Capítulo 23 - Última Missão

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Desperto ainda pela manhã com o toque do celular reverberando pelo âmbito. O silêncio quase completo – exceto pelo aparelho e o ar-condicionado – permanece, o que significa que ninguém acordou ainda, exceto eu. Movo-me na cama tirando a perna de cima da coxa grossa do Gui e constato quão suados estamos mesmo com o ar frio. Volto-me para a mesinha ao lado da cama tateando o telefone até atender.

"Sargento Correia?!", há um misto de surpresa e curiosidade em minha recepção a sua calorosa voz grossa. Porém, são suas palavras que me fazem dar um pulo da cama, perdendo a fala. "Entendido. Estarei aí assim que puder, Senhor", é tudo o que consigo dizer antes de desligar.

Guilherme acaba despertando com minha movimentação agitada pelo quarto, e se levanta mesmo que contra vontade e a cara amassada, completamente confuso sobre a noite anterior. Quando me vê arrumando nossas mochilas, suas sobrancelhas se erguem em suspeita profunda.

"Tu tá indo embora?", sua voz soa mais falha do que o usual quando vira o rosto pra me ver. Paro de me movimentar para encarar seu olhar de maneira aturdida e ele pressente que o pior aconteceu.

Sento-me na cama, recosto as costas contra o apoio de madeira maciça e o abraço por trás lhe fazendo deitar em meu peito. Começo a acariciar seus braços vagarosamente, sem pressa nenhuma, enquanto aprecio a sensação de tê-lo em meus braços, dos nossos dias paradisíacos na praia de San Juan e todos os seis meses que nos levaram até o nosso inesperado primeiro beijo.

"Tu quer... Conversar?", ele inclina a cabeça para trás tentando capturar o meu olhar e atenção. Está manso e tranquilo, e sei o quanto se esforça pra combater a ressaca. Inclino-me para beijar sua testa antes de volta a recostar as costas no apoio da cama, continuando com o contato ocular e os carinhos.

"Há muitas coisas pelas quais precisamos conversar. Algumas realmente sérias que talvez até nos aborreçam. Outras nem tanto. Talvez o ciúmes fale mais alto as vezes, ou os obstáculos que enfrentamos durante todo o caminho. Há duvidas cruciais como por exemplo, porque eu? Porque nós? Entende?", começo a falar mantendo o tom casual, mas escolhendo com cuidado minhas palavras. Neste momento, estou abrindo meu coração e sei que Guilherme compreende isso pela maneira devota como me olha em silêncio. "Por outro lado, percebi algumas coisas que ainda não havia sido capaz de compreender a princípio. Uma delas é que... Eu preciso de você ao meu lado. Não sei se vamos dar certo no futuro, como as coisas vão ser quando voltarmos ao Brasil e confesso que isso me dá um pouco de insegurança as vezes... Também chega a me assustar, mas seu amor, sua presença, sua existência e escolhas me fizeram e fazem muito feliz. E isso é o que importa".

Seus olhos azuis me cativam a cada instante de compreensão. Ainda mantendo meu olhar, ele se senta e vira de frente pra mim segurando minhas mãos.

"Eu prometo que vou tentar saciar cada dúvida, Fer... Não quero deixar nenhuma lacuna na nossa história. Ela é bonita demais pra ter espaços, maravilhosa demais pra ser fadada ao fracasso. Eu sabia que daria certo, mesmo sem saber porra nenhuma", disse ele, me transmitindo certa confiança enquanto brincava com os meus dedos. "No entanto, algumas perguntas não poderei responder. Sequer sei as respostas. Para um cara tão cético como eu, desacreditado da vida, das pessoas, de tudo... De repente, com tantas bilhares de pessoas no mundo, me deparei contigo. Exatamente o meu oposto, cara. E por mais que isso tenha me irritado muito no começo, eu demorei muito pra entender a lição que tu me dava diariamente", continuou, recuperando aos poucos a rouquidão natural de sua voz. "O que eu quero dizer, Fer, é que... Porra, tem coisas que não dá pra entender. Só sentir. Era pra ser, sacou? É pra ser".

E seus lábios encontraram os meus. Aproximando bem devagar até estarmos envolvidos na mesma respiração.

"Os problemas? Sempre irão existir. Sendo nós ou outros casais, não importa. São detalhes da vida dos quais ninguém escapa. Nós vamos superar cada um deles porque temos um ao outro", garantiu-me antes de selar meus lábios.

Por Trás da Farda (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora