"Não faça isso! Você vai acabar se perdendo na mata! Você está pondo em risco a sua vida! O Sargento vai te mandar de volta no primeiro avião!", os avisos de Inácio foram completamente descartados por mim ao passo que marchei decidido em direção a mata. Ele correu em minha direção com um intuito um pouco mais nobre, conseguindo ganhar minha atenção por um momento. Inácio retirou o crucifixo que carregava em seu pescoço e colocou no meu. "Para te proteger da loucura de vocês dois", justificou, assentindo com a cabeça antes de bater continência.
"Obrigado, Soldado Martins", dei-lhe um sorriso fraco por sua atitude e, finalmente, invadi a mata perseguindo os vestígios das pegadas deixadas por Guilherme antes que elas desaparecessem na chuva. Incansavelmente abrindo trilhas já abertas, com a única luz escassa de meu capacete, andei por horas e horas até que a força das águas cessasse a marca de seus coturnos na terra. Tentei iluminar a outra margem em vão. Teria que entrar naquela água escura e lamacenta, sozinho, no meio do nada, arriscando poder morrer ali.
Eu realmente nunca havia pensado em como morreria.
Um filme de toda a minha vida desde o meu nascimento foi passando em minha cabeça. A figura estritamente carinhosa que minha mãe representou em toda a minha vida, assim como o gênio um pouco difícil de meu pai, mas ainda assim responsável e amável, tanto quanto presente. A cumplicidade de minha irmã, e a amizade de Camila, até mesmo os latidos e lambidas de Jujuba.
Quando entrei na água, comecei a nadar sutilmente tentando ao máximo identificar alguma possível correnteza enquanto os pensamentos fluíam para minha conclusão do ensino médio, a festa de formatura, meu alistamento, meu treinamento militar, meu ingresso no corpo especial, o dia em que finalmente conheci Guilherme.
A água gelada fez minha espinha congelar. Não podia sentir uma câimbra, não ali, não sozinho. Continuei nadando firmemente, mantendo um ritmo centrado enquanto minha mente não parava de trabalhar me agraciando com seu temperamento explosivo logo nos primeiros dias de convivência. A maneira rude como debochada do meu idealismo sonhador, mas ao mesmo tempo como me ajudava nos momentos mais propícios.
Seguindo a linha dos fatos, fui percebendo que Guilherme foi desafiado por mim, já que eu representava tudo o que ele não acreditava. Fui conquistando-o pouco a pouco com meus ideais, meu carinho sutil, meu amor pelo próximo. Comecei a compreender que, talvez, isso tenha despertado nele um senso de esperança para o lado bom da vida. Por isso, agora, ele parecia um pouco mais distante do cara problemático que Inácio me citou certa feita, quando o questionei sobre as cartas que Carvalho recebia e ele me revelou sobre seu possível passado ao ser temido pelo Sargento em relação a sua aceitação poder trazer problemas a frota.
E, mesmo em pensamento, Guilherme continuava a me salvar. Foi esse pensamento que me assolou quando cheguei a outra margem. Lembrei-me, então, do dia que adoeci. Talvez ele tivesse perguntado a Inácio sobre minhas cartas, assim como fiz sobre ele, por isso ele tenha descoberto sobre Camila e reagido daquela forma. Isso justificaria muita coisa, mas não eliminava o fato dele ter se esquecido da noite mais especial de nossas vidas – ao menos para mim.
Escorando as mãos no solo e ganhando impulso para sair da água que me toquei que não podia ser tão egoísta justo com o cara que mais me ajudou na vida. Eu não tinha esse direito. Eu prometi pra ele, e tudo o que ele menos precisava era incompreensão, pois já era incompreendido por todos a sua volta.
Ajustando a luz do capacete ao redor com desespero, encontrei mais rastros de suas pegadas e os persegui como se fosse minha própria vida em risco. Enfrentando todas as adversidades da mata, desde ter sido picado por mosquitos, como perseguido pela chuva forte, quanto banhado no mar lamacento, até mesmo tropeçado em trincheiras feitas pela própria água ao cair no solo; ter o uniforme cortado por galhos pontudos ao longo de minha corrida sem fim pela mata, até que finalmente deparei-me com os dois.
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Por Trás da Farda (Romance Gay)
RomanceFelipe era um jovem cheio de sonhos e ambições em relação a mudar o mundo, transformá-lo num lugar melhor. Isso o conduziu a se alistar nas forças armadas, até que chegasse ao Haiti para uma missão de Paz, onde conheceu Guilherme, um cara pé no chão...