Capítulo 8

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Como um pistache atrás do outro enquanto assisto um filme no laptop da minha mãe. Já abri tantas cascas que pontas de meus dedos estão começando a ficar doloridas, mas ignoro o desconforto e continuo comendo. Depois daquele sonho bizarro, eu fiquei tão desesperada por uma distração que acabei decidindo assistir a uma comédia que mamãe vivia recomendando. Até que estou me divertindo...

Levo um susto quando o telefone começa a tocar, fazendo o pistache em minhas mãos voar para fora da bancada. Respiro fundo e levanto-me para recolhê-lo do chão.

—Droga... —mamãe resmunga enquanto retira uma torta de frango do forno. —Elizabeth, atenda e diga que não estou em casa!

Elly deixa suas bonecas sobre a mesa de centro da sala, estica o braço e pega o telefone.

—Alô? —atende. —Aqui é Elizabeth. Minha mãe pediu para falar que...

—Olá! Quem chama? —diz mamãe após ter avançado sobre Elly e agarrado o telefone. —Sim, é ela. Em que posso ajudar?

Minha irmã recua, perguntando-se se fez algo errado. Não consigo conter um sorriso ao ver essa cena toda. Minha mãe se afasta um pouco para conversar com seja lá quem ligou. Provavelmente tem a ver com seu trabalho, pois ela odeia nos envolver em questões relacionadas ao mesmo.

—Certo, certo. Eu e ligo depois —mamãe desliga, então olha para nós. —Almoço.

Eu e Elly nos sentamos na mesa enquanto travessas de porcelana são depositadas à nossa frente. Legumes, arroz, torta de frango... Apesar de já ter me entupido de pistaches, meu estômago ronca à medida que o cheiro agradável da comida se espalha pela cozinha.

—O que é isso? —indago ao ver meu copo cheio de uma substância amarelada.

—É aquele suco de frutas tropicais que você adorava quando pequena Encontrei no supermercado e pensei que você fosse gostar...

—Por que eu não tenho? —Elly reclama. —Eu quero provar! Posso provar um pouco?

Pego meu copo e estendo o braço para que ela o alcance.

—Não! —mamãe exclama, então retira o recipiente das minhas mãos e o deposita sobre a mesa novamente. —Eu pego para você, Elizabeth!

Reviro os olhos. Minha mãe sempre foi um pouco neurótica com relação a germes, mas às vezes ela passa dos limites. Afinal, qual o problema de eu dividir um copo com minha própria irmã?

Depois de servir suco para Elly, ela pega a jarra de água e serve-se com um pouco de seu conteúdo. Observo o líquido incolor aterrissar no fundo do copo e, depois de respingar gotas por todo vidro, ir subindo, subindo e subindo enquanto um pequeno redemoinho forma-se no meio do recipiente. Sinto minhas pernas amolecerem e a cor sumir do meu rosto. Não sei bem o porquê, mas imagino-me lá dentro, sendo sugada pela água.

Encaro a comida fumegante no meu prato e tento concentrar-me apenas nela. Céus, como estou sendo exagerada! Todo mundo tem um sonho ruim de vez em quando...

Minha irmã, como sempre, não para de falar durante toda a refeição. Quando não está elogiando o suco, Elly fala sobre uma de suas inúmeras novas amigas na escola. Mamãe me lança alguns olhares de vez em quando, como se quisesse que eu compartilhasse algo sobre laços de amizade. Ela ainda acha que Mandy e eu somos grandes companheiras e que as pessoas são simpáticas comigo lá no colégio. Quem me dera...

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora