Eu também sou mulher! - [Pausado]

Zero

Eu queria fugir, para longe e me perder de vista. Eu queria fugir de mim mesma, do meu próprio preconceito.

- "Eu me odeio."

Cada vez que eu dizia aquilo, em frente aquele espelho rachado do banheiro velho e empoeirado do mesmo quarto alugado, reabria as feridas expostas pela minha madrasta, em suas tantas humilhações feitas a esta pessoa agora solitária, que encara o espelho com desgosto vendo alguém gorda, de cara inchada depois de um dia de trabalho e com a maquiagem borrada.

Aquele domingo passado foi a última vez que visitei o meu pai, e não esqueci de cada ofensa que recebi dela só por abraça-lo na porta de minha ex-casa e minha ex-vida.

Faz seis anos que não o via e a saudade era demais, mas, aquela megera era insuportável e conseguiu me tirar do sério.

Terça-feira sendo agora umas 18hrs, resolvi tomar um banho e fazer algumas compras, era quente em pleno janeiro, e minha cabeça explodia em dor pela semana conturbada que a empresa teve com a saída do antigo gerente do shopping e a chegada de um novo qualquer e já criando conflito quanto a organização, limpeza e multas por atrasos do aluguel das lojas.

Todo mundo só falava desse cara, eu como nunca me liguei em burocracia das empresas, sempre segui as ordens dos meus chefes sem hesitar, e no dia que ele veio, cada loja teve que fazer uma faxina geral, porque o cara detesta pó, pois é alérgico.

Meu quarto fica no segundo andar de frente para avenida principal no centro da capital; coloquei uma calça de abrigo cinza, e uma camiseta da princesa Daiana branca com o rosto dela, larga demais. Odeio roupas que me apertem! Coloquei um chinelo, descendo as escadas enquanto prendia aquela minha juba enorme, quando vi minha querida "vó", emprestada, varrendo a entrada da pensão.

Abracei ela por trás.

- Quer alguma coisa do mercado vó?

Ela se virou para mim sorrindo segurando minhas mãos.

- Não minha filha, apenas vá com cuidado tá? - Sorri.

- Sim eu terei.