Capítulo Quarenta e Quatro

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Rachel

Minutos haviam se passado. Talvez horas e nada havia acontecido ainda. Eu não parava de olhar para a pequena televisão onde eu podia ver os outros. Eu queria muito falar com eles, dizer que tudo ficaria bem, mesmo que eu não acreditasse nisso. Nenhum de nós sabia o que iria acontecer.

A sala totalmente branca deixava meus olhos ardendo. Eu não iria conseguir ficar muito tempo ali. Não conseguia entender o objetivo de deixar a gente em um lugar como esse. Eles estavam demorando muito para aparecer e isso estava me deixando preocupada.

Levantei e corri até a porta. Não havia maçaneta ou outra forma de tentar abri-lá. Comecei a bater e gritar, não aguentava mais.

- Me tirem daqui! Me tirem desse lugar horrível!

Minha mão doía cada vez que eu batia na porta de ferro branca, mas eu não iria desistir tão fácil. Eu queria sair daqui. Agora.

- O que vocês querem comigo? - Gritei com toda força que tinha.

Não imaginei ter uma resposta, mas a porta se abriu logo em seguida.
Um homem com cabelo grisalho sorriu ao me ver. Mais dois homens entraram e pararam ao seu lado. A porta foi fechada logo em seguida.

- Que bom que foi a primeira a fazer essa pergunta, Rachel. - Disse o homem grisalho.

- Como sabe meu nome? - Perguntei com a voz falhando.

- Todos aqui sabem seu nome, não fique surpresa. - Respondeu ficando em minha frente. - Soube que você é a líder deles. Não é fácil ser um líder.

Não disse nada. Eles sabiam meu nome, sabiam sobre o grupo. Mas como? Eles deviam estar nos vigiando.

- Entendo que tenha muitas perguntas, mas não posso respondê-las agora. Primeiro você terá que responder as minhas perguntas. - Disse o homem. - Agora diga-me, de onde vieram?

Permaneci calada. Seja lá o que eles queriam, eu não falaria. Aprendi com os filmes a nunca falar nada para estranhos que te sequestram.

- Muito bem. Você vai falar por bem ou...

Senti um soco forte no lado esquerdo do meu rosto. Caí no chão com o impacto do soco. Senti gosto de sangue em minha boca e olhei com raiva para o homem grisalho.

- Por mal. - Terminou a frase e estralou os dedos. - Rachel, eu não queria fazer isso, mas você está dificultando as coisas. Facilite para mim!

- Irei facilitar com uma condição. - Falei ficando sentada.

- Você não está em posição para pedir condições aqui.

- Ótimo. Então não falarei nada.

O homem grisalho fez um sinal e um dos homens começou a andar em minha direção.

- Que pena, Rachel. Pensei que podíamos ser amigos.

Dito isso, ele saiu me deixando sozinha com os dois homens fortes.

- Por favor, não. - Pedi baixinho, sentindo lágrimas escorrerem pelo meu rosto.

Pedir para que não fizessem nada não adiantou muito já que os homens vieram em minha direção. Um deles me segurou por trás enquanto o outro começou a socar minha barriga. Tentei me livrar das mãos que me prendiam, mas não adiantou. A dor ia crescendo até consumir todo meu corpo. Eu não iria aguentar, não por muito tempo.

- Da próxima vez, é melhor ter as respostas na ponta da língua. - Disse o homem antes de me soltar no chão.

Me encolhi, me abraçando. Tentando fazer com que a dor passasse, mas não passava. Minha vista estava ficando turva, então deixei que a escuridão me invadisse.

***

Acordei sem perceber onde eu estava e então lembrei de tudo. Tentei levantar, mas meu corpo todo doeu. O gosto de sangue ainda estava em minha boca. Isso não podia estar acontecendo. Como eu deixei isso acontecer?

Levantei mesmo com as dores e observei a televisão no alto do quarto. Henry estava gritando desesperado, então percebi o motivo quando olhei para a telinha que mostrava April. O mesmo homem que me bateu estava batendo nela que gritava de dor. Seus gritos cortaram o ar como um raio. Coloquei as mãos no ouvido para não ouvir. Eu não podia ouvir. Era tortura vê-la nessa situação e não poder fazer nada.

Precisava fazer algo para não ouvir seus gritos. Ignorando a dor que sentia, corri até a porta e comecei a gritar.

- Parem! Parem de bater nela!

Parecia que tudo que eu fazia era em vão, mas eu não parei de gritar. De repente, meus gritos e os de April se juntaram. Eram gritos de desespero. Minha intenção era que eles parassem de bater em April. Eu não conseguia ver ela daquele jeito.

Depois de minutos gritando, os homens que estavam na sala da April saíram a deixando jogada, chorando. Eu também parei de bater e gritar, sentando no chão cansada. Tudo isso era tão desgastante, e meu psicológico estava acabado com tudo isso. Eu não aguentava mais.

Eu só queria voltar para minha vida antiga. Ir para o colegio, para as festas, beber até ficar tão bêbada a ponto de não lembrar nada no dia seguinte. Ir para a biblioteca sem ser incomodada, dormir até tarde sem me preocupar com o que ia acontecer, decidir qual faculdade eu queria ir... A faculdade que eu nunca vou entrar. Eu sentia saudades de tudo isso. Coisas que nunca iriam acontecer.

Deitei para descansar o meu corpo. Eu estava tão cansada, não conseguia manter meus olhos abertos. Eu precisava dormir, mas eu não conseguia. Imagens de April sendo agredida ficaram repetindo em minha mente e imaginei os outros sofrendo a mesma coisa. Eu não deixaria que isso acontecesse. Eu não deixaria eles machucarem meus amigos.

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