Epílogo

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Devolvo o lápis azul à caixinha nova que Elly me mandou ontem. Uma vez que todos já estão guardados, coloco-os junto a meus outros itens de pintura, que ficam em uma prateleira perto da porta.

—Me ignorar não vai melhorar a situação, Skyler —diz o doutor Holt, impaciente, sentado na cadeira ao lado da janela. —Você sabe que não vou sair até conversarmos, nem que seja só um pouquinho...

Com o rosto inexpressivo, sento-me sobre a cama, minhas pernas cruzadas sobre o colchão, e o encaro. Ele me analisa da cabeça aos pés, tentando, sem palavras, extrair o máximo de informações possíveis sobre o que se passa dentro da minha cabeça. Desde o começo, sempre fui uma de suas maiores prioridades no hospital, mas recentemente, suas visitam vêm se tornando ainda mais frequentes. Mais especificamente, desde que comecei a falar sobre meu pai.

Não consigo parar de pensar nele. Passei minha vida toda pensando que papai me abandonara, que ele não se importava com minha mãe, comigo ou com Elly. Eu estava errada. Ele se importava até demais. Naquela noite, mamãe não estava berrando para que ele saísse, estava implorando para que ficasse. Mas meu pai não ficou. Ele já se conformara com a ideia de que não havia cura para sua doença. Nossa doença.

—Fez outro desenho? —indaga, sem tirar os olhos pequenos de sua prancheta. Com a ponta do dedo, arruma o óculos prateado sobre seu nariz comprido e estreito, então volta-se para uma folha que eu tentara esconder sob o travesseiro. —Pode mostrá-lo para mim?

—Não é um desenho novo —sussurro.

Eu fiz muitos desenhos desde que cheguei. Livros já não eram suficientes. Eu precisava da floresta. Desenhei tudo, as flores, as borboletas, a cachoeira, o lago de gelo... Não ligo se tudo foi sonho. Não ligo se o realismo e o aspecto vívido da floresta foram apenas efeitos colaterais do remédio para memória que minha mãe vinha enfiando na minha comida. Independentemente de ter sido apenas fruto da minha imaginação, explorar aquele lugar foi a coisa mais real que já me aconteceu.

—Então o que é? —questiona, curioso.

Relutante, retiro o travesseiro de cima da folha e entrego-lhe o pedaço de papel. Não consigo olhar para o que retratei na imagem. Apenas... não consigo.

—Interessante... —coça o próprio queixo. —Por que fez isso no rosto dele?

Ele. Engulo em seco.

—Eu não conseguia ver seu rosto... —encaro a mancha de tinta preta que escondia as feições que eu pintara.

Um longo e desconfortável silêncio paira no ar.

—E o que você sentia quando olhava para ele? O que se passou pela sua cabeça ao ver a face de Luke?

Um nó se forma em minha garganta. Esse nome... Eu o imagino saindo de casa naquele dia, abraçando os pais antes de sair, pegando sua bicicleta... Vejo seus olhos arregalados e assustados cravados enquanto seu corpo estava submerso na água gelada. Consigo enxergar sua família chorando ao receber a notícia, desesperada e confusa...

—Eu sinto culpa —fecho os olhos, o que faz um par de lágrimas rolarem pelo meu rosto. —E saudades...

—Saudades da floresta? De Luke?

Engulo o choro, respiro fundo e observo o céu através da janela.

—Saudades de tudo que vinha depois do Sol se pôr...

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora