Capítulo 22

24 1 0
                                    

Tudo está confuso.

Tento me mover, mas não consigo sair do lugar. Olho para baixo e percebo que estou sentada em um banco. Sobre minhas pernas, há um caderno cheio de palavras borradas. As folhas escuras sob meus pés, a neve em torno de meus sapatos, a madeira desbotada do banco... Eu conheço este lugar.

Acordo, congelando. Devo ter chutado a coberta para longe enquanto dormia. Puxo-a de volta e, já mais aquecida, contemplo os raios de sol que entram pela janela. Hoje, não preciso levantar cedo. Feliz por ter direito a algum tempo extra na cama, puxo um livro da pilha sobre meu criado-mudo. Preciso forçar um pouco meus olhos para ler devido à má iluminação, mas isso não abala meu bom humor.

—Bom dia, Skyler! —mamãe abre a porta sem bater, dando-me um grande susto. Coloco a mão sobre o peito, sentido meu coração bater de forma acelerada.

—Mãe, quase tive um infarto! —esfrego a testa e fecho meu livro.

—Desculpa, filha —aproxima-se. —Resolvi preparar um café da manhã na cama para você.

Encaro a bandeja cheia que ela está segurando. Panquecas com calda, suco, frutas picadas... Alguém está de bom humor.

—Obrigada, mãe —sorrio, apoiando tudo sobre minhas pernas. —O cheiro está ótimo!

—Coma sem pressa —diz, acariciando meu cabelo bagunçado. —Não temos planos para hoje. Pode ficar aí até tarde.

A maior parte das pessoas da minha idade acharia um saco passar o sábado em casa, mas para mim, o que minha mãe acabou de dizer soou como uma benção. Pego os talheres e começo a comer.

***

Lá pelas seis da tarde, canso-me do sofá e saio para dar uma volta. Caminho pelo parque e perto das casas, mas não me atrevo a entrar na floresta. A ideia de fazê-lo sem Luke é um pouco assustadora, para falar a verdade.

—Resolver ir se adiantando? —falando nele.

Viro-me, feliz por ele ter me encontrado tão rápido.

—Estava só passeando —aproximo-me um pouco.

Como de costume, Luke certifica-se de que não há ninguém por perto e se embrenha na floresta, seguido por mim. Já fizemos isso tantas vezes que a escuridão já não me atrapalha tanto. A cada passo que dou, uma mariposa se acende. Tentando acompanhar cada um dos insetos brilhantes, rodopio com a alegria e curiosidade de uma criança. Só paro quando a tontura me vence.

Enquanto ele se senta ao lado de um arbusto e contempla as flores amarelas luminosas que se abrem à sua volta, escalo um enorme e velho tronco e encontro um lugar razoavelmente confortável para me sentar. Uma borboleta branca se destaca contra a madeira mal iluminada, girando em torno de um dos galhos da árvore bem próximo de onde estou. Ela se aproxima de mim, tanto que sinto ocasionais cócegas contra minha pele devido ao bater de suas asas. Fecho os olhos, guiada apenas pelo som de seus movimentos, e quando torno a abri-los, estou completamente cercada por borboletas, todas cor de papel. Sinto-me dentro de um casulo de luz, há um número incontável de asas em todo canto.

Com um sorriso enorme no rosto, olho para Luke, querendo saber se percebeu o que está acontecendo. Ele, por sua vez, também está cercado por insetos voadores, mas os que o cercam possuem cores variadas e não parecem ser da mesma espécie. Há alguns arredondados cor de laranja, outros bem compridos e azuis...

Quando ele olha para baixo, acompanhando os movimentos de um pontinho vermelho brilhante que suponho ser algo semelhante a uma joaninha, manchas roxas em seu pescoço ficam extremamente evidentes. Parecem maiores e mais escuras do que eu me lembrava. Meu estômago fica embrulhado, a cor de meu rosto some, mas não consigo abrir minha boca para perguntar a ele o que aconteceu. Da árvore onde estou, só consigo encarar os hematomas em absoluto silêncio. Toda a felicidade que eu estava sentindo vai embora, dando lugar a uma crescente sensação de amargura que cria um nó em minha garganta.

 Toda a felicidade que eu estava sentindo vai embora, dando lugar a uma crescente sensação de amargura que cria um nó em minha garganta

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.
Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora