Capítulo 100

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Nosso olhos se encontraram no momento em que eu cruzei aquela porta, sua face antes tão sem reação agora me encarava com frieza, suas mãos estavam ao lado do seu corpo com os punhos cerrados.
Caminhei até ele pesadamente, como se meu corpo agora estivesse preso ao chão. Seu olhos de azul profundo pareciam ainda mais escuros com a pouca luz.
Meu coração batia tão alto que temia que ele pudesse sentir meu medo, minhas mãos trêmulas, estavam inquietas e até mesmo minha respiração se alterou com seu presença.
Ele continuava ali, imóvel, com a mesma feição no rosto. Já estava próxima o bastante para ver que suas mãos também tremiam e que seu peito arfava.
Me aproximei ainda mais, estava agora frente a frente com ele, poderia abraça-lo ou até mesmo encontrar-me com seus lábios, mas parecia que ele me atacaria se fizesse isso.
Aquele que já tinha sido meu, o amor da minha vida, ele já não parecia mais o mesmo. O tempo em que ele passou nas mãos de Dalila, Sol e a Lua o mudará tanto que por fora ele parecia o mesmo, mas por dentro sabe se lá o que tinha restado do antigo Dastan. Eu fitava seu rosto tentando captar qualquer que fosse sua reação diferente daquela que ele me olhava, mas ele continuava mesma forma. Ele puxou uma cadeira apontando para que eu sentasse e eu fiz isso, ele se sentou em frente a mim.
Suas mãos passavam pelos cabelos freneticamente, seus olhos não se mantinham em contato com os meus por mais de cinco segundos, o suor que escorria por sua testa assim como seus gestos entregavam o quanto ele estava nervoso, assim como eu.
Apesar de tudo eu queria abraça-lo com toda a força e esquecer tudo de ruim que havíamos passado, mas eu não era a mesma e ele havia mudado da mesma forma. Dois amantes que agora pareciam mal se conhecer, mas que tinham uma ligação tão forte que ela vencerá até a morte.
Nós dois em frente um ao outro não parecíamos mais os mesmos, ele ainda era o meu Dastan, mas seria eu a sua Luna? Aquela doce e ingênua Luna? Não mais...
Era difícil olhar pra ele e não lembrar do passado e de tudo que havia acontecido, de exatamente tudo que havia nos lapidado até esse ponto, até essa nossa cena.
O ar da sala parecia leve, mas o nosso silêncio fez com ele se tornasse pesado e desconfortável. A luz de fim de tarde que agora entrava pela janela fazia seus olhos ficarem ainda mais azuis, como um oceano.
Minhas mãos trêmulas, foram até um pequeno bule de chá que estava sobre a mesa, mas seu toque em minha mão quando ele tomou o bule para me servir fez meu coração acelerar como se fosse a primeira vez, ele sentiu o mesmo, sua mão tocava ainda a minha e ele olhava fundo em meu olhos.
- Eu sirvo você. Disse ele cortando o silêncio entre nós.
Eu afastei minha mão do bule, passando a outra no lugar que ele havia tocado, ele serviu o chá no mesmo segundo.
Ele havia me evitado por todo esse tempo, haviam se passado dias desde tudo que havia acontecido e só naquele momento nós tínhamos nos encontrado, ele parecia ainda mais distante a medida que os dias foram passando, tentando evitar os encontros e minhas tentativas frustadas de tentar conversar.
- Eu sei que assim como eu, você também deve estar confusa, mas tente entender que se eu estou te afastando é que não era o melhor momento para que pudéssemos conversar...
- Eu te compreendo, mas queria tentar te explicar algumas coisas...
- Eu não preciso de explicações, eu sei que você deve estar passando pelo mesmo que eu passei, mas sei que não tem dúvidas dos seus sentimentos por mim, mas eu estou, é difícil entender e acreditar em tantas coisas ao mesmo tempo, eu te amei e depois me fizeram te odiar e eu soube que te amava, mas eu não sou mais o mesmo e percebi que você também não é a mesma.
Meu coração ansiava por suas palavras, mas ao mesmo tempo temia o que poderia acontecer.
- Eu te amo, Luna, sei que te amo e esse amor é tão grande que me deixa com raiva de todo ódio que eu senti por você, eu não quero te machucar como sempre fiz, ser o tolo que eu sempre fui e eu acima de tudo não quero te perder nunca mais.
Ele se levantou e caminhou até minha cadeira virando em sua direção. Seus olhos estavam marejados e eu conseguia sentir o quanto aquilo era difícil para ele.
