—Elly, já está pronta? —questiono, procurando minhas luvas em meio à bagunça da minha gaveta.
—Só um minutinho! —ela grita do seu quarto. —Estou calçando minhas botas!
—Pegue um casaco! —peço, colocando meu suéter azul.
Nós nos encontramos na porta de entrada e saímos de casa. Minha irmã saltita ao meu lado, alegre por estarmos fazendo algo juntas. Tenho pensado tanto em Luke ultimamente que me afastei um pouco de minha família, o que me faz sentir um lixo. Elas são o meu mundo.
Evitando as linhas da calçada, seguimos até o parque. Alguns bebês brincam na areia com os pais, mas não há ninguém da idade de Elly. Bem, sem problemas, é por isso que estou aqui. Deixo minha bolsa, onde guardo alguns biscoitos, meu celular e duas bananas, sobre o banco, então viro-me para ela.
—O que quer fazer, pituca? —indago, brincando com seus cachos escuros.
—Não sei... —ela acaricia o próprio queixo. —Podemos brincar no balanço?
—Claro! —sorrio.
De repente, uma forte dor de cabeça me atinge. É tão agonizante que minha visão fica turva e meus joelhos vacilam. É indescritível, parece que há algo tentando escapar de dentro do meu crânio.
—Sky? —a voz de Elly me traz de volta à realidade.
—O-oi —balbucio, aliviada pelas pontadas de dor estarem diminuindo.
—Está tudo bem? —pergunta.
Sinto algo gelado e viscoso sob minhas mãos, grudado nas minhas roupas. Abro os olhos, assustada, e percebo que é lama. Minha irmã está ao meu lado, com o rosto imundo e o cabelo bagunçado.
—Elizabeth, o que aconteceu?! —gaguejo, desorientada.
—Como assim? —ela inclina a cabeça como um cachorrinho confuso.
—Que horas são? —olho, assustada, para o céu alaranjado. —Quando saímos do parquinho? O que aconteceu desde então?!
Ela me olha como se eu estivesse louca.
—Elizabeth, responda à minha pergunta!
Meu tom de voz a assusta, mas foi impossível me conter.
—Faz quase uma hora. Eu estava passeando com você perto da floresta, nós caímos na lama e eu fiquei aqui brincando. Você não quis, ficou olhando para as árvores.
Esfrego minha testa, sentindo tudo à minha volta girar. O que está acontecendo? Por que eu não me lembro de nada disso?
—Skyler, você está bem? —Elly indaga, tocando meu ombro.
—S-sim —tento soar normal. —Eu... Eu estava tentando achar inspiração na natureza. Quero voltar a desenhar. Você me empresta seus materiais?
Ela parece acreditar na minha desculpa. Faz que sim com a cabeça, sorrindo.
—Então é por isso que você não queria me responder... —deduz.
—Ah... É, isso mesmo —balbucio, assustada. —Precisava me concentrar nas árvores, El, senão não ia ficar inspirada o suficiente.
—Eu quero ficar inspirada também —decide. —É só ficar quieta olhando fixamente para alguma coisa, não é?
—Exato! —estou quase chorando de medo, mas finjo que está tudo certo. —Mas você pode fazer isso depois. Vamos para casa.
—Mas...
—Agora! —acabo soando um pouco mais autoritária do que queria.
Nós saímos da poça de lama e caminhamos em direção à nossa casa. Enquanto mamãe briga comigo pela irresponsabilidade, só consigo acenar com a cabeça, pasma pelo que aconteceu. Tomo banho com os olhos arregalados, imóvel enquanto a água quente cai sobre minha cabeça e a lama desce pelo ralo. Nem olho pela janela para ver se Luke está por perto. Apenas deito-me sem jantar e tento adormecer.
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Quando o Sol se Põe
Gizem / GerilimSkyler nunca teve uma vida muito interessante. Em seus plenos dezesseis anos, nunca namorou ou foi para uma daquelas grandes festas tão apreciadas pelos outros adolescentes. Prefere ficar em casa junto a sua mãe e sua irmãzinha, Elly. Seus melhores...