Capítulo Quarenta e Sete

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                            Rachel

Não podia acontecer. Isso não estava acontecendo. Eu repetia baixinho para mim mesmo todo tempo depois que vi o corpo morto de Andrew em minha frente. Imagino que neste momento alguém me diria para pensar em coisas boas, momentos bons que passamos juntos, mas não adiantava. A única coisa que vinha em minha mente era sua cabeça ensanguentada.

Eu estava chorando baixinho, encolhida em um canto do quarto branco, quando resolvi dar uma olhada na televisão. April estava quebrando um copo de vidro. Levantei rapidamente quando percebi o que ela iria fazer.

- April, isso não é real! - gritei desesperadamente enquanto ela caia no chão branco.

Observei o sangue sair do seu braço lentamente até que uma poça grande estivesse ao seu redor. Eu gritava. Gritava para que eles ajudassem ela. Que não deixassem April morrer. Meu pedido foi atendido em minutos quando dois caras com jaleco apareceram e levaram April para outro lugar desconhecido.

Pelo menos, não iam deixá-la morrer. Ou iriam fazer algo pior... Preferi pensar que iriam deixar ela viva. Não imagino mais ninguém daqui morrendo.

Pensei em dormir, mas sabia que aquele alarme iria tocar alto, fazendo meu cérebro e meu corpo balançarem. Tive que ficar acordada, olhando para aquela parede branca que fazia meus olhos arderem.

Ficar com os olhos abertos era a única opção.

Mas tudo isso fazia com que eu lembrasse do Andrew. Eu lembrava do seu toque, seu cheiro, seu beijo. Infelizmente, eu sentia que isso tudo estava tão longe. E realmente estava. Seria mais difícil viver assim. Saber que eu poderia ter feito algo naquele momento para salvá-lo e não fiz nada além de chorar.

Então percebi que esse era o objetivo deles. Tentar nos quebrar o máximo possível para tentar conseguir alguma informação. Mas somos tão indefesos, como poderíamos dar uma informação que eles queriam?

Olhei para a televisão e vi Henry deitado, olhando para cima. Ele devia estar pensando o quão próximo esteve da morte hoje. Eu queria poder fazer algo por eles.

Senti minha pele coçando e olhei para o local. Minha pele estava tão vermelha quanto sangue, mas eram como pequenas bolinhas em meu corpo. Passei a minha unha por elas enquanto ardiam. Isso não parava de coçar até que saiu um pequeno bichinho de dentro da bolinha. Começou a sair bichinhos de todas as bolinhas que haviam em meu corpo, e eu sentia isso em meu rosto também.

Comecei a coçar meu rosto e corpo rapidamente, tentando me livrar de tudo isso que estava se espalhando rapidamente. Gritei enquanto lágrimas escorriam pelo meu rosto. Doía, mas eu estava desesperada com tudo aquilo em mim.

- Rachel, não é real! - escutei Henry falar. - Fique calma.

Ele dizia que não era real, mas para mim era muito real. Eu conseguia sentir aquelas coisas nojentas se mexendo pelo meu corpo, tentando se alimentar da minha carne.

- Tente se concentrar em algo que gosta! Esqueça o agora. - gritou para mim.

Fechei os olhos um momento e pensei no Andrew. No momento em que ele me pediu em namoro na frente de todos da escola. Foi um momento tão lindo e mágico para mim. Eu nunca iria esquecer quando ele entrou na quadra segurando um enorme buquê de flores. "Tenho certeza que você é a pessoa que vai me fazer feliz", foram as palavras que ele disse antes de me perguntar se eu aceitava namorar com ele.

No momento em que abri os olhos, as coisas que estavam em meu corpo haviam sumido. Não havia nada ali além de sangue e arranhões. Olhei para a pequena televisão.

-Obrigada, Henry. - disse com um pequeno sorriso no rosto.

Sentei novamente. Dessa vez com os olhos fechados. O lugar totalmente branco estava causando ilusão na gente e não seria nada bom. Se continuasse assim, iríamos ficar loucos.

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