Capítulo 24 - O Adeus

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Sem conseguir enxergar absolutamente nada direito, refém de uma escuridão singela, ouvia os gritos e sentia os impactos de nossos corpos se chocando com contêineres pela frente e por trás, além de outros objetos que foram arremessados pela força dos ventos até que a turbulência finalmente cessou.

Choque após choque, abri meus olhos devagar sentindo-me preso. Estava soterrado por escombros, no escuro, e ainda assim a água estava cobrindo meu corpo até o pescoço, o que me desesperou a princípio. Tentei virar o rosto, mas não consegui me mover quase nada além dele. Vislumbrei do rosto de Guilherme contra a parede do que parecia um contêiner e por mais que não conseguisse enxergar direito seu rosto, percebi uma grande quantidade de sangue seco ali.

"Hmm... G...", tentei falar, mas parecia que minha musculatura inteira estava dolorida e travada, como se tivesse inchado com as pancadas.

De repente, uma forte luz surgiu na minha face no que julguei ser uma lanterna. Sobre meu rosto jazia uma camada generosa de areia e terra, a qual me fez cuspir. Não conseguia me mover, mas aquelas pessoas falavam comigo.

"Soldado, o senhor pode me ouvir?", a voz distante aos poucos foi se tornando mais clara para mim – que ainda me encontrava completamente atordoado.

"Guilherm...", tentei falar, cuspindo mais terra. "Guilherme...", minha garganta seca parecia não me obedecer, mas persisti. Minha boca também estava ligeiramente inchada o que atrapalhava o movimento.

Os Soldados conseguiram trabalhar arduamente pra me tirar dos escombros e demais coisas que estavam me prendendo, mas antes que eu pudesse me virar pra procurar Guilherme, eles me ergueram firme e me envolveram em uma manta antes de me por numa maca.

"Guilherme... Guilherme...", entrei em desespero profundo aos poucos despertando a musculatura de meu corpo, ainda que todo travado e dolorido, tentei lutar contra aqueles Soldados com o rosto inchado virado na direção de onde estávamos. Quanto mais eles me prendiam, mais eu pressionava.

"O Senhor precisa se acalmar, Soldado!", as vozes pareciam distantes perto da dor excruciante que invadia meu peito naquele momento.

"Guilherme! Guilherme! GUILHERME!", mesmo que limitadamente, com a voz soando como se houvesse um ovo na minha boca, comecei a chorar em desespero porque ele não despertava, não reagia, e o pessoal estava cercando ele, e ninguém parecia me ouvir ou fazer alguma coisa. O pânico me tomou. Tentava empurrar as pessoas e conseguir uma visão – qualquer que fosse – do meu parceiro. Ele estava sangrando e meu coração estava sangrando com ele.

"Vamos ter que sedá-lo", disse a oficial. Aí é que lutei com mais força, até sentir a picada da agulha em minha veia e vagarosamente ir perdendo o poder sobre meu corpo até receber a escuridão outra vez.

Despertei como se tivesse passado dias fora do ar. Meu corpo pesava e movimentar os meus membros foi como se fosse a primeira vez, parecia que eu sequer sabia como fazer.

Estava conectado a aparelhos e ouvia aquele característico beep das máquinas. Tudo ainda parecia dar nós em minha cabeça. Tentei me sentar, desnorteado, vasculhando o recinto com o olhar em busca de alguma informação, mas sabia que estava no posto médico militar.

De repente, uma maca foi trazida por vários profissionais da saúde. Todos falavam muito alto, parecia uma situação de emergência. Eles trocavam instruções enquanto se dispersavam ao redor do corpo de um homem forte, cabelo grisalho. Tentei espiar por entre os braços alheios, estes que não paravam de se mover e falar, até identificar o Sargento Correia.

"Sargento..?", tentei falar, mas minha garganta estava seca e minha boca ainda estava inchada.

Prossegui com os esforços para me manter sentado e me esgueirar ainda mais para a frente, mas a visão era inegavelmente perturbadora.

Por Trás da Farda (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora