Anvil In The Mind

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Quando eu senti vontade de comer, desci as escadas e sentei-me à mesa de jantar. Não havia nada sendo servido e não havia ninguém por perto. Será que eu tinha chegado tarde demais?

- Oh, senhorita... - me assustei quando vi a nova governanta. - Tão cedo, e acordada?

Só então me dei conta de que era um pouco depois do nascer do sol. Era inacreditável pensar que o caso de Bryan havia realmente acontecido hoje, há poucas horas. Era mais inacreditável ainda a forma como eu estava tão calma.

Afinal de contas, qual era o meu problema?

- Não consegui dormir direito - sorri forçado para ela. A verdade era que eu não conseguiria dormir novamente em tão pouco tempo.

- Ah, entendo - ela assentiu. - A senhorita... Quer que o café da manhã lhe seja servido?

Assenti.

- E é só Aimee, por favor.

- Como quiser, Aimee - ela se retirou. A nova governanta não parecia ser tão ruim, mas ainda assim meu coração sentia falta de Dorothea. A leveza de suas palavras quando eu cometia algum erro drástico, atormentada pela morte da minha mãe, eram como um cobertor macio, e eu queria dormir sempre nele. Dorothea era a única que eu confiava naquela casa, e agora ela se foi. Assim como todos que eu amo vão embora.

Minha mãe, minhas amigas, meus amigos fantasmas, meu pai, Dorothea, Jungkook...

Espero de coração que Jungkook esteja bem.

Me sinto sozinha. Sem fantasmas para conversar, importunar, ou contar meus segredos, sem alguém para ser meu amigo. Estou sozinha novamente, enfrentando sozinha meus problemas, como sempre.

Depois que as empregadas serviram meu café da manhã, comecei a comer lentamente, saboreando o gosto da panqueca.

- A princesinha está acordada? - escuto uma voz familiar, mas não viro a cabeça para olhar quem é. James senta-se a minha frente e diz a empregada que também quer comer, fazendo a mesma sair do espaço em passos apressados. Continuo a comer silenciosamente, ignorando sua presença. - Vai me ignorar, Aimee? - continuo comendo. Escuto um suspiro pesaroso e então ele diz: - Okay. Me desculpe pelo que eu quase fiz a você no seu quarto.

Parei o garfo meio caminho a minha boca e o repousei no prato, pensando no que deveria falar. Minutos se passaram, tempo suficiente para a empregada voltar com o café da manhã de James e sair. A verdade era que eu não sabia o que fazer, eu poderia simplesmente fingi que o desculpava e me livrar dessa conversinha, mas os acontecimentos anteriores encheram minha cabeça, e tornaram um falso "está desculpado" em uma enorme bigorna, pesando em minha mente.

- Um simples pedido de desculpas não vai resolver, espero que esteja ciente.

Ele mastiga e engole a panqueca.

- Eu sei - concorda. Sinto que ele tem algo que quer contar, mas não sabe como formular certamente em sua cabeça, por isso, eu espero, comendo silenciosamente. - Eu nunca quis que Suzan se casasse com Nicolas.

- Que coincidência. Eu também não - resmunguei.

- Silêncio, preciso ser rápido antes que algum dos dois chegue! - ele segurou com força os talheres. - Você pode achar que Suzan deve ser só mais uma interesseira no dinheiro do seu pai, mas o meu pai tem uma empresa de nível maior. Juntos eles uniram suas forças com um casamento arranjado, típico. Suzan não ficou muito feliz com isso, mas ela teve que encarar a realidade, sei que ela parece ser uma piranha miserável, mas no fundo, sei que ela é uma boa pessoa.

Parei. Eu não fazia ideia de que era realmente isso que se passava. Pensava que ela era uma golpista que tentaria tirar todo o dinheiro do meu pai, mas eu não sabia que se tratava de um casamento arranjado. E de qualquer forma, eu nunca tinha perguntado diretamente a Nicolas.

Ghost (EM REVISÃO)Onde histórias criam vida. Descubra agora