Capítulo 71: O quanto pode doer?

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Eu estava totalmente desolada, não conseguia acreditar que um dia o tive em meus braços e agora lá estava eu em seu funeral.
Todos estavam chorando eu não conseguia olhar nos olhos de nenhum deles.
A chuva caía sobre minha pele, o mundo parecia ter perdido a cor e a vida assim como ele.
Seu caixão era fechado, ninguém pode ver seu corpo por sua infecção ser contagiosa.
- Hoje estamos aqui, para dar o último adeus a Dastan, amado filho, irmão e amigo, tudo tem um começo um meio e um fim, essa não é nossa vontade, mas ele se foi e sei o quanto ele era amado por todos vocês aqui, cinza as cinzas, pó ao pó, a fina linha da vida foi cortada, o que era vivo agora teve fim. A voz do Padre ecoava.
Morte estava ao meu lado assim como Cam eles permaneciam em silêncio.
Sequei as lágrimas do rosto e caminhei até o caixão carregava em minhas mãos duas rosas, as coloquei sobre a tampa do caixão e encostei minha testa na superfície de madeira.
Me afastei com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Eu já tinha me despedido e precisava sair dali.
Abri um portal e o atravessei sem saber para onde ia e sem olhar para trás.
Me deparei com uma floresta, uma floresta desconhecida por mim, haviam altos pinheiros, era dia, mas as árvores encobriam a luz, estava chovendo, a chuva era fina e gélida assim como o meu coração, ou o que sobrará dele.
Andei por um tempo entre as árvores, tentando saber onde estava.
Arrastava o maldito suporte de oxigênio no chão.
Era a primeira vez que ficava sozinha naquele dia e era isso que eu precisava, ficar com a minha própria companhia, chorar até que não houvesse mais nenhuma lágrima e a dor diminuísse um pouco.
Me sentei em baixo de uma árvore e imagens de Dastan vieram em minha cabeça, como doía lembrar daquele seu sorriso, ou dos seus olhos azuis escuros me encarando.
Meu peito se inundou com uma tristeza avassaladora, eu queria ter morrido no lugar dele, como aquilo doía e doía como nada antes tinha doído, aquilo me lembrava a morte dos meu pais, eu era nova, mas demorei para aceitar que aquilo tinha acontecido. Por muitos meses corria até a porta toda vez a campainha tocava achando que eles apareceriam dizendo que tudo foi um terrível mal entendido, me iludir por muito tempo fez a ferida aberta se cicatrizar, mas agora a ferida foi aberta, rasgada, estraçalhada...
Aquilo doía tanto, que até com a máscara era difícil respirar.
Tudo o que eu queria era vê-lo pela última vez, beijar seus lábios mais uma vez, sentir seu cheiro uma vez mais e dizer a ele o quanto o amava.
Me perdi entre meus pensamentos, algo em mim havia se quebrado por completo, eu estava me perdendo, minha mente vacilou, minha parte sombria estava adormecida pela enorme dor e sofrimento que eu agora passava, mas sentia sua vontade de me dominar, ela pulsava dentro de mim.
Eu não conseguia parar de chorar, a chuva aumentou e eu me encolhi junto ao tronco da árvore.
Fechei meus olhos e deixei o que o destino guardasse para mim acontecer, me senti esgotada, meu corpo movido pelo extremo cansaço e a insônia da noite, relaxaram e eu adormeci embalada pelo som da chuva caindo e das batidas do meu próprio coração.

[...]

- Luna? Eu estou aqui.
Morte me pegou em seus braços e olhou para meu rosto.
- Eu achei ela. Gritou Morte.
Pude ouvir o som de passos vindo em nossa direção e pude ver o rosto de Cam.
Meu corpo começou a tremer, meus dentes batiam.
Morte tirou a jaqueta de couro que usava e colocou sobre meus ombros descobertos.
- Você não pode fazer isso, sumir desse jeito, nós entendemos que quer ficar sozinha, mas ficamos preocupados. Disse Cam se aproximando.
- Vamos te levar para um lugar calmo, por um tempo.
Morte olhou para as faixas que cobriam os ferimentos da minha mão, pude ver que ele se lembrou do momento que viu o que tinha causado aqueles cortes.
Ele tirou o cabelo que estava colado em minha testa por causa da chuva e beijou docemente.
Não importava qual lugar estaríamos indo, eu queria ficar sozinha.
Morte me segurou com apenas uma mão e com a outra segurou o braço de Cam.
- Cara, isso é muito estranho, nunca vou me acostumar com isso.
A escuridão tomou meus olhos por meio segundo e então me encontrei no último lugar que eu poderia imaginar, a casa de Cam.
Meu olhar foi direto não para casa de Cam mais sim a casa onde Dastan tinha morado antes.
Engoli minhas lágrimas assim como as minhas lembranças.
Olhei para minha antiga casa, era branca com a mesma porta vermelha que eu já tinha entrado milhões de vezes, as rosas perto da janelas da sala de estar e da sala de jantar estavam quase mortas.
Morte caminhou até a porta e ao lado de Cam, que estava totalmente em choque e passava as mãos freneticamente pelos cabelos.
O dedo de Morte foi até a campainha que tocou e pude ouvir passos lentos se aproximarem da porta. A porta se abriu e os olhos de Bob não acreditaram no que viam.
- Helena. Gritou ele colocando a mão na boca em seguida.
Helena com a mesma lentidão de Bob se aproximou e arregalou os olhos.
Os dois estavam chocados e olhavam para nós dois.
- Cam. Gritou Helena abraçando o filho.
Bob se aproximou e envolveu Cam e Helena em seus braços.
- Oi mãe, oi pai. Disse Cam com a voz de choro.
Os dois continuavam a abraçar Cam.
Depois de uns dez minutos abraçando Cam, Bob olhou pra mim.
- Luna?  Disse Bob vindo em minha direção secando as lágrimas dos olhos.
Helena se aproximou enxugando as lágrimas assim como Bob.
- Você está bem? Indagou Helena segurando meu rosto.
- Estou. Disse com a voz fraca.
- Por quê está usando essa máscara de oxigênio? Você está tão fria e o seu cabelo está branco!
- A história é muito longa.
Helena abraçou novamente Cam, suas lágrimas escorriam pelo rosto.
- Por quê fugiram? Indagou Bob.
- E quem é esse? Helena apontou para Morte.
- M...
- Max. Interrompi Cam antes que ele dissesse algo que seria ainda mais difícil de explicar.
- Max? Indagou Morte baixo perto do meu ouvido.
Assenti.
- Vamos entrar, vocês tem muita coisa para nos explicar. Disse Bob abrindo a porta.
A casa continuava a mesma, mas Bob e Helena tinham mudado, tinham envelhecido por causa do sofrimento que haviam passado.
Meus dentes bateram.
- Querida, você está bem?
- Só estou com um pouco de frio.
- Você está totalmente encharcada, vá tomar um banho, Max, suba por essa escada a segunda porta é o quarto da Luna, está do mesmo jeito que você deixou. Helena sorriu com lágrimas nos olhos.
- Cam, você pode vir aqui um pouco? O chamei.
Ele se aproximou.
- Não conte nada a eles, por enquanto, eu quero explicar isso para eles.
Ele assentiu e voltou a se sentar ao lado de Bob e Helena no sofá.
Morte me puxou para mais perto e subiu a escada comigo em seus braços. 
Fotos estavam espalhadas pela casa, fotos de "família".
- Agora é estranho ver uma foto sua com os cabelos escuros. Disse Morte rindo e apontando para uma foto que eu estava sentada na grama lendo um livro, aquela foto assim como as outras na parede me trouxeram grandes lembranças, lembranças de um tempo no qual tudo de certa forma era "normal".
Abaixei a cabeça.
- Eu sei que está difícil, mas eu não quero que fique assim, eu preciso que você fique bem.
Paramos em frente a porta e Morte me colocou no chão.
Tirei a máscara do rosto e entreguei para ele.
- Você vai ficar bem sem ela? Indagou Morte erguendo a máscara.
Assenti.
- Vou te esperar lá em baixo.
Concordei fechando a porta.
Olhei ao meu redor o quarto era o mesmo, mas eu não me sentia mais em casa ali, parecia que tinha sido em outra vida a última vez que estive ali.
Então eu olhei a janela e ali minhas lembranças dele retornaram mais fortes do que antes.
Me lembrei da nossa troca de olhares, da conversa através dos papéis.
Meu peito se inundou de dor, olhar para aquilo tudo e conseguir ficar ali foi a coisa mais difícil que já tinha acontecido, era difícil acreditar que aquilo tinha mesmo acontecido.
Minhas mãos tocaram no vidro gélido da janela, lágrimas escorreram pelo meu rosto vendo aquele quarto vazio e imaginando que ele estava ali.
Como era difícil, me afastei da janela andei de costas até me chocar com a porta, me sentei colocando a cabeça apoiada nos joelhos.
- Eu sinto tanto a sua falta, eu não aguento viver sem você, queria ter ido com você. Dizer aquilo era como ser apunhalada no peito.

A Maldição da Lua Vol: 2 Entre a Lua e o SolOnde histórias criam vida. Descubra agora