Capítulo 7

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Tento gritar, mas não sai som algum da minha boca. Tudo o que vejo são bolhas envolvendo minha cabeça à medida que meus pulmões começam a arder. O frio que estou sentindo é indescritível. A água congelante atravessa facilmente o tecido de minhas roupas e envolve minha pele como uma cobra estrangulando sua presa.

Onde estou? O que está acontecendo?

Tento nadar em direção à superfície, mas tudo está tão confuso... Meu cabelo forma uma cortina negra em frente aos meus olhos, atrapalhando ainda mais minha visão. Minhas pernas e braços se movem freneticamente enquanto luto para sair da água, mas estou tão desnorteada que temo estar mergulhando cada vez mais fundo.

Começo a me desesperar. Ar. Eu preciso de ar. Quero chorar, berrar e implorar por ajuda, mas, ao que tudo indica, estou completamente sozinha. Onde estão Elly e mamãe?

Uma pancada forte atinge o topo minha cabeça. Empurro o corpo sólido que me fez bater com as mãos, mas percebo que não estou conseguindo fazê-lo se mover. Começo a nadar para o lado, mas essa coisa continua a se estender logo acima de mim.

Finalmente compreendo o que está acontecendo. Essa coisa bloqueando minha passagem para a superfície está em todo lugar. Eu estou presa na água.

Socos e mais socos atingem a barreira sobre minha cabeça, mas nada acontece. Continuo batendo nela com todas as minhas forças, ignorando o sangue que começa a sair de minhas mãos. Juntando todo o ar que me resta, tento berrar mais uma vez...

—Skyler! Skyler, calma! —mamãe grita. —Foi só um sonho, calma!

Olho em volta, ainda sentindo meus pulmões queimarem. Estou no meu quarto, na minha cama, fora da água. Elly está
agarrada à porta, evidentemente amedrontada. A julgar pelos cabelos desgrenhados e pijamas amarrotados das duas, elas estavam dormindo quando comecei a gritar. Devo ter dado-lhes um belo de um susto...

—Desculpa... —é tudo o que consigo dizer.

Mamãe passa seu braço pelos meus ombros e encosta seu queixo na minha cabeça. Elly sobe na cama e se aconchega ao meu lado, envolvendo minha mão com seus dedinhos.

—Tudo bem, filha —diz, então deposita um beijo na minha testa. —Com o que você sonhou?

Abro a boca para começar a contar, mas me detenho ao ver o tamanho de suas olheiras. Mamãe quase não tem dormido desde que chegamos, mas tenta esconder seu cansaço para não nos preocupar. Seria egoísta da minha parte atrapalhar as poucas horas de sono que ela tem.

—Posso contar amanhã? Estou exausta —minto. Nunca estive tão alerta.

—Claro —alisa meu cabelo com as pontas dos dedos. —Voltem a dormir, meninas. Amanhã será um dia longo.

—Certo —respondo com um sorriso bobo no rosto devido ao alívio por não estar submersa. Nunca achei que o simples ato de respirar seria tão prazeroso.

Mamãe sai do quarto, deixando-me sozinha com minha irmã.

—Quer dormir aqui, El? —indago e ela concorda com a cabeça. Volto a me deitar e permito que ela deposite sua pequena cabeça sobre meu ombro. —Boa noite.

Penso no meu sonho enquanto acaricio a cabeça de Elly. Foi tão... real. Eu nunca tinha sentido tanto desespero na minha vida. Não foi só um pesadelo. Eu conseguia sentir minha pele arder por causa da água gelada, meus pulmões implorando por ar enquanto bolhas escapavam por entre meus lábios... Fecho os olhos com força e encho meus pulmões de ar.

Quando o Sol se PõeOnde histórias criam vida. Descubra agora