo... —responde.

—Me mostrar o quê? —insisto, arqueando uma sobrancelha.

—Se quiser saber, desça...

Bufo alto o suficiente para que ele ouça.

—Espere um pouco —suspiro, derrotada.

Fecho a janela e permaneço parada por alguns segundos, encarando meu próprio reflexo no vidro. Será que estou fazendo algo idiota? Certo, eu definitivamente estou fazendo algo idiota... Ainda assim, admito que estou extremamente curiosa para saber o que ele quer me mostrar. Calço um par de sapatilhas e visto um grosso casaco de lã. Antes de sair, guardo meu velho abridor de cartas no bolso do abrigo. Para ser honesta, nunca o utilizei. Minha avó me deu há alguns anos porque eu tinha mania de ficar passando o dedo pelas flores de metal da base do objeto.

Saio do quarto silenciosamente e desço as escadas. Consigo ver Luke me esperando na rua através da janela da cozinha. Ignorando a voz dentro da minha cabeça que suplica para eu voltar para o meu quarto, saio de casa e vou ao seu encontro.

—Então... O que você queria me mostrar? —tento esconder meu medo.

Ele faz sinal para que eu o siga. Reviro os olhos e, ainda um pouco receosa, obedeço.

Caminhamos um pouco pela rua deserta. A iluminação proveniente dos postes de luz é extremamente fraca e oscilante, então conto com a luz da Lua para observar o ambiente à minha volta. Devo admitir que não é uma estratégia muito boa, afinal, já tropecei em pelo menos cinco pedrinhas e buracos pelo asfalto. É estranho pensar que Luke faz esse trajeto todos os dias...

—Aqui —ele diz, parando perto da entrada da floresta situada no lado esquerdo da rua.

—Como assim? —cruzo os braços, olhando intimidada para as enormes árvores ao meu lado.

—O que eu quero te mostrar fica na floresta —explica. —Confia em mim?

Com a ponta dos dedos, encosto no abridor de caras dentro de meu bolso.

—Eu... Eu acho que sim —gaguejo.

—Certo —olha para mim. —Antes de entrarmos, prometa que você nunca fará isso de novo.

—Isso o quê?

—Aceitar entrar em uma floresta escura com um cara que você não conhece no meio da madrugada —um esboço de sorriso surge em seus rosto.

—Hum... Certo —concordo. Fico tentada a mostrar o objeto em meu bolso para que Luke saiba que não são tão estúpida e ingênua quanto ele deve estar pensando, mas resolvo deixar meu orgulho de lado e me lembrar de que o abridor de cartas ainda pode ser útil. Afinal, eu obviamente ainda não descartei a possibilidade de ele ser um psicopata assassino ou coisa do gênero...

Ele entra na floresta. Agarrando discretamente a ponta de metal do utensílio, eu o sigo...

A floresta tem cheiro de terra e chuva. Galhos estalam à medida que se rompem sob nossos passos apressados. Luke parece conhecer o caminho como a palma da mão, pois, diferentemente de mim, não esbarra em nenhuma raíz ou tronco caído.

—Luke, espera... —peço, ofegante. Minha resistência não é das melhores...

—Nós já chegamos —diz. Está muito escuro, mas consigo vê-lo abrir os braços como se exibisse o lugar.

Engulo em seco. Não tem nada aqui. Como pude ser tão burra?! Desesperada, retiro o abridor de cartas do bolso e preparo-me para atacá-lo, mas então detenho-me. Meu braço praticamente despenca enquanto meus olhos se arregalam, acompanhando os movimentos de um par de pequenas asas azuis que brilham no escuro.

—Gostou? —indaga, olhando também para a borboleta.

Guardo rapidamente o utensílio de metal no meu bolso e, com a maior delicadeza, levanto a mão. O inseto luminoso bate suas asas algumas vezes antes de pousar sobre meu dedo indicador. Meu queixo cai e lágrimas quase escapam de meus olhos. Ela é tão linda, tão frágil...

—O que... O que é isso? —sussurro, temendo que a borboleta se assuste.

Luke apenas caminha à minha volta, observando meu entusiasmo com um sorriso discreto. É então que percebo as luzes coloridas surgindo pelo caminho que ele traça, logo atrás de seus sapatos. Perco o ar e agacho-me a tempo de ver algumas das pequenas flores abrindo suas pétalas, revelando um interior brilhante. São em maioria brancas, mas há algumas rosadas, outras roxas, outras azuis como a borboleta, algumas amarelas...

Brotos se abrem pelos troncos, quase alcançando as copas das árvores. Começo a girar, tentando contemplar tudo à minha volta. O que é tudo isso? O que está acontecendo?

—Luke, isso é... Isso é... —perco o fôlego. Lindo? Maravilhoso? Fantástico? Nenhuma dessas palavras parece servir para descrever este lugar...

—Pois é... —sorri, achando graça do meu estado.

Não sei onde pisar. Não quero esmagar nenhuma das flores luminosas... Hesitante, acaricio a pétala do que suponho ser uma jasmim ou coisa parecida. Sua superfície é tão macia, quase aveludada.

—Skyler, acho melhor você voltar para casa —Luke adverte. —Sua mãe pode notar sua ausência...

—Certo... —digo, mas não consigo me mover. Meus olhos não conseguem se desviar do brilho emitido pelas plantas.

De repente, elas começam a se apagar. Assusto-me e olho para trás, onde Luke encontra-se caminhando de volta para a rua. As flores perdem o brilho enquanto ele se afasta. Com medo de ficar sozinha no escuro, corro em sua direção.

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora