Capítulo Dez

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                             Henry

Nós andávamos rapidamente pelo estacionamento até onde a April havia deixado seu carro, preparados para qualquer coisa que do nada resolvesse aparecer.

Na verdade, eu estava torcendo para que um deles (de preferência magrelo, baixinho e sem força) chegasse até nós e se aproximasse da April para que eu pudesse ser tipo um super-herói e salvá-la do perigo.

Dei uma gargalhada daquele pensamento e balancei a cabeça para deletar aquilo. Era bem estranho.

- Você tem certeza de que estacionou esse carro por aqui? - Perguntou Carter depois de dez minutos caminhando sem nenhum sucesso.

Ela assentiu pensativa e correu um pouco até um fusca azul.

- Aqui. - April falou mais para si que para nós e sorriu, dando um leve tapinha em seu carro.

Entramos e seguimos rumo à minha casa, que parecia ser a mais perto do colégio, em silêncio total ao não ser por Emma e Carter que pareciam estar no meio de uma ótima conversa, como se nada estivesse acontecendo fora daquele carro.

- Você está na minha turma de cálculo, certo? - April perguntou depois de um tempo, cutucando meu ombro enquanto eu olhava distraidamente pelo retrovisor. Queria ter certeza de que estávamos seguros.

- A-acho que sim. - Respondi tentando manter a calma.

Ela riu.

- Me disseram que é bom em física.

- Acho que é uma das poucas coisas em que realmente sou bom. - Admiti e me permiti olhar seu rosto por um breve momento.

- É assim que me sinto em relação a dormir. Única coisa que faço direito.

Ri um pouco e indiquei o caminho por entre uma rua estreita, rodeada de flores e canteiros coloridos.

April encostou o carro no jardim à direita da casa e todos descemos observando todos os cantos com cuidado. Afinal, ninguém queria ser surpreendido com um dos tarados dançantes.

Entramos na minha casa com calma e logo notei a bagunça espalhada por todos os lados, além de sangue  e coisas que eu não conseguia identificar.

Respirei fundo, talvez aquilo não fosse o que eu estava pensando.

- Carter e Andrew, vão até a dispensa e procurem coisas úteis para levar. - Indiquei o local com a mão e virei-me para Emma. - No banheiro tem um kit de primeiros socorros, talvez nós precisemos dele, Emma.

Todos eles foram para um lado, catando coisas e guardando em suas mochilas estranhas, enquanto April ficou parada esperando que eu dissesse alguma coisa.

- Ah, você poderia ir no meu quarto pegar roupas e coisas que julgue importante? - Afirmei mais como uma pergunta e a mesma foi até lá com um leve sorrisinho no rosto.

Talvez eu não servisse para ser líder.

Caminhei até o quarto dos meus pais e peguei uma foto que minha mãe sempre deixava colada no espelho. Ela, papai, Jason e eu no último verão antes do que estava acontecendo agora.

Estávamos felizes e nunca havíamos tido um verão tão bom quanto aquele. Na verdade, um lado de mim se perguntava se teríamos qualquer outro dia juntos outra vez.

Balancei minha cabeça mais uma vez e tentei afastar uma lágrima que já chegava perto de escorrer, quando fui em direção ao meu quarto para ajudar a April a pegar algumas coisas.

Chegando lá, parei na porta observando-a olhar para o pequeno mural em cima de minha escrivaninha.

Ela se deu conta de minha presença e pôs aqueles olhos em mim, encarando-me por alguns segundos antes de desviar o olhar e rir.

- Você, hum, não é muito organizado. - Ela disse apontando para as coisas jogadas no chão e a cama bagunçada.

Concordei rindo um pouco e comecei a juntar as coisas em uma mochila com a ajuda dela, até que escutei um grito agudo que arrepiou basicamente todos os fios de cabelo dos meus braços.

Corremos até a sala de entrada a tempo de ver Emma tentando se livrar de um homem que a puxava para si.

April correu até ela, ajudando-a a se livrar do homem que me parecia incrivelmente familiar, e que agora já olhava para April e estirava aquela língua fazendo movimentos estranhos.

Peguei um taco de beisebol que estava perto do sofá e bati no braço musculoso do homem até notar uma tatuagem ainda mais familiar.

Não podia ser...

Arranquei o boné e os óculos do homem que corria em direção das garotas e pude notar que era Jason, vestido como um trombadinha e com os olhos vermelhos e inchados.

Fiquei parado, em choque, vendo-o  tentar levar Emma para longe enquanto meu cérebro tentava processar aquela informação.

Jason, o meu irmão mais velho, o cara que me ensinou a jogar bola e fazer cálculos agora não passava de um idiota dançante que movimentava sua língua como se tivesse vida própria.

Caí no chão de joelhos e notei que meu corpo estava quente, mas minhas lágrimas, frias. Eu não conseguia controlar aqueles sentimentos, e mesmo sabendo que outras pessoas dependiam de mim ali, eu só conseguia pensar em como havia perdido Jason e agora estava sozinho.

Carter se aproximou de mim receoso e abraçou-me sussurrando que entendia e que aquilo logo passaria.

- E-ele levou alguém?

- Andrew conseguiu intercepta-lo antes que chegasse perto das garotas.

Respirei aliviado e levantei indo em direção à porta com um sentimento  de dor no peito. Quase como se agora nada restasse ao não ser um completo vazio.

- Vamos embora.

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