Capítulo Quarenta e Nove

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                           Rachel

Os minutos se passaram lentamente enquanto eu estava apenas sentada no chão tentando ficar acordada. Meu corpo todo doía por causa da alucinação e meus olhos pesavam por conta do sono. Eu não aguentaria ficar mais um minuto nesse lugar horrível.

Como não havia nada para ocupar a mente, lembranças do Andrew vieram à tona. A sua risada quando ouvia algo engraçado, sua mania de passar a mão no cabelo, seu jeito de andar. Eu deveria esquecer de tudo isso se eu quisesse me manter forte aqui nesse lugar.

Ouvi um barulho e a porta branca se abriu, revelando o homem grisalho que estava bem vestido hoje. O encarei com toda raiva que eu sentia no momento. O Andrew estava morto por causa dele.

- Rachel, acho que você precisa de ar livre. - disse ele me encarando como se eu fosse um experimento.

- E eu acho que você deveria morrer, seu velho desgraçado! - falei entre os dentes.

Vi sua boca formar um pequeno sorriso assim que terminei a frases.
Ele deu dois passos em minha direção.

- Você não pode agir assim, Rachel. Depois da morte do seu namoradinho tudo está resolvido. - disse estendendo sua mão para mim. - Aceita o passeio?

Olhei para sua mão enrugada e para seu rosto esperançoso. Apesar de eu não ter entendido muito bem o que ele disse, ignorei sua mão e andei até a porta sozinha. Ele me acompanhou logo em seguida.

Ele e seus dois guardas me guiaram por corredores longos onde as pessoas me olhavam curiosas. Eles podiam saber quem eu era, o que estava acontecendo comigo ou só estavam me encarando por eu estar coberta de sangue. Ignorei todos os olhares.

- Os guardas ficarão aqui. - disse assim que paramos em frente ao elevador. - Rachel e eu precisamos conversar a sós.

A ideia de ficar a sós com um assassino me deu calafrios. Tentei disfarçar o quanto estava nervosa enquanto o elevador subia.
Assim que parou, senti o ar livre bater em meu rosto.

Respirei aliviada.

Aquele lugar era a cobertura do prédio que ele estava nos mantendo presos.

Andei rapidamente até a beira do local podendo observar praticamente toda a cidade que estava toda destruída por conta dos dançantes. De longe, observei um grupo deles dançando loucamente com um música horrível. Isso me fez pensar se o grupo estava seguro no hospital.

- É incrível como os Delayed's vivem, não é? - perguntou parando ao meu lado.

-Delayed's? - perguntei, confusa.

- É assim que chamamos eles. - apenas concordei sem entender muito. - A maneira como eles nos destroem...

- Por que me chamou aqui? - perguntei sendo direta.

- Você tem espírito de liderança, Rachel, assim como eu.

- Líderes não matam pessoas.

-Não? - perguntou, me encarando. - Você matou meu filho e ainda fala que líderes não matam?

De repente tudo o que ele falou se encaixou perfeitamente em minha cabeça. Ele estava se vingando por eu ter matado o filho dele naquele supermercado. Ele estava tentando nos machucar com a mesma intensidade que eu o machuquei. Mas April e Henry não tinham ligação com isso. Qual era seu objetivo?

- Eu pensei que todos estavam mortos. Ele tentou me matar!

- Isso não importa mais, querida Rachel. Ele está morto, assim como seu namorado. Eu arranquei seu coração como você arrancou o meu, mas ainda não é o suficiente para mim. Nunca é.

- Então solte April e Henry. O seu negócio é comigo, não com eles.

- Na verdade, é com todos vocês.

Tentei analisar a situação. Ele não iria parar até nos matar. Mas isso não aconteceria se eu o matasse primeiro.

Peguei umas das barras de metal que estavam ao meu lado e, antes que ele fizesse algo, bati em seu rosto com a força que eu ainda tinha. Não fiquei para ver o que causou nele, apenas saí correndo em direção ao elevador. Procurei rapidamente o andar da enfermaria e o apertei umas dez vezes até a porta fechar.

Fiquei impaciente enquanto o elevador descia devagar. Se o homem que atingi estivesse acordado depois da pancada, ele teria avisado a todos da segurança que estariam me procurando nesse momento. Eu tinha que ser rápida.

No momento em que o elevador parou, comecei a correr entre as poucas pessoas que andavam por ali. E parei somente no momento em que vi o cabelo loiro da April que estava sentada em uma das macas. Seu pulso estava enfaixado por conta do corte. Vi Henry assim que entrei na sala. Eles pararam de conversar assim que me viram.

- Temos que fugir. Agora!

April e Henry me olharam confusos. Eu podia ouvir passos das pessoas correndo de um lado para o outro no corredor. Provavelmente estavam me procurando e não tínhamos muito tempo.

- Como vamos fazer isso? - perguntou April.

- Apenas corra atrás de mim. Vai dar tudo certo. - respondi tentando convencê-los.

-Vamos! - respondeu Henry segurando a mão de April.

Observei o corredor rapidamente, me certificando de que não havia seguranças. Nenhum, por enquanto. Apenas enfermeiros circulavam, mas mesmo assim eles podiam nos reconhecer. Olhei para meus amigos fazendo um sinal que indicava que deveríamos correr. Foi o que fizemos. Corremos loucamente entre os enfermeiros que tentavam nos parar até chegar no elevador. Henry deu um chute em um deles que tentou entrar com a gente.

Cliquei no botão do térreo até que a porta fechasse.

- Como você conseguiu escapar? - perguntou Henry. - Você estava na sala branca quando fui para a enfermaria.

- Acho que aquele velho gosta um pouco de mim. - respondi, balançando os ombros como se não me importasse.

O elevador parou e as portas se abriram. Como eu imaginei, não havia tantos guardas na porta. Provavelmente eles acharam que não iríamos escapar e deixou a entrada meio livre.

Ele foi muito burro ao pensar nisso.

- Não importa o que aconteça, apenas corram sem olhar para trás. - disse a eles antes de sairmos do elevador.

Andamos discretamente, desejando que ninguém nos notasse, mesmo sabendo que era impossível. Ainda de cabeça baixa, consegui ver que um guarda com o dobro do meu tamanho se aproximava de nós. Fiz o mesmo que ele, continuei andando em sua direção até que estivesse próxima o suficiente para chutar suas partes baixas.

- Corram! - gritei para April e Henry enquanto mais guardas se aproximavam.

Eu queria sair daqui, mas se não fosse possível, eles teriam que sair sem mim. O guarda caído tentou puxar meu pé para que eu caísse, mas fui rápida e pulei para longe, correndo logo em seguida. Consegui alcançar April e Henry no meio da rua.
Resolvi olhar para trás afim de certificar que ninguém estava nos seguindo. O que eu vi foi algo totalmente diferente. O velho, que estava com o rosto ensanguentado, com um sorriso psicopata nos lábios, nos observava fugir com vários seguranças ao seu redor. 

Desviei o olhar.

Finalmente, tudo o que aconteceu ficaria para trás e nunca mais seria mencionado.

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