Capítulo 90

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Nada parecia certo estando ao lado dela, era perturbador, tudo que eu havia sofrido era culpa dela eu era quem eu era por culpa dela. Eu estava mentindo para ela, estava fingindo para que no final tudo ficasse bem, mas eu estava sendo quem eu era e eu não me orgulhava daquilo, matar não me fazia mais sentir remorso ou qualquer outro sentimento, eu me sentia fazendo algo que eu tinha nascido para nascer. Era avassalador perceber finalmente que eu era aquilo e que eu era como ela, a dor de um amor que teve um fim, acabará com nós duas e eu me sentia como se fosse sua cópia exata, pronta para cometer seus mesmos erros, pronta para não sentir mais nada.
Em seus olhos eu vi os meus, a mesma frieza que meu olhar tinha tomado, seus lábios e seu rosto inexpressivos eram como olhar meu rosto no futuro.
- Eu sei o que você está fazendo. Falei enquanto me desviava de um de seus golpes.
- Eu? Indagou ela com ar de superior.
- Você bloqueou meus poderes, tem me deixado mais fraca.
- Enfim descobriu. Zombou
- Quero que me devolva tudo, quero que minha força esteja completa para acabar com Sol. Falei com fúria no olhar.
Ela ficou em silêncio, mas enfim falou:
- Você tem me provado que pode vencer, então vou conceder o que me pede, venha.
Me aproximei devagar e ela se pôs em frente a mim, seus olhos claros analisavam meu rosto enquanto suas mãos seguravam meu rosto.
Seus olhos se iluminaram de tal forma que tive que fechar os meus, pois, não conseguia ver nada, suas mãos precionando meu rosto, senti como seu meu corpo fosse preenchido por algo, sentia em meu corpo como se uma brisa quente corresse por ele, me senti tão forte que poderia acabar com a vida de qualquer um, senti como se pudesse destruir o mundo com um estalo de dedos, me surpreendi com meus próprios pensamentos eu estava insana.
Uma forte luz emanava de minhas mãos e Lua me olhava com um sorriso em seus lábios sempre tão frios.
- Teste seus poderes, veja o quanto é forte, nunca teria feito isso se não confiasse em você, essa é quem você é, essa é sua força. Gritou ela.
Lua se afastou e em seu lugar mil soldados surgiram, ia ser fácil demais.
Fechei meu punho e soquei o chão, um tremor se espalhou, surgindo pelo chão espinhos da cor da lua empalaram os soldados, os corpos sumiram se transformando em poeira branca, sendo espalhada pelo vento, Lua sorriu.
- Não nos resta muito tempo, eu já lhe ensinei tudo que podia ter te ensinado e por mais que eu não queira admitir, você Luna, se saiu melhor do que eu esperava.
- Obrigada.
Ela parecia estar sendo sincera, parecia mesmo, sem fingimento.
Ela sumiu em seguida me deixando sozinha novamente, era bom estar sozinha, mas minha cabeça estava lotada de pensamentos.
Eu vagava sem rumo, andava por horas pelas florestas, me sentia sempre buscando algo, mas nunca encontrava o que eu procurava.
A batalha estava próxima o bastante para que eu sentisse que logo tudo teria um fim.
Eu já não sabia a quanto tempo estava na floresta e nem percebi que estava correndo, meu coração e respiração estavam acelerados, mas não estava pronta para parar, a cada choque dos meus pés contra o chão eu sentia que estava no piloto automático, perdida em mim mesma.
Eu não era mais quem um dia eu tinha sido, desde a primeira morte eu estava sendo moldada para ser essa Luna, a Luna que mata sem piedade, a Luna que não sente mais fome, dor física, cansaço ou medo. Eu não me sentia mal por ser essa Luna, não sentia nada.
Enquanto corria sem rumo foi como se um flash de Dastan tivesse passado por mim, passado pelas árvores, parei bruscamente quando minha mente me levou para longe, para uma imagem dele que se embaraçou com minhas lembranças dele, uma confusão invadiu minha mente, UTI, um sorriso, morte.
- Eu amo você.
Sua voz ecoou cheia de dor.
- Princesa.
Suas palavras ecoavam na minha mente se misturando com outras palavras, o barulho das máquinas na UTI, a última vez que o vi com vida e a primeira vez que seus olhos se encontraram com o meu me fizeram gritar, elas se misturavam com sua voz e com outras lembranças fazendo minha cabeça girar.
Levei minhas mãos a cabeça tentando fazer aquilo acabar, minha cabeça girava e eu senti que o mundo fazia o mesmo em torno de mim.
Caí de joelho sem que pudesse ver nada além das lembranças de Dastan, meus dedos se afundando na terra, minha cabeça doía e eu só conseguia gritar, eu estava cega por aquelas lembranças, a voz de Dastan gritando se misturava e estava me deixando louca.
Eu já rolava no chão, gritando.
Senti um toque e estremeci quando tudo sumiu e eu pude voltar a ver a floresta.
Era Lua, ela tinha acabado com tudo aquilo, minha mão estava agarrada em seu pescoço e a outra pronta para atacar, foi um reflexo, abaixei minhas mãos.
- Eu sabia que teria algum efeito, mas não esperava por isso. Ela se levantou inexpressiva.
Me sentei e vi que os mesmos espinhos que eu havia empalado os soldados estavam por toda a floresta e paravam próximos ao meus corpo, a floresta estava destruída, haviam animais mortos nas pontas dos espinhos e a terra havia sido queimada.
- Isso não acontecerá novamente, foi resultado de todo seu poder, ficará bem.
Me levantei e me transportei para longe, meu coração estava acelerado e eu não conseguia ainda entender tudo que eu tinha visto, eram lembranças e sonhos misturados em um só.
- O amor é a nossa perdição, é a nossa fraqueza.
- Mas é a nossa razão para viver.
- Seu propósito é bem maior que esse, e o amor que você viveu só existiu para te destruir e te fazer renascer, eu sei disso, já vivi isso.
- Por que não ficaram juntos?
- Porque eu preferi me destruir a deixar que ele me destruísse mais tarde, eu decidi por algo que me amargura até hoje, eu escolhi abandonar a melhor coisa que já tive para seres que me odeiam, eu fiz isso e fazendo isso me tornei o que eles achavam que eu era, eu me perdi e quando me livrei de todo aquele erro eu me encontrei, eu sou isso, eu só tentei ser algo que não era e o deixando para trás eu descobri como o amor só serve para nos deixar fraca, ele só nos destrói.
Ela havia o amado, amado tanto quanto eu amava Dastan, mas ele não era um erro não era minha perdição, ele era minha salvação era aquilo que me prendia a minha alma, era quem me afastava de quem que podia ser, de quem eu não queria ser.
Olhando para Lua eu percebi que não podia viver em um mundo sem ele, pois se vivesse, eu seria aquela que estava a minha frente, eu estava sendo covarde, mas já não aguentava mais.

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora