Minha caneta gira pelos meus dedos, passando de um para o outro em uma questão de segundos. Tenho mania de fazer isso com quase todos os utensílios dentro do meu estojo, principalmente quando estou focada em algo. Neste caso, minha atenção está voltada para Luke. Apesar de tratar-se de um assunto que pode ser extremamente frustrante e confuso, não consigo parar de pensar nele. Nos pais dele, em especial. Será que eles ao menos estão vivos? Se sim, será que são drogados ou alcoólatras? Isso explicaria o porquê de Luke evitar ir para casa, mas se esse fosse o caso, talvez fosse difícil pagar o aluguel... Talvez eles sejam abusivos. Talvez batam no filho —ou nos filhos. Será que ele tem irmãos?
Esfrego minha testa e deixo o ar escapar lentamente por entre meus lábios. Seja lá o que eles forem, são ausentes ao ponto de deixarem um indivíduo cuja saúde é evidentemente frágil andar à noite por ruas geladas. Eu não sei o que fazer para ajudá-lo. Nem sei se devo tentar ajudá-lo...
—Não se esqueçam de ler até a página 114 —a voz do professor se sobrepõe ao sinal. —E façam os exercícios 7 e 8. Faremos o 9 durante a aula semana que vem.
Pego minha mochila e entro no corredor lotado. O cheiro de suor e perfume barato domina o ambiente junto às vozes dos outros alunos. Enquanto caminho, não consigo evitar ficar observando os grupinhos de amigos conversando e rindo, além dos abraços sendo trocados em todo canto. Como eles fazem isso? De onde tiram tantos assuntos?
Olho para meus próprios sapatos, irritada. Eu odeio a escola. Não vejo a hora de me formar e sair deste país... Quero ir para algum lugar bem longe daqui, onde eu possa recomeçar. Talvez eu consiga fazer amigos, arranjar um namorado, me casar...
Ou talvez eu fique aqui para sempre. Talvez eu morra sozinha, mas morra feliz por saber da existência daquela floresta. Talvez.
***
Acaricio delicadamente as pequenas pétalas rosadas de um conjunto de flores à minha frente. Uma mariposa brilhante rodopia pelo ar a alguns centímetros de mim, talvez feliz por estar em um lugar tão bonito. Sorrindo, deixo minha cabeça afundar na relva. Fecho os olhos e concentro-me no cheiro das plantas que me rodeiam, então concentro-me no céu estrelado sobre nós. As copas das árvores estão iluminadas por pequenos pontinhos coloridos, que movem-se de um lado para o outro, lutando contra o vento.
Apoio um de meus cotovelos no chão e ergo-me um pouco. Observo Luke, sentado de costas para mim a cerca de três metros de onde estou. Ele apoia os braços nos joelhos e, com o dedo indicador direito, interage com uma borboleta azul. Vê-la brincar com ele de forma tão natural me traz uma alegria inexplicável. É como se, aos olhos do pequeno inseto, Luke não representasse qualquer ameaça.
A borboleta aproxima-se do seu rosto, fazendo-o recuar. O movimento repentino faz seu capuz cair, revelando um amontoado de cachos bagunçados e...
—Tem uma mancha roxa na sua nuca —digo, assustada.
Luke rapidamente cobre o grande hematoma com a mão.
—Ah... É, eu caí —diz calmamente. —Não é nada demais.
—Está bem feio —comento, aproximando-me.
—Não esperava que fosse bonito —ironiza, recolocando o capuz.
—Você deveria mostrar isso para um médico...
Ele vira-se para mim com uma expressão despreocupada.
—Skyler, isso nem dói —faz pouco caso da minha preocupação. —Tenho certeza de que, se eu tivesse fraturado uma vértebra, iria ter notado há algum tempo...
—Eu sei —respiro fundo. —Ainda assim...
—Deixa isso para lá —ele interrompe.
Cruzo os braços e torço os lábios. Se ele não vai me dar ouvidos, não adianta insistir...
Volto a me deitar na relva. Permito que pequenas formigas luminosas utilizem minha mão como ponte enquanto carregam pedaços de algo branco e brilhante. Quando a última termina de passar, viro-me para o outro lado e observo um inseto esquisito escalar o velho tronco de uma árvore.
—Acho que é melhor voltarmos —diz ele, levantando-se.
—Certo —fico de pé sem protestar.
Antes de passarmos para a parte escura da floresta, dou uma última olhada para trás. Dessa vez, não há dúvida de que há grandes pedaços de gelo espalhados pelo chão. Juro pela minha sanidade que eles não estavam lá quando chegamos...
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Quando o Sol se Põe
Gizem / GerilimSkyler nunca teve uma vida muito interessante. Em seus plenos dezesseis anos, nunca namorou ou foi para uma daquelas grandes festas tão apreciadas pelos outros adolescentes. Prefere ficar em casa junto a sua mãe e sua irmãzinha, Elly. Seus melhores...