São Paulo. Ah, como eu sentia falta daquele pedaço de mim. Os edifícios altos, luxuosos; a quantidade considerável de carros transitando pelas rodovias da cidade; a massa de pessoas que atravessavam as ruas como se tivessem pressa e o mundo fosse se acabar; os casais apaixonados em toda a sua variedade distinta; as indústrias; a arte, a cultura; definitivamente, não tinha noção do quanto sentia falta da cidade até colocar meus pés para fora do avião.
Da capital para São José dos Campos foram mais algumas horas de viagem. Guilherme parecia um pouco fascinado, estranhando talvez, conhecer a grande São Paulo. Fui mostrando os pontos mais importantes enquanto comentava pra ele através da janela do táxi que pegamos para a rodoviária e, depois, durante a viagem.
A cada minuto que passava e nos aproximávamos da hora da verdade eu me sentia tenso, preocupado, e podia sentir que Guilherme partilhava da mesma sensação. No entanto, quando descemos do ônibus, ele segurou firme a minha mão e ambos pisamos com o pé direito juntos no chão. Uma sensação de alívio tomou meus ombros. Foi um gesto simples que muito falou. Entreolhamos-nos naquele momento e um sorriso inconsciente cobriu nossos lábios até que nos misturamos a multidão, já com as malas em nosso domínio.
Insisti para a minha mãe no telefone que ela não fosse nos buscar na rodoviária. Então, pegamos um uber que nos deixou na casa em que vivi toda a minha infância e adolescência até ingressar nas Forças Armadas. Ela parecia a mesma, intacta perante o tempo. Uma casa simples com cores claras, cercada por um baixo muro que escondia o pequeno jardim. Ao lado, uma garagem onde jazia o carro dos meus pais. De longe, pude ouvir o latido de Jujuba, que arrancou um sorriso natural.
Estávamos parados diante do portão segurando as malas pesadas. Os olhos azul-acinzentados do Gui encaravam a casa com curiosidade. Tentei desvendar o que se passava ali, mas ele era muito difícil de ler, especialmente no quesito emocional.
"Jujuba já sabe que estamos aqui!", disse-lhe, sorrindo. Meu namorado virou o rosto para mim erguendo sua sobrancelha partida com ar de divertimento daquele jeito que me matava um pouquinho – mas de tesão.
"Jujuba é o cachorro?", me perguntou com aquele mesmo tom rouco de quem estava rindo por dentro. Dei-lhe um soco fraco no ombro.
"Ó, respeita a Jujuba que ela é membro honrado da família, hein? Fica esperto!", balancei o indicador com seriedade enquanto ele comprimia um riso.
"Claro. Devo tratá-la como minha cunhada ou enteada?"
Fuzilei-o com o olhar antes de lhe alcançar e distribuir mais alguns soquinhos por aquele braço forte, que se contraiu sem esforço bloqueando naturalmente o que deveria parecer cócegas.
Paramos diante da porta de entrada. Nos entreolhamos mais uma vez. Respirei fundo e... a porta se escancarou.
"MEU FILHO CHEGOU! MEU FILHO ESTÁ EM CASA!", a confusa recepção de vozes emocionadas de Regina e Álvaro Barreto – meus pais – se mesclaram aos latidos de Jujuba e a euforia de minha única irmã, Fernanda, que me sugaram num abraço coletivo que perdurou alguns minutos.
"Er... Mãe! Hehehe... Pai! Eu... É...", tentei me manifestar, mas eram muitos apertos e beijos de todas as direções, além das lambidas e mordidinhas da white terrier. Guilherme permaneceu parado na porta com nossas malas e as mãos no bolso completamente sem jeito. Quando finalmente se afastaram, tentei aproveitar para chamar a atenção deles, mas os comentários persistiram.
"Veja como meu filho está forte!"
"E bonito!"
"Você tá diferente, mano, parece mais encorpado! O que vocês comiam lá?"
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Por Trás da Farda (Romance Gay)
RomanceFelipe era um jovem cheio de sonhos e ambições em relação a mudar o mundo, transformá-lo num lugar melhor. Isso o conduziu a se alistar nas forças armadas, até que chegasse ao Haiti para uma missão de Paz, onde conheceu Guilherme, um cara pé no chão...