- Eu não posso perder você, mas eu preciso de um tempo até a minha cabeça voltar para o lugar, para esquecer tudo que colocaram em minha mente, para lembrar de todos os momentos que estivemos juntos, eu quero ser seu Dastan novamente...
- Você não precisa... Eu não sou mais a mesma e nunca mais vou ser, eu tenho que ser sincera assim como está sendo comigo... Eu agora não sou mais a Luna que era, eu agora sou a junção do que eu era com o meu lado sombrio, tudo que me enfraquecia ficou para trás, mas eu tive que pagar o preço, eu estou livre da maldição, mas quem eu sou agora eu não posso mudar, eu matei Dalila, eu a matei para acabar de uma vez por todas com todo o mal que ela me causou, por toda dor que eu passei, por toda a tristeza que ela me causou, eu passei por momentos difíceis depois de sua morte, eu desisti de tudo porque eu não conseguia viver em um mundo que você não existisse, eu te amo da mesma forma que você me ama, com a mesma intensidade e eu não posso te cobrar algo que eu também não posso cumprir. Lágrimas escorriam por meu rosto e ele segurou minha mão.
- Eu sei por quanto tempo você esperou por mim, mas eu tenho que pensar e você também, nós temos que deixar que o tempo nos mostre quem nós somos e podemos ser, até lá saiba que eu não vou te perder mais.
Suas mãos seguraram meu rosto e ele secou minha lágrimas, ele foi em direção a minha testa e com delicadeza ele a beijou.
Nossos olhos se encontraram e ao mesmo tempo nosso coração fez o mesmo.
Eu sabia que precisávamos pensar, mas aquilo me corroía por dentro, depois do tempo que eu não soube que ele estava vivo eu queria tanto tê-lo por perto, mas ele precisava desse tempo...
- Tudo bem, quando estiver pronto venha conversar comigo. Olhei em seus olhos e ele sorriu fraco.
Desapareci em seguida...
Meu coração estava apertado contra o peito era como se eu estivesse perdendo mais uma vez.
- Como foi? Indagou ele se aproximando silenciosamente.
Eu não conseguia esconder a dor que eu sentia, mas cada parte do meu corpo ansiava para voltar a Dastan, meu coração parecia bater fraco e a única coisa que eu conseguia fazer era deixar que as lágrimas que queimavam meus olhos, escapassem.
- Ele me pediu um tempo para pensar. Disse em meio às lágrimas.
- Vocês passaram por muita coisa, acho que esse é o melhor.
- Pode ser...
- Ei, Porquê está com essa cara? Ele está vivo.
- Você está bem? Indaguei olhando para seu rosto pálido, sem me importar com o que eu estava sentindo.
- Claro que estou, já disse que não importa com quem você esteja eu só quero que seja feliz, nada mudará o fato que eu te amo.
- Você diz isso tudo de uma forma tão clara que parece que está brincando com a minha cara. Enxuguei as lágrimas do rosto, enquanto ele me olhava sorrindo.
- Você é complicada, eu sou simples, não preciso esconder meus sentimentos por você, para mim falar sobre isso é algo normal.
- Morte...
- Não fique com essa cara, aproveite esse tempo para pensar também.
- Vou fazer isso.
- Vai voltar para o castelo?
- Ainda não me decidi, ele já está vazio, mas vou me sentir estranha estando lá.
- Você não ficará sozinha, eu vou te visitar toda noite e se não quiser ir a nossa casa sempre estará lá, do mesmo jeito que você a deixar.
- Eu realmente preciso pensar.
- Vou te deixar para que faça isso, até mais tarde!
- Até.
Novamente eu estava sozinha com meus pensamentos, depois de tudo aquilo eu nem havia me dado conta completamente, eu estava livre, eu era livre para viver sem a maldição sobre meus ombros.
Fechei meus olhos e respirei fundo, me deitei sobre o chão úmido e deixei que o vento brincasse com meus cabelos.
Eu olhei para o céu e ele estava azul como eu nunca tinha visto antes, ou quem sabe tudo tivesse se tornado cinza por tanto tempo que agora as cores me surpreendiam.
Eu fui até a cabana e fiz as malas, eu era livre agora.
Deixei um recado para Cam e para Morte: "Volto quando meu coração decidir que está na hora de voltar. Vou para algum lugar, nem mesmo sei para onde, me sinto livre pela primeira vez!
Até outro dia!
Luna..."

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora