Capítulo 2

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—Parquinho! Skyyyyy! Parquinho! Sky, por favor, me leva naquele parquinho!

Fecho o livro e reviro os olhos. Não adianta, Elly não vai calar a boca se a gente não for no parquinho. Ela me pediu para levá-la até lá há meia hora, mas eu pedi para que esperasse. Bem, acho que atingimos o máximo que uma criança de sete anos pode esperar...

—Skyler, pelo amor de Deus, leve a sua irmã na droga do parquinho antes que anoiteça —pede mamãe com o telefone encaixado entre o ombro e a bochecha.

Através da janela, é possível ver o céu avermelhado e as nuvens rosadas do fim da tarde.

—Certo —pouso o livro sobre uma das almofadas so sofá. —Mas não poderemos ficar muito, Elly. Já está ficando tarde.

—Tá! Tá! —diz, calçando suas galochas. Ela tem mania de ficar andando por aí de meias.

—Coloque seu gorro e um casaco mais grosso —peço. —Está frio lá fora.

Ela sobe como um foguetinho para o andar de cima, então volta com um gorro amarelo limão e um casaco laranja. Preciso até semicerrar os olhos ao olhar para ela.

Entrelaço meus dedos nos seus, então nós saímos de casa. Assim que ponho os pés para fora, somos atingidas por uma forte rajada de vento. Céus, como está frio! Enfio minha mão livre no bolso e encolho-me dentro do casaco. Elly, por outro lado, parece não se importar com a baixa temperatura. Crianças são assim.

Caminhamos pela calçada apesar de não ter nenhum carro na rua. Tento evitar as linhas no concreto enquanto caminhamos —uma mania que tenho desde pequena. Agora, há apenas uma brisa fresca que bagunça nossos cabelos escuros. Esse tom negro foi algo que nós duas puxamos da mamãe. Elly também puxou dela os olhos cinzentos e os cachos, mas eu devo minhas mechas lisas e íris castanhas ao meu pai. Sinceramente, eu não me importo de ser parecida com ele. Apesar de tudo, eu não o odeio. Se ele voltasse para casa, eu o convidaria para entrar sem hesitar.

—Ali! —diz Elly, e no segundo seguinte, está correndo em direção a um escorregador.

—Cuidado! —exclamo, mas ela mal me ouve. Sobe as escadas coloridas do brinquedo e desliza com um sorriso de orelha a orelha.

Depois de deslizar algumas vezes, ela vai para a caixinha de areia e passa a mão sobre os grãos para criar uma superfície lisa, então desenha um coração com o dedo. Elly nunca faz coisas mais complexas como castelinhos ou coisa do gênero. Ela não é muito boa com arte...

Assim que acaba de desenhar algumas figuras, ela puxa minha mão e me guia para o balanço. Nem precisa pedir e já sei que quer que eu a empurre. Minha irmã já sabe empurrar o balanço sozinha, mas prefere ser empurrada. Não posso reclamar, afinal, eu também era assim.

—Mais alto! —pede, mas ainda nem se sentou direito.

Empurro-a com um pouco mais de força, então uma risadinha escapa por entre seus lábios. Acabo sorrindo junto com ela. Elly me pede para ir cada vez mais alto e eu —sem perder o bom senso— obedeço. Já escureceu e está bem frio, mas eu sinceramente não me importo. O tempo parece não passar quando estou com minha irmã...

Apesar de todos os problemas na vida de Elly, ela ainda consegue dar esse sorriso sincero. Isso é o que me encanta nas crianças. São puras, animadas e não precisam de muito para ficarem felizes. Embora eu não tenha essa capacidade de me alegrar com tanta frequência, ter Elizabeth por perto já ajuda. No momento, esqueço a mudança, esqueço que odeio a escola, esqueço meu pai, esqueço tudo o que me perturba no dia a dia. Apenas observo os cachos emaranhados de Elly voando enquanto o balanço vai e volta, suas pernas curtinhas indo para lá e para cá, sua risada ecoando pelo parquinho. Sorrio.

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora