Capítulo 35 - Acerto de contas (Atenção! Conteúdo delicado! Gatilho)

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"Você é o viado?", a voz pesada e arrogante do homem preencheu a sala assim que seu olhar severo me atingiu. Havia deboche e maldade em seu tom, mas nada disso conseguiria me rebaixar. "Aposto que o meu filho é a mulher da relação. Sempre foi um viadinho. Não aguenta nada", o velho continuou, me fazendo avançar para cima dele e agarrá-lo pela camisa.

"Filho..", Arthur ponderou, mas eu estava ali, com ele em minhas mãos.

O velho tossiu fortemente. Por mais que tivesse esse jeito agressivo, hoje em dia, não passava de um fodido.

Soltei-o de meu aperto para que pudesse tossir, e então, olhei ao redor com mais atenção. A vida que ele estava levando era realmente miserável. A casa estava suja, fedida, parecia abandonada. Havia garrafas em todos os lugares.

"Ele vendeu a porra da minha casa por causa de um viado feito ele", continuou o homem, que mais parecia estar delirando do que mantendo uma conversa.

Olhei para Arthur, que permanecia parado na porta, apreensivo. Parecia perdido, sem saber exatamente o que fazer.

"Está vendo que não vale a pena, guri.. Ele tem uma vida miserável já faz um tempo", disse-me. "Ele fez essa escolha. Ele terá que viver com ela sozinho".

Ainda assim, nada disso parecia suficiente para mim. Arthur podia ver isso em meus olhos, por isso sua apreensão persistia. Olhei mais uma vez para Gonçalves Carvalho e tudo o que vi foi um homem fracassado incapaz de manter uma conversa coerente. Sua saúde parecia devastada. Não havia o que fazer lá. Arthur tinha razão. Não podíamos mudar o passado e também não valia a pena sujar as mãos por um fodido como ele.

"Vamos embora daqui", eu disse, voltando-me em direção a porta.

Já perto de alcançá-la, o pai de Guilherme tossiu fortemente mais uma vez e retomou a fala.

"Ele sempre gostou por trás", foram suas palavras.

Eu parei imediatamente, completamente estático, assim como Arthur. Então, nós nos viramos devagar para encará-lo, os olhos arregalados, o coração palpitando fortemente contra o peito. O velho maldito tossiu mais algumas vezes antes de recuperar as condições de fala, exibindo um sorriso escroto.

"Eu sei que ele gostava quando eu o pegava por trás e lhe dava uma lição", sua risada preencheu o âmbito.

Tudo parou naquele momento. Eu não conseguia processar o que ele havia acabado de falar. Ou eu não queria.

Gonçalves se esforçou e, para além da tosse, conseguiu ficar de pé. Arrastou os pés pesados e descalços pelo fundo da sala, até contornar todos os poucos móveis que ali jaziam para ficar de frente para nós e nos encarar de igual para igual. A expressão em seu rosto me provocou náuseas, mas eu sequer conseguia me mexer. Ele tocou a barra de seu cinto para me exibir, e havia orgulho no ato.

"Foram muitas vezes, por muitos anos", disse ele, em seguida. "Eu fodi aquele viadinho. Espanquei. Pra fazer dele um homem", prosseguiu, com a voz rouca e desgastada de anos de cigarro. "E nem assim eu consegui".

Naquele momento, a porta se escancarou. Arthur e eu olhamos para trás e vislumbramos Guilherme. Seus olhos estavam vermelhos da bebida, e sua expressão era de puro desespero. Um misto de vergonha, ódio, eu não saberia descrever tudo o que percebi emanar de sua aura naquele momento, mas ele não poderia ter aparecido em pior momento.

"Você continua o imprestável de sempre", o velho encarou o filho com desprezo. "Estava contando para essas duas maricas sobre o seu segredinho sujo", ele continuou as provocações, fazendo Guilherme cambalear alguns passos para dentro da casa. Ele estava possesso, eu nunca o vi assim.

Por Trás da Farda (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora