Capítulo 23 {Final}

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Já são oito e quatorze da noite. Calço um par de sapatilhas e, silenciosamente, saio de meu quarto e desço as escadas. O ar gelado da sala penetra as várias camadas de roupa que estou vestindo, fazendo com que eu sinta uma saudade extrema da minha cama quentinha. Fecho os olhos, deixando um longo suspiro escapar por entre meus lábios. Contento-me com a ideia de que, em alguns minutos, provavelmente estarei na floresta, cercada por plantas e animais brilhantes...

—Skyler? —minha mãe aparece no topo da escada. Estremeço e deixo cair a chave. —O que está fazendo?

—Eu... —coço a nuca. —Eu só ia dar uma volta...

—A esta hora e com este frio? —ela termina de descer as escadas e aproxima-se, franzindo as sobrancelhas. —Não tente me enganar. Sei quando está mentindo. O que você ia fazer?

Tento desviar o olhar, mas ela vira meu rosto para si, obrigando-me a encará-la de volta.

—Você estava indo ver alguém?

—Mãe, eu só ia me encontrar com um amigo! —tento fazer parecer que não era nada demais.

—Que amigo? —semicerra os olhos, confusa.

Droga. Por que não inventei alguma desculpa?

Skyler —pressiona. —Quem era?

—O nome dele é Luke —disparo, desesperada para sair desta situação.

Os olhos dela se arregalam e sua expressão torna-se de puro horror. Todo o sangue some de sua face e ela apoia uma das mãos na parede.

—Luke? —sussurra com os olhar cravado no chão.

—Sim... —engulo em seco. Por que ela está reagindo assim? —Mãe, você está me assustando...

—Loiro? Olhos claros? Pálido? —ela questiona, ofegante e aterrorizada.

Concordo com a cabeça, sentindo um frio desconfortável percorrer minha espinha.

—Como você sabe? —gaguejo.

—Não, não pode ser... —seus dedos trêmulos se perdem pelo seu cabelo, então o puxam com força.

—Mãe?! —tento tocar no seu ombro, mas ela recua, quase chorando.

Ela deixa o próprio corpo deslizar parede abaixo e acaba sentada junto aos seus joelhos no chão. Ajoelho-me ao seu lado, e quando o faço, mamãe apoia a testa em suas pernas.

—Mãe, fale comigo, por favor —suplico, sentindo lágrimas invadirem meus olhos. —Como você sabe de tudo isso?

Durante longos segundos, tudo o que se ouve são seus soluços combinados à minha respiração acelerada, mas então ela resolve começar a falar:

—Há alguns meses... —engole em seco e tenta se recompor. —Eu precisava ir ao salão para cortar o cabelo, Sky. Você sempre odiou a barulheira de dentro daquele lugar, então te deixei esperando naquele parque perto de casa. Sabe, aquele do lago de gelo? Você tinha uma redação para escrever, algo assim, então combinamos que eu te buscaria lá assim que terminasse.

Não me lembro disso, mas não me atrevo a interrompê-la.

—Eu... Eu devo ter ficado umas duas horas naquele salão. Assim que saí, fui direto até o banco onde te deixei... —limpa algumas lágrimas que rolavam pelas suas bochechas. —Quando cheguei, você estava de joelhos sobre o gelo, encarando um buraco enorme na sua frente. Eu tentei te chamar, mas você não me ouvia, Skyler! Fui ao seu encontro e percebi que você estava molhada, pensei que tivesse caído e conseguido sair...

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora