"Você tem certeza que acha uma boa ideia?", perguntei pela vigésima vez, ao sair do banho, na expectativa que ele tivesse mudado de pretensões.
"Absoluta", havia uma certeza que soava conspiratória em sua voz.
Me aprontei e fui até ele, o seguindo até o carro que alugamos.
"Guilherme, você já provou o seu ponto pra mim. Não precisa me fazer mais ciúmes... Eu também já provei o meu, e você sabe bem o que acontece quando eu fico enciumado", alterei meu tom de voz para um mais provocante, atrevendo-me a morder o canto dos lábios. Ele sequer me deu ouvidos. Girou a chave na ignição e pressionou os pedais certos fazendo o carro andar.
"Eu acho que tu tens vergonha de assumir que tá comigo em público", de repente, ele rompe o silêncio com uma revelação surpreendente. Pisco os olhos um pouco intrigado porque no fundo, talvez ele tenha razão – em alguns pontos.
"As coisas não funcionam assim, Gui. Não é que eu tenha vergonha de ti. Eu to dividindo um quarto contigo em um hotel. Quando você se machucou por causa daquela cobra, eu fiquei contigo o máximo que pude. Ficou bem explícito pras pessoas que meu comportamento parecia não só o de um amigo, mas de algo a mais", expliquei-lhe tentando ser o mais paciente e claro possível, mas acima de tudo, determinado.
Apesar de se manter atento na direção e nas coordenadas do GPS, Guilherme mantinha uma expressão que condizia com processando minhas palavras. Fiquei otimista em relação a isso. Finalmente ele parecia disposto a se abrir sobre alguma coisa. Eu queria aproveitar o gancho e questioná-lo sobre muitos outros segredos, tipo o que tinha naquela carta que ele rasgou que o fez reagir daquela maneira jogando-se no mar e dizendo que merecia morrer. As motivações que o deixam transtornado de uma hora para a outra. Enfim, havia um mundo a se descobrir sobre ele, mas aquele não parecia o momento correto. Guilherme nunca tinha noção exata de como ou quando entrar nesses assuntos delicados que nos renderiam horas de conversa.
"Além do mais, quando você começa a beber, fica todo soltinho. Dando mole pra geral", acrescento de maneira sutil, um pouco desconsertado sobre como o ciúme anda me influenciando ultimamente. Ele permanece sério, dirigindo, ostentando aquela expressão concentrada que traz a tona suas linhas de expressão lhe dando um ar mais maturo e charmoso.
"Eu queria que tu curtisse comigo", admite, por fim, evitando meu olhar. "Mas sempre parece que eu que tenho que ficar atrás de ti pra tudo, cara. Eu só queria um pouco de reciprocidade, não limitada apenas a quatro paredes. Queria que tu confiasse em mim, aproveitasse comigo".
"Eu vou trabalhar melhor isso em mim, prometo", garanto para lhe dar tranqüilidade, a princípio. "Mas depois precisamos conversar sobre algumas coisas que aconteceram e você não viu", referia-me aqueles homens com quem bati boca, que representavam uma ameaça séria, excepcionalmente depois de terem agredido o Pedro. Estava torcendo para que eles fossem denunciados.
"Beleza", é tudo o que ele diz em resposta ao estacionar o carro e sair. Contorno o veículo indo a seu encontro.
Quando ficamos lado a lado, na frente de uma grande casa murada com um belo jardim a frente, pego sua mão e entrelaço nossos dedos. O gaúcho olha para o gesto e depois ergue seu olhar para encontrar o meu como quem aprovou a atitude inicial. Selo seus lábios com ternura, roçando a boca na dele por um tempo que sempre parece insuficiente.
"Nós estamos estranhando tudo o que nos aconteceu, ainda carregando o peso desses seis meses de luta no Haiti, mas... Eu sei que as coisas vão melhorar pra gente. Estamos quase em casa, falta pouco... Tudo vai se ajeitar", garanto mais uma vez com a voz decidida. Gui concorda com a cabeça e sela meus lábios também antes de tocarmos a campainha.
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Por Trás da Farda (Romance Gay)
RomanceFelipe era um jovem cheio de sonhos e ambições em relação a mudar o mundo, transformá-lo num lugar melhor. Isso o conduziu a se alistar nas forças armadas, até que chegasse ao Haiti para uma missão de Paz, onde conheceu Guilherme, um cara pé no chão...