Quatro Anos Atrás.

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Queria começar dizendo "era uma vez" mas, minha vida está bem longe de um conto de fadas. "Meu nome é" também já virou tão clichê. Não tenho definição, na verdade nada na minha volta tem.

— Sarah? — perguntou Jonas. Ah, esse era meu nome! — nossa você está com a pior cara do mundo. — o olhei e dei um leve sorriso mas não consegui dizer se quer uma palavra sem carregar o choro nos meus olhos, Jonas era meu melhor amigo, na verdade o único que eu tinha. — Ei, o que foi?

— Meus pais. — mais uma vez eu já estava chorando nos braços de Jonas. — eles brigaram de novo, e ontem às coisas foram piores, eu pensei que nunca ia sair de lá e eu…eu..— antes de terminar eu já não conseguia esconder a dor e o choro.

— Eu o que? — Jonas segurou minha mão e levantou minha cabeça com o toque de suas mãos. — Não, você não deixou ele encostar em você de novo Sarah, me mostra!

Eu o olhei assustada e mais uma vez ele repetiu cuspido as palavras em minha face. — Anda! — levantei a minha blusa e tirei o cachecol que escondiam meu pescoço. Meu pai era um maníaco doente e minha mãe uma prostituta da cidade, eu já não escondia mais minha dor no olhar, a cidade pequena já sabia de tudo o que havia na família Turner, meu pai todos os dias chegava bêbado em casa, eu tinha sorte de não ser a primeira dos seus golpes.

— Isso precisa parar Sarah, precisa ir a delegacia! — disse Jonas analisando meu pescoço. — Ou você termina com isso, ou eu termino!

— Não! — segurei em seu braço ofegante. — Não pode fazer isso, ele vai me matar se fizer isso Jonas, não sabe do que ele é capaz e o que ele pode fazer!

— E vou ter que aturar você vindo todos os dias para escola assim? Cheia de roupa e com essa dor no olhar, eu não posso te ver assim, não merece a família que tem Sarah, sua mãe nem..

— Não fala dela Jonas, ela não tem culpa! — disse secando as lágrimas. — Ela apenas…— sou interrompida pelo bater do sinal da escola. — Preciso ir, Guilherme já deve estar me esperando não posso demorar! — peguei a minha bolsa e sai antes que a professora pudesse dizer "Estão dispensados" não estava nem um pouco á fim de levar uma bronca ou um soco por chegar atrasada no carro de Guilherme, ele odiava esperar.

Acabei deixando algumas lágrimas rolar enquanto via as meninas da escola saindo com seus namorados sorridentes e vivendo feliz, me senti mal por viver aprisionada a isso, sem querer acabei esbarrando em uma menina. — Me desculpa! — ela se espantou ao ver meus olhos vermelhos e os hematomas no meu pescoço, a pancada fez com que minha toca com cachecol descobrisse meu pescoço, também me espantei mas continuei a correr.

— Sai da escola ao meio dia, porque ainda insiste em chegar tão tarde no carro? — perguntou Guilherme me olhando grave. — Me responde! — ele pegou em meu cabelo.

— Pai por favor, por favor!

Ele sorriu mascando aquele palito nojento, eu tinha nojo de estar ao seu lado, nojo de suas mãos, nojo de tudo que vinha dele.

Como sempre ao chegar esbarrei na grande quantidade de garrafas de cervejas espalhadas no chão, e as bitucas de cigarro que impregnava meu nariz, corri para o meu quarto e logo tirei a roupa da escola e guardei minhas coisas e então corri para cozinha para preparar o almoço.

Guilherme já não estava mais em casa, isso me deixava aliviada. Minha mãe? Com certeza estava acordando com um desconhecido e recebendo dinheiro dos homens que ela dormia.

Eu odiava minha vida, todos os dias ir a aula e depois ter que voltar e arrumar a zona que Guilherme deixava na casa, depois ter que ver minha mãe ser espancada e sofrer agressões do meu pai, eram poucas as vezes que eu dormia sem nenhum soco.

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