Capítulo 15

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Enquanto eu e Luke voltávamos da floresta ontem, percebi que a respiração dele parecia anormalmente ruidosa, como se fosse difícil puxar o ar. Passei o resto da noite pensando no assunto... Será que ele está doente? Será que a pele pálida, mãos frias e problemas respiratórios são sintomas de alguma doença grave? E se os pais dele forem tão ausentes ao ponto de nem terem notado? E se ele estiver precisando urgentemente de assistência médica?

—Não gostou da comida, Sky? —mamãe indaga. Olho para meu prato de comida, que encontra-se praticamente intacto.

—Gostei —minto. Tem um gosto esquisito. —Só não estou com muita fome...

—Depois do jantar, quero conversar com você —pede.

Empalideço. Será que ela me ouviu saindo ontem? Será que ela sabe sobre Luke? Céus, Skyler, por que ela saberia algo sobre ele? Talvez ela tenha me visto caminhando com ele pela janela do seu quarto... Mas estava tão escuro na rua!

—Certo —engulo em seco.

Termino de comer e lavo minha louça. Resolvo esperar por ela em seu quarto, então subo as escadas e abro a primeira porta do corredor. O cômodo tem cheiro de menta, removedor de esmalte e loção corporal. Observo os papéis empilhados sobre seu criado mudo, provavelmente coisas do trabalho. Há alguns porta-retratos com fotos minhas e de Elly espalhados pela cômoda antiga posicionada ao lado da janela. Se alguém parar para analisar esse móvel,notará as manchinhas de tinta acrílica e riscos pela madeira desbotada. Fui eu que fiz a maioria. Antes do meu pai sumir, eu passava a maior parte do tempo brincando no quarto deles. Tudo era alegre e colorido, aquele era meu reino em miniatura.

Sento-me sobre o colchão da cama de casal. Sinceramente, acho um pouco deprimente o fato de que minha mãe ainda dorme em uma cama para dois, mas não me atrevo a conversar com ela sobre isso. Estico meu braço e enfio meus dedos sob o travesseiro. Como eu já esperava, lá está o cabo frio de uma faca de cozinha. Muitos diriam que viver em uma casa sem homens seria perigoso, mas mamãe prova o contrário. Sei que ela lutaria com unhas e dentes contra qualquer um que ameaçasse nossa família.

—Sky —ela abre a porta. Levo um susto e rapidamente tiro minha mão de baixo da almofada.

Mamãe senta-se ao meu lado e toca meu ombro. Umedeço os lábios e tento me preparar para o que está por vir.

—Filha, eu percebi que você anda mais... quieta —diz naquele tom suave que todas as mães usam. —Está tudo bem?

—Como assim? —indago, nervosa.

—Digo, você está se sentindo bem? —questiona. O jeito como ela pergunta me deixa desconfortável. —Tem algo te incomodando? Você sabe que, sempre que precisar conversar, eu estarei aqui...

—Mãe —franzo o cenho. —Eu estou ótima!

Ela parece não acreditar em mim. Não a culpo. Em sua posição, eu também não acreditaria.

—Certo —respira fundo e apoia as mãos nas coxas. —Só queria que você soubesse que pode sempre falar comigo. Sempre.

—Hum... Obrigada —levanto-me e vou até a porta. —Boa noite, mãe...

***

A Lua cheia ilumina a rua e deixa o percurso menos assustador. O frio não está tão desagradável e o vento mal dá conta de balançar as folhas nas copas das árvores. Luke encontra-se poucos passos à minha frente, caminhando em absoluto silêncio.

—Eu... —perco a voz. Respiro fundo e tento recomeçar. —Eu estava pensando...

Ele vira-se brevemente e arqueia uma sobrancelha. Engulo em seco.

—Você tem algum problema de...

—Pensei que poderíamos visitar outras partes da floresta hoje —interrompe, ignorando-me completamente. —Aquele lugar não tem muito para ver...

Como é? Eu poderia passar minha vida toda naquele lugar maravilhoso sem me cansar.

—Pode ser... —passo a mão pela nuca.

Nós atravessamos a floresta escura sem conversar. Esbarro em algumas raízes, mas não estou tão desengonçada quanto antes.

Enquanto me parabenizo mentalmente pelo progresso, tropeço em uma pedra arredondada e caio de cara no chão. Ai. Sinto vontade de ficar lá, imóvel, imersa em um misto de vergonha e dor, mas então uma luz rosada chama minha atenção. Levanto um pouco a cabeça e arregalo meus olhos ao ver um par de grandes cogumelos luminosos. Fico de pé com a ajuda de Luke —que só agora percebeu minha situação— e observo todo o incrível conjunto de fauna e flora brilhante que me rodeia. Insetos de todo tipo e cor circulam de um lado para o outro, pétalas rosadas, brancas e amarelas se abrem e liberam um cheiro fresco e adocicado no ar. A luz verde que atravessa as folhas parece colorir o orvalho, deixando-o semelhante a pedras preciosas.

Eu vou de um lado para o outro, mais deslumbrada a cada passo. Tudo é tão lindo... Cogumelos pequenos e alaranjados cobrem grande parte do chão junto ao musgo e algumas pequenas flores brancas. Sinto-me mal por pensar que há tantas pessoas que não sabem que este lugar existe. Tudo parece ter sido tirado de um conto de fadas ou de um sonho, mas é real. Não sei o que eu fiz para merecer algo tão incrível...

De repente, Luke começa tossir. Trata-se tosse seca, do tipo que deixa qualquer um sem ar. Hesitante, chego perto dele e cogito tocar em seu ombro ou dar tapinhas em suas costas, mas acho que esse tipo de contato o irritaria. Finalmente, depois de pouco menos de um minuto, ele para.

—Talvez devêssemos voltar —sugiro, sentindo um aperto no coração. Não quero sair da floresta.

—Pode ser... —concorda, fingindo que está tudo bem. Percebo que Luke está com dificuldade para puxar o ar, mas tenta disfarçar.

Nós nos afastamos dos organismos luminosos. Lanço um último olhar para trás e, mesmo estando escuro, tenho a impressão de ver grandes pedaços de gelo espalhados pelo chão. Apesar de achar estranho, fico quieta e continuo andando. Não é como se as coisas por aqui fizessem muito sentido...

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora