Capítulo Trinta

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April

Foi difícil andar silenciosamente pelas ruas depois que saímos do colégio com Sebastian grudado em mim, e recebendo olhares frustrados de Henry o tempo todo.

Seguimos até o estacionamento em direção à rua ao lado da escola tomando todo o cuidado possível e ainda não tínhamos encontrado nenhum carro em condições decentes para uso.

Ki puxou sua arma e continuou andando preparado para qualquer coisa que aparecesse ali.

O imitei tentando parecer forte, mas minhas mãos tremiam só de saber que eu estava tocando em uma arma.

- Você se importa se eu segurar seu braço? - Kriss perguntou a Peter que concordou rapidamente e o ofereceu a ela, que aceitou e segurou com força.

Pelo visto não era só eu que estava com muito medo.

Já havíamos caminhado por mais de duas quadras até que avistamos um carro que aparentemente estava intacto, a umas três ruas de nós, perto de um cruzamento.

- Podíamos correr até lá, não aguento mais andar desse jeito sinistro! - Reclamou Margharita apontando para o carro amarelo a nossa frente.

- Cale a boca. - Sebastian ralhou e tive uma leve vontade de dar um peteleco sua cara.

- Não liga para ele. - Falei para Margharita e nessa hora pude ver Henry revirar os olhos para Sebastian contendo uma raiva estampada em seu rosto.

No cruzamento deixei que andassem um pouco mais a frente enquanto eu havia parado para esperar Margharita amarrar os cadarços de seu tênis branco.

Senti uma mão trêmula em minha cintura e virei-me prestes a gritar para Sebastian que eu não queria nada mais que muitos metros de distância dele.

Mas não era Sebastian. Ali em minha frente, tão próximo que eu podia sentir o hálito de bebida estava um deles, um dançante com a língua para fora e ombros em movimento.

Dei um soco em seu pescoço, o desestabilizando e fazendo-o cair no asfalto frio até notar que alguns já puxavam Margharita logo à minha frente.

Entrei em pânico.

Eles tinham chegado tão silenciosamente, como fui tão burra a ponto de não olhar para todos os lados e me certificar de que estávamos seguras?

Me posicionei e apontei a arma para os carinhas que puxavam Margharita, mirando nos mais próximos e aparentemente mais fortes.

Puxei o gatilho, mas não acertei em nenhum deles e acabei caindo com o impacto da bala disparando. Aquilo não era tão fácil quanto nos filmes.

Foi tudo muito rápido e confuso. Minha cabeça bateu no chão e por uma fração de segundos parecia que o mundo estava girando, então quando olhei novamente para Margharita, já haviam dezenas em volta dela, se esfregando e fazendo movimentos bizarros na pobre loirinha.

Corri até onde ela estava, mas Henry foi mais rápido e empurrou-me de volta ao chão. Ele atirava neles rapidamente, mas aquilo não estava funcionando. Apenas os deixava mais agressivos e rápidos, e já corriam em direção a Henry que não se movimentava.

O que ele estava fazendo?

Olhei para Margharita por uma última vez, ela já não era a mesma. Sangue escorria de seus lábios carnudos e sua pele morena estava lotada de arranhões e machucados feitos naqueles poucos minutos em que fora pega.

Tudo estava acontecendo rápido demais.

Algumas lágrimas escorreram de meus olhos até ver Ki me puxando pelo braço, dizendo repetidamente que eu precisava correr. Mas eu não conseguia, minhas pernas estavam paralisadas e todo o meu corpo parecia estar desistindo daquilo tudo.

Fiz uma força para levantar pensando em Margharita morta por minha causa até que vi Henry cair e ser puxado.

Gritei alguma coisa para que Ki o ajudasse, que ouviu e correu atirando para todos os lados. Ele era um bom atirador e muito preciso, acertava sempre na cabeça dos idiotas derrubando-os no chão, mas eles eram muitos, e as balas pareciam não ser suficientes.

Sebastian brotou do meu lado puxando meu braço e me arrastando para onde Peter e Kriss estavam, parados apenas observando toda aquela cena.

Uma raiva e pânico maior do que qualquer coisa me tomou naquele instante. Henry estava em perigo, quase morrendo em meio aos carinhas que se esfregavam nele, apenas porque tentou me tirar dali.

Eu não podia perdê-lo. Eu não suportaria aqueles dias presa ao lado de Alex sem aquele sorriso ou aquela coisa que ele faz quando está com vergonha. Não veria mais graça em física e muito menos entenderia que momentos tão pequenos e simples fazem a diferença no nosso dia.

Foi naquele momento que me toquei que eu de fato gostava do Henry, e não da forma que eu pensava. Daquele jeito.

Sorri de forma estranha para mim mesma por finalmente desvendar meus sentimentos e dei uma cotovelada no nariz de Sebastian, fazendo-o finalmente me soltar e cambalear para longe de mim.

Corri até onde Henry e Ki estavam e usei toda a força que naquele momento existia em mim para ajudá-los.

Usei aquela arma idiota e consegui atingir dois deles, fazendo-os correrem assustados, e os outros que ainda estavam por ali foram dizimados por Ki, ao longo do tempo que pareceu correr rapidamente.

Depois de um tempo, Ki caiu de joelhos e largou a arma no chão, estendendo as mãos ao lado de Henry.

- V-você está bem? - Perguntei ao Henry no momento em que me joguei ao seu lado, tomando seu rosto em mãos.

Ele respirou fundo e olhou nos meus olhos como se dissesse "sim".

Notei um grande corte em sua perna e umas lágrimas escorreram de meus olhos. Tudo aquilo era culpa minha.

- Eu estou bem também. - Ki disse e me arrastei até ele, envolvendo-o em um abraço estranho.

- Obrigada. - Sussurrei para ele, que retribuiu o abraço, dando um sorriso cansado.

Depois de um tempo nos recuperando de todo aquele susto, ajudamos Henry a se levantar e caminhamos até onde Sebastian, Kriss e Peter estavam, conversando e rindo.

Me segurei para não matá-los bem ali e fomos direto até o carro, que Peter ligou e todos entramos, uns em cima dos outros pois era pequeno e apertado.

O resto do caminho foi tomado por um silêncio quase doloroso enquanto Ki dirigia acompanhado por Sebastian na frente, que guiava o caminho até o hospital.

Sentada ao lado de Henry, encostei minha cabeça em seu ombro, fazendo-o dar um sorriso carregado de dor.
E enquanto olhávamos pela janela a cidade destruída pelos idiotas que não paravam de dançar, enlacei meus dedos nos dedos de Henry, que segurou-os como se nunca mais fosse soltar.

Aquilo bastava para mim.

Eu não sabia como seria daqui pra frente, muito menos por quanto tempo eu sobreviveria naquele novo mundo. Mas naquele momento eu sabia exatamente o que sentia, e estava disposta a lutar por aquilo.

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