Capítulo 8 - Redenção (Guilherme)

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Sempre me questionei sobre como iria morrer.

No começo, cheguei a acreditar que não passaria dos 27 anos – aquela famosa idade em que os rockstar deixam este mundo para se consolidar em uma arte eterna. Mas este sonho mórbido nunca se tornaria realidade enquanto eu fosse eu e também fosse filho do meu pai.

Praticamente todos os homens da minha família eram militares de diversas patentes, inclusive meu pai. Um veterano aposentado das forças armadas, machista da cabeça aos pés, era um homem arrogante e turbulento cuja palavra era sempre a final. Minha mãe nunca teve vez, e durante minha adolescência – momento este em que a rebeldia destrinchou cada veia em meu corpo – debilitada por um estado de saúde frágil, foi piorando até que a perdi para sempre.

Com sua ida, tudo o que havia de bom em mim tinha se consumido.

Desde então, passei a ser um adolescente ainda mais rebelde, deturpado. Perdi o rumo, perdi o chão. Isso me trouxe muitos problemas; levantei barreiras impenetráveis, me afastei das pessoas completamente desacreditado que elas poderiam me trazer algo de bom, até que decidi cessar meus problemas com meu pai e sair de casa de uma vez por todas.

Decidi provar pra ele que eu poderia ser um homem de verdade, e isso – em sua compreensão – significava servir a marinha. Assim, eu me alistei e cheguei até a fazer um curso para cabo quando surgiu a oportunidade de ir para o Haiti. Desgarrado do que deveria ser a minha família, sozinho, fodido pra caralho, decidi ir sem expectativas de voltar.

No começo, recebi altas instruções particulares dos meus superiores com receio de que minhas atitudes prejudicassem o pelotão. Teria que provar pra eles que mesmo não me preocupando com a minha vida, sabia prezar pela vida dos outros homens.

Antes de chegar a sala do Sargento, pude ouvir o fim de sua conversa com outro militar acerca de meu destino. Me deslocariam até um pelotão cujo Sargento Leonardo Correia assumia nas missões de paz, pois segundo suas próprias palavras, seus homens eram de muito valor e eu teria muito o que aprender com eles.

Foi assim que conheci Felipe Barreto.

No começo, achei o cara um verdadeiro pé no saco, levando-me a questionar diversas vezes comigo mesmo que porra um cara tão idealista e sonhador estava fazendo lá?

Dava pra ver que o cara se emocionava com tudo, queria abraçar o mundo com os braços e salvar a porra toda. Cheguei a cogitar que fosse complexo de heroísmo, até pegar algumas conversas entre ele e os mais chegados do nosso grupo. Notando como seu jeito de ver as coisas e de pensar era verdadeiro, depois de toda a desgraça que estávamos vivendo, começou a me soar como uma luz no fim do túnel.

O ápice foi quando retornei ao acampamento e peguei uns caras apostando quanto tempo mais ele renderia na missão. Escurracei-os de maneira bem agressiva, por não suportar tal atitude – e para defender sua honra também.

"Vocês deviam se inspirar nele, porque não chegam nem perto do ser humano que ele é!"

Meu comentário fez todas as cabeças se voltarem na minha direção e isso me constrangeu pra caralho, mas por sorte ele nem estava por perto. E, como eu era mais na minha, fechado e centrado, e já mantinha uma fama de rebeldia e violência, ninguém tinha audácia pra bater de frente comigo – a menos que quisesse sentir a força do meu punho.

Depois de quase seis meses convivendo com Felipe, comecei a me sentir estranho de um jeito bem complicado. A medida que chegavam cartas para mim de várias mulheres diferentes, eu me sentia vazio, como se meu físico fosse a única coisa do qual as pessoas lembrassem e desejassem. Além disso, tudo o que aquelas cartas traziam eram lembranças da minha pequena cidade, da minha família, da violência de meu pai.

Por Trás da Farda (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora