Capítulo 4

85 11 2
                                    

—Até mais tarde, meninas —diz mamãe de dentro do carro, então dirige para fora deste lugar horrível. Sortuda...

—Vem! —Elly puxa minha mão e corre comigo até a portaria. Tropeço algumas vezes nos meus próprios pés, mas consigo chegar inteira até as catracas. Bem, fisicamente inteira. Por dentro, a cada passo que dou, meu desespero aumenta.

—Calma, Elizabeth! —gaguejo, elevando a voz. Costumo chamar minha irmãzinha pelo seu nome de batismo quando estou brava ou ansiosa.

Observo as pessoas entrando à minha volta. A diferença entre as idades é evidente, apesar de se vestirem quase da mesma forma. Jeans, moletons e tênis. Olho para baixo a fim de checar se estou muito... excêntrica. Achei que seria melhor usar roupas mais "normais" para ir à escola, mas é difícil encontrar qualquer coisa que se encaixe a essa descrição no meu guarda-roupa. No final, vesti um sobretudo preto, meia-calça escura com estampa de corações e um par de botas de camurça. Ah, claro, não posso me esquecer do grande cachecol cinzento que envolve meu pescoço. Fica evidente que sou bem friorenta...

Elly entra no prédio dos mais novos, deixando-me sozinha no meio deste matadouro. Através das grandes portas de vidro, eu a observo saltitar pelo corredor enquanto procura sua sala. Seu casaco amarelo-limão torna fácil distingui-la em meio às outras crianças.

Solto um longo suspiro e adentro meu corredor. Assim que dou meus primeiros passos, sou atingida por cotoveladas vindas de todos os cantos. Todos sorriem e se cumprimentam como se não se vissem há séculos, comportamento que eu sempre achei bizarro. Depois das férias, todos agem como se nutrissem apenas amor uns pelos outros. É como se esses dias fora da escola apagassem os pecados de todo mundo...

Minha primeira aula é Química, terror da maioria dos alunos. Não que eu ame essa matéria, mas também nunca tive problemas com ela. A questão é que não faço a menor ideia de onde fica a sala para a qual eu devo ir.

Aproximo-me a um grupo de garotas que parecem razoavelmente simpáticas, esperando que alguma delas possa me dar informações.

—Com licença —chamo.

Nenhuma delas se vira, o que me irrita bastante.

Com licença —elevo a voz mais do que deveria.

Elas se viram, surpresas. Apesar de não ter sido minha intenção, eu soei muito mais brava do que de fato estava. Cogito pedir desculpas, mas não acho que melhoraria muito a situação.

—Onde é a sala de Química? —indago, tentando fingir que não acabei de assustá-las.

—Hum... Fica no corredor da esquerda. Terceira porta —diz uma delas com certo receio.

Continuo tentada a explicar a elas que não sou nenhuma maluca, entretanto apenas aceno com a cabeça como forma de agradecimento e vou até o lugar indicado. Fico parada na frente da porta por alguns instantes como se isso fosse fazê-la magicamente se abrir, mas logo me recomponho e a empurro.

***

Parabéns, Skyler, você não sabe viver em sociedade. Essa é a única coisa na qual consigo pensar enquanto me dirijo ao refeitório. Céus, será possível que eu ainda não fiz nenhum amigo? Três pessoas já tentaram conversar comigo hoje, mas eu sou completamente incapaz de fazer um diálogo durar mais que dois minutos. Sou entediante, sem assunto e cem por cento fechada. Simplesmente não consigo!

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